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sexta-feira, 14 de julho de 2017

A aberração que condenou Lula



por estatuadesal
(Daniel Oliveira, in Expresso Diário, 14/07/2017)
Autor
          Daniel Oliveira
Lula da Silva foi condenado a nove anos de prisão e 19 de interdição de concorrer a cargos políticos, o que garante o maior objetivo dos que se lhe opõem: impedi-lo de concorrer às eleições presidenciais do próximo ano, para as quais é claro favorito. Segundo uma sondagem da Datafolha terá 30%, o candidato de extrema-direita Jair Bolsonaro (que agrega os mais ativos apoiantes da conduta do juiz Sérgio Moro) 16% e Marina Silva 15%.
Tudo, neste processo, é absurdo. Pelo menos para nós. Desde ver quem investiga e acusa a julgar, até ao estranho comportamento do juiz. Em quantos países com um Estado de Direito a funcionar plenamente um juiz que tenha nas mãos um processo como o Lava-Jato grava um VÍDEO para agradecer aos fãs o apoio que lhe têm dado e assim celebrar um ano da página de Facebook criada pela MULHER para receber apoios e solidariedade? O que revela isto de um magistrado?
O vídeo foi, aliás, reproduzido esta semana pela popular página “JUIZ SÉRGIO MORO O BRASIL ESTÁ COM VOCÊ”, que vale a pena visitar. Com mais de um milhão de seguidores, o que dá bem o retrato dos mais ferozes apoiantes do magistrado, por lá se defende a ilegalização dos sindicatos, a exigência de que só pessoas com formação superior possam ser eleitas para o Congresso e a pena de morte para corruptos. A página não é do juiz mas dá um bom retrato do movimento antidemocrático que rodeia todo este processo.
Mas hoje não me quero dedicar à leitura política deste caso. Prefiro ficar pela SENTENÇA que condenou Lula da Silva. Ela é penosa de ler. Dói de tão mal escrita, confusa e desorganizada. Uma boa parte é dedicada à sua própria defesa, o que é natural para um juiz que se envolveu mais num combate político do que na administração da justiça. Até se permite fazer elogios ao governo do PT, por este ter criado instrumentos para a perseguição da justiça, como se uma sentença fosse um artigo de opinião política. Ao ler esta sentença percebe-se que falta a alguns magistrados a maturidade e seriedade para os usar para os fins que existem. Lula é condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, no âmbito de um processo em que estava acusado de ter beneficiado a OAS em contratos com a Petrobras, recebendo um apartamento triplex remodelado na praia do Guarujá, no estado de São Paulo.

terça-feira, 11 de julho de 2017

Galpgate: ou há moral ou comem todos



por estatuadesal
(Daniel Oliveira, in Expresso Diário, 11/07/2017)
Autor
                       Daniel Oliveira
(Daniel Oliveira partilha e amplifica a indignação que já aqui tínhamos manifestado num texto que publicámos - e para o qual ele remete -, quanto à dupla bitola que o Ministério Público usa quando acusa agora os políticos, tendo os senhores procuradores em tempos beneficiado do patrocínios de empresas privadas para realizarem os seus congressos.
Estátua de Sal, 11/07/2017)

