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quarta-feira, 19 de abril de 2017

Aliados sabiam de campos de concentração nazis e não fizeram nada

Holocausto

Aliados sabiam de campos de concentração nazis e não fizeram nada


A entrada do campo de concentração de Birkenau, em Auschwitz
Foto: REUTERS /Agency Gazeta/Kuba Ociepa
JN - 19 Abril 2017

Milhares de arquivos divulgados esta terça-feira revelam que os Estados Unidos, o Reino Unido e a União Soviética tinham conhecimento do Holocausto nazi dois anos e meio antes da descoberta dos campos de concentração, durante a II Guerra Mundial.
Os documentos secretos até agora guardados pela Comissão de Crime de Guerra das Nações Unidas datam do ano 1943 e estão a ser disponibilizados ao público pela primeira vez, pela Biblioteca Weiner, sediada em Londres.
Os arquivos mostram que os governos do Reino Unido, dos Estados Unidos e da União Soviética já preparavam acusações de crimes de guerra contra o Hitler em dezembro de 1942, depois de terem tido conhecimento de que cerca de dois milhões de judeus já tinham sido assassinados e outros cinco milhões estavam em risco de vida. Contudo, na altura pouco fizeram para tentar resgatar ou providenciar um lugar seguro para os judeus em perigo.
Dan Plech, professor no Centro para Estudos Internacionais e Diplomacia na Universidade de Londres e autor do recente documento "Human Rights After Hitler: The Lost History of Prosecuting Axis War Crimes", afirma que os aliados começaram a elaborar acusações de crimes de guerra com base em testemunhos dos campos de concentração e dos movimentos de resistência em vários países ocupados pela Alemanha nazi.
Os documentos registam um conjunto vasto de provas pouco tempo depois da fundação da Organização das Nações Unidas (ONU), em janeiro de 1942, demonstrando que a violação e a prostituição estavam a ser consideradas nos processos de acusação como crimes de guerra, em tribunais distantes como a Grécia, as Filipinas e a Polónia no final da década de 1940.
Entre os documentos estão também relatos recolhidos pelo Governo polaco no exílio - ainda antes de os aliados derrotarem os nazis - com descrições detalhadas sobre o que se passava nos campos de concentração de Treblinka e Auschwitz.
Howard Falksohn, da Biblioteca Wiener, antecipa um "enorme interesse" histórico por documentação que inclui "ficheiros PDF, alguns com mais de duas mil páginas". E acredita que, com estas "novas provas", vai ser possível "reescrever capítulos cruciais da História".
A Biblioteca de Wiener foi fundada em 1934 em Amesterdão por Alfred Wiener com o objetivo de monitorizar o antissemitismo. Nas vésperas da II Guerra, Wiener enviou todo o seu espólio para Londres e colaborou com o governo britânico para dar informações sobre o regime de Hitler. Mais tarde também ajudou na obtenção de provas para os Julgamentos de Nuremberga.
Embora a informação dos arquivos já seja conhecida há largos anos pelos investigadores e historiadores, os arquivos eram de acesso restrito ao público. Até mesmo pesquisadores da ONU tinham que apresentar pedidos especiais de acesso através dos seus governos.
 
Ovar, 19 de Abril de 2017
Álvaro Teixeira