Já aqui escrevi que há um lado positivo no chamado, talvez com algum exagero, Galpgate: os decisores perceberem que as regras, no que toca à relação com empresas sobre as quais tomam decisões, são estritas. Porque o secretário de Estado aceitar uma viagem e um bilhete para a bola não afeta nada as decisões que tem de tomar, mas revela uma intimidade que tem de ser inibidora. Por isso não, não concordo com a posição de muitos quando tratam este caso como absurdo. O nacional-porreirismo não é uma forma de corrupção mas é sinal de relaxamento ético que facilmente torna as relações institucionais excessivamente informais.
Escrever isto não é defender que os três secretários de Estado cometeram um crime, como parece acreditar o Ministério Público. Tenho mesmo dificuldade em imaginar onde vão desencantar o dito crime. Espero que estejam seguros do caminho que estão a trilhar ou será inevitável que cresça a ideia de que há, em alguns sectores da justiça, uma má vontade com uma parte dos políticos. Porque era evidente que a partir do momento em que Jorge Costa Oliveira, João Vasconcelos e Rocha Andrade fossem constituídos arguidos não poderiam ficar no governo. A antecipação é, aliás, das poucas coisas inteligentes que o governo fez este mês.
Apesar de ter muitas dúvidas sobre a criminalização do comportamento eticamente condenável dos secretários de Estado mas de achar que a moralização da vida política passa por reforçar o cordão que separa o poder político e poder económico, é fundamental perceber se há uma perseguição judicial e ética seletiva. Porque se há, o assunto passa a ser esse.
Quanto à questão judicial, quero perceber se o atual e o próximo líderes parlamentares do PSD também vão ser constituídos arguidos ou continuar a ser investigados. Os que apareceram na bancada VIP, que as empresas costumam reservar, não tendo por isso seguramente comprado aquele bilhete. Que viajaram pela agência de Joaquim Oliveira, que trabalha para a Federação Portuguesa de Futebol, mas juram ter sido eles a comprar o bilhete. Não me levem a mal, mas quando uma coisa parece ser exatamente igual a outra e dá sinais de ter sido corrigida depois de rebentar a bronca não me chegam formalismos, quero investigações sérias. Enquanto isto era apenas um escândalo mediático aceitavam-se justificações pouco credíveis. Se é para ser crime, exijo, como cidadão, que todos sejam investigados.
Quanto à perseguição ética, nem saberia por onde começar. A razão pela qual a comunicação social, em contraste com o que tem sido habitual, está relativamente sóbria em relação a este tema é simples: a generalidade dos órgãos de comunicação social aceitam viagens e outro tipo de ofertas de empresas sobre as quais escrevem. Os mais sérios declaram-no no fim dos artigos, quando essas viagens ou ofertas servem para fazer trabalhos, os outros não. Vão os jornais que noticiaram esta viagem fazer um levantamento sobre o que é e não é aceitável fazer na sua própria casa? Interditar a aceitação de qualquer viagem se não tiver como fim um trabalho específico? Debater se mesmo para fazer reportagens devem aceitar viagens pagas por instituições privadas? E públicas? A minha ida às convenções Democrata e Republicana, para escrever vários trabalhos para o Expresso, foi financiada pela FLAD (uma instituição pública que tem essa função nos seus objetivos) e isso estava declarado nos trabalhos publicados. Não sei se aceitaria fazê-lo se o financiamento fosse privado e sei que nunca aceitei qualquer tipo de oferta ou viagem que não fosse institucional (para o órgão de comunicação em que trabalhasse) e exclusivamente para fins de trabalho. Mas gostava que houvesse um debate entre os jornalistas para serem claras as fronteiras e cada um não agir segundo os seus próprios limites éticos. Querem os jornalistas, enquanto classe, definir regras e dá-las a conhecer? Ou a clareza das regras é só para os políticos?
Se o problema é, como parece ser, um conflito de interesses, apesar de não levantar questões legais, tenho de perguntar se o conflito de interesses e falha ética não se aplicam ao patrocínio de atividades dos próprios magistrados do Ministério Público por empresas que podem ter – e muitas delas têm – importantes processos a correr na justiça. É que, tal como nos recorda o blogue Estátua de Sal (https://estatuadesal.com/2017/07/10/e-nao-houve-recebimento-indevido-de-vantagens/), o Sindicato dos Magistrados do Ministério Público viu o seu IX Congresso, em 2012, patrocinado pelo Banco Espírito Santo, Montepio Geral, BPI e CGD, só para me ficar pela banca. Isso afeta a independência dos magistrados associados ou dirigentes do sindicato? Tanto como a ida de Rocha Andrade a França.
Mas se é para sermos puristas comem todos: os líderes parlamentares (atual e próximo) do PSD que aceitaram bilhetes e foram a correr pagar quando a coisa se soube, os órgãos de comunicação social que têm como hábito aceitar viagens pagas e os magistrados Ministério Público que aceita patrocínios de empresas para os congressos do seu sindicato quando os seus associados estão envolvidos em processos contra essas empresas. Estão todos dispostos a seguir este novo caminho de moralização ou a ética é só para os “malandros dos políticos socialistas”?

A quinta coluna



por estatuadesal
(In Blog O Jumento, 11/07/2017)
vergonha

O centro direita não se sente muito motivado em apoiar Passos Coelho e as suas ideias, resta o cavaquismo vingativo e a direita mais conservadoras. Ainda que alguns acontecimentos recentes devam ser politicamente entendidos como meras coincidências, não deixam de ser coincidências levadas da breca. É o caso de algumas movimentações judiciais e da ridícula manifestação de oficiais na reserva.
Apareceu na TV um tal tenente coronel Tinoco, figura que pela linguagem me traz à memória um outro tenente coronel, o  tenente-coronel Antonio Tejero Molina que ficou célebre por ter comandado o assalto ás Cortes de Madrid na tentativa de golpe de Estado conhecida por 23F. Ficámos a saber que a grandiosa manifestação em defesa da Nação contra os políticos contava com três manifestantes. É uma pena que a manifestação tenha sido desconvocada e em vez da farda de gala e depositar a espada, deviam ir de pijama e depositar a faca e o garfo, já que são esses os seu fardamento e armas atuais.
Se o golpe da direita militar caiu no ridículo com o Tinoco a explicar a tese da borboleta e o corajoso general demissionário a escrever um soneto para o Zé do Pipo cantar, resta ver até que ponto a justiça vai conseguir interferir na vida política, ainda que não nos passe pela cabeça que o MP tenha a intenção de mandar o princípio da separação de poderes para as urtigas. Tudo isto merece uma gargalhada, meia dúzia de caniches teriam guardado melhor o paiol de Tancos do que estes garbosos guerreiros, pelo menos teriam feito muito barulho, coisa que estes senhores só fazem depois da casa roubada.
Quando o país começou a questionar a omissão de informação importante por parte do MP no caso do assalto a Tancos, eis que o mundo da justiça lança outro incêndio apetitoso na comunicação social, o grande caso de combate à corrupção conhecido por Galpgate. Parece que a troco de nada muitos portugueses foram a Paris ver um jogo de bola a convite da empresa patrocinadora da seleção nacional, algo que, como se sabe, nunca aconteceu em Portugal.
O curioso disto é que até pessoas que não foram a Paris foram chamadas a depor. Não se percebe muito bem a que título o presidente da autarquia de Lisboa foi chamado, supostamente o MP tem a lista e não vai chamar todos os autarcas a depor. Porque motivo o MP não chamou o autarca de Freixo de Espada à Cinta ou o da minha terra, que passa avida a ir a Cuba? Imagino como seria bom para a direita se Medina desistisse da candidatura e fosse constituído arguido, enfim, temos pena.
Mas a cereja em cima do bolo destas coincidências entre política e manobras judiciais vai ser algo que já foi notícia, os investigadores do Caso Marquês prometem a acusação para a Agosto, isto é, a tempo das eleições autárquicas. Enfim, a investigação do Caso Marquês começa e acaba sincronizada com atos eleitorais. Não sei se a Procuradora Geral acredita em bruxas como eu, se assim for devia jogar no Euromilhões.

segunda-feira, 10 de julho de 2017

E não houve “recebimento indevido de vantagens”?



por estatuadesal
(Por Estátua de Sal, 10/07/2017)
sindicato-mp-partners


De 1 a 4 de Março de 2012 o Ministério Público organizou no Algarve, Vilamoura, o seu IX Congresso, para o qual obteve patrocínios de empresas privadas variadas, e que passamos a elencar de acordo com a lista dos patrocinadores oficiais que consta do prospeto do evento, no site do Sindicato do MMP (Ver aqui) :
1. Banco Espírito Santo
2. Montepio
3. Caixa Geral de Depósitos
4. Cisco
5. Delta Cafés
6. Coimbra Editora
7. Império Bonança
8. BPI
Devido à diversidade das empresas estou em crer que alguma, ou algumas, deveriam ter, à época, na Justiça algum processo em vias de investigação ou decisão. Logo, a minha pergunta é esta? Não haveria aqui conflitos de interesses latentes que aconselhassem os senhores procuradores a evitar receber dessas empresas benefícios económicos que pudessem vir a ser considerados pela opinião pública como uma pressão sobre a justiça nesses casos em apreciação?
E mais. Não fizeram a coisa por menos. O evento decorreu num dos hotéis mais luxuosos do Algarve e o programa social incluía, SPA, massagens revigorantes e até um cruzeiro pela costa algarvia. Quem pagou? Os senhores magistrados? Não, me venham dizer que os patrocinadores só pagaram os amendoins.
E não houve aqui "recebimento indevido de vantagens", o tal crime de que agora querem acusar os ex-membros do governo que foram à bola no Europeu de 2016? A leis que valem e são aplicadas com zeloso ímpeto aos políticos não se aplicam às magistraturas?
Parece-me que o princípio constitucional que consigna a separação de poderes entre órgãos de soberania anda a ser utilizado pela Justiça para se colocar num pedestal de impunidade e de autismo, de onde só desce à terra quando quer fazer greves e pedir aumento das suas remunerações - já elevadíssimas em relação à média do país.