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quinta-feira, 8 de junho de 2017

A coroa de louros



por estatuadesal
(In Blog O Jumento, 08/06/2017)
rei_coelho

Depois de mais de um ano a dizer cobras e lagartos da gerigonça, de ter apelado ao Partido Popular Europeu, na sua reunião de Madrid, que boicotasse a solução política portuguesa, recusando o OE de 2015 em Bruxelas. Depois de ter anunciado o diabo e uma prenda de reis, de ter prognosticado subidas dramáticas de juros, de ter desvalorizado a criação de emprego. Depois de ter assegurado que os investidores só regressariam a Portugal com um governo amigo dos investidores. Depois de tudo isto e muito mais Passos Coelho quer a coroa de flores do sucesso económico.
Mas, em vez de uma coroa de flores o líder do PSD e a sua equipa de extremistas correm um sério risco de serem acusados de demência e serem brindados com um colete de forças. Nesta questão de saber a quem se deve o sucesso económico a postura de Passos Coelho e dos seus está entre a demência e a esquizofrenia, num dia negam a realidade e no outro dizem que foi obra sua, se hoje dizem que o sucesso se deve às suas reformas no dia seguinte queixam-se de que é tudo propagada.
Quando alguém os acusa de terem adotado medidas brutais de austeridade dizem não terem sido os culpados, que foram obrigados em tudo o que fizeram, que todas as medidas e reformas estavam no memorando. Para não assumirem quaisquer responsabilidades vão ainda mais longe, apagam o inconveniente dr. Catroga da fotografia e dizem que o memorando foi obra exclusiva de José Sócrates.
Mas, na hora de ficarem com os louros, as medidas que já constavam no memorando de entendimento deixam de ser milagrosamente da autoria de Sócrates para serem resultado do ímpeto reformador de Passos Coelho. De um momento para o outro deixa de existir Troika e memorando, tudo foram reformas saídas da cabeça iluminada de Pedro Passos Coelho.
Mas o pior é que estamos perante pura imbecilidade, só um paspalho pode pensar que os eleitores vão atribuir o que sucedeu durante o governo de Passos a António Costa e elogiar Passos pelo trabalho do atual governo.
Passos Coelho não se deu ao trabalho de fazer oposição convencido de que o governo cairia, recusou-se a apoiar o país na elaboração do OE, negando-se a apresentar propostas, e ainda no ano passado enquanto o parlamento discutia o projeto de OE, Passos Coelho optou por montar uma fantochada orçamental, numa espécie de reunião do governo no exílio em Albergaria-a-Velha. Não hesitou em votar favoravelmente propostas do BE e do PCP sempre que julgou que assim boicotava a política económica do governo.
E agora dizem que o sucesso económico é obra deles?  Vão mas é apanhar gambuzinos …

quarta-feira, 7 de junho de 2017

O KO no Gomes Ferreira


(Por Estátua de Sal, 07/06/2017)

costa_entrevista

Estive a ver a entrevista a António Costa. Em grande forma. O pafioso Gomes Ferreira até trazia gráficos para provar que o déficit desceu à séria com Passos, e que a economia já estava a crescer quando o Passos foi à vida para ocupar o cargo de primeiro-ministro no exílio. Ou seja, o Gomes Ferreira queria provar que o bom sucesso atual da economia portuguesa é da responsabilidade do Coelho e não deste governo.
Pois tenho que reconhecer que António Costa, com o qual nem sempre concordo mas que reputo ser um dos poucos políticos sérios deste país, é também um político muito hábil. Respondeu ao Ferreira com a citação do que este lhe tinha dito, à um ano, quando também o entrevistou na SIC. E nessa altura, Ferreira dizia a Costa que o país estava à beira do abismo, que a política seguida era uma catástrofe, tal como também o dizia o Passos. Ou seja, se o país estava tão mal como eles diziam, se a política seguida era tão horripilante, como podem os bons resultados ser da responsabilidade do governo anterior e não deste?
Em suma, o Ferreira queria provar três teses:
1. Que o país não está tão bem como António Costa pensa que está.
2. Que mesmo naquilo em que está melhor, o mérito é de Passos Coelho!
3. Que a austeridade continua, na prática, ainda que o governo queira fazer crer que já acabou.
António Costa esteve à altura. Desmontou os argumentos do Ferreira com grande argúcia e inteligência, mesmo que o entrevistador possa ter alguma razão, nalguns dos tópicos que avançou. Só que, Ferreira perde toda a razão quando usa esses tópicos para engrandecer as políticas pafiosas e desmerecer os méritos do actual governo.
Um entrevistador deve ser isento e tentar pôr o entrevistado a falar e a comunicar as suas opções e opiniões, respondendo a perguntas pertinentes. Ferreira não faz entrevistas, faz debates. Como se fosse candidato a uma qualquer eleição e tivesse António Costa como seu adversário político. É como se o árbitro fosse também ele jogador, calçando chuteiras e tudo.
O problema é que as chuteiras do Gomes Ferreira são alaranjadas com umas listas azuis, as cores pafiosas. E ele nem sequer faz questão de o esconder. Antes de entrar em campo deve telefonar ufano a Passos Coelho e dizer: "É hoje, vou dar cabo dele". Só que, mais uma vez, foi á tosquia e saiu tosquiado.

Testemunhos para memória futura


por estatuadesal

(In Blog O Jumento, 07/06/2017)
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António Mexia

Mal rebentou o caso EDP Passos Coelho apressou-se a limpar-se declarando que o seu governo tinha sido o único a baixar as rendas da energia elétrica; depois dele o Sor Álvaro, ministro da Economia até que o Portas correu com ele para promover Pires de Lima, também veio a público fazer o seu autoelogio, repetindo a declaração de Passos Coelho.
Mas vale a pena recuar a Março de 2012, nesse dia era anunciada a demissão de Henrique Gomes, o então secretário de Estado da Energia. À boa moda soviética uma fonte não identificada dizia à Lusa que a demissão se devia a «motivos de índole pessoal e familiar». Mas a TSF esclarecia que «Henrique Gomes tinha em mãos um plano com potencial para incomodar muita gente. O objetivo, imposto pelo acordo assinado com a troika, é reduzir as rendas que o Estado paga aos produtores no setor energético e que o secretário de estado classificava como «excessivas» [TSF]. Isto é, o secretário de Estado era demitido a pedido da EDP.
As causas da demissão foram abafadas e o PSD e o CDS chumbaram hoje uma proposta do PCP para ouvir no Parlamento o ex-secretário de Estado da Energia, Henrique Gomes, e o ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira. António Mexia terá festejado a saída do governante com champanhe; quem o declarou foi o Sor Álvaro num livro que escreveu mais tarde “Sei que a saída de Henrique Gomes do Governo causou polémica e sei mesmo que houve até produtores de energia que chegaram a celebrar com champanhe a sua partida” [Expresso]. O que ele não explicou foi porque razão não teve a coragem de defender o seu secretário de Estado.
Para o lugar de Henrique Gomes foi Paulo Trindade e, coincidência das coincidências, em 2015 era notícia que «o pai do secretário de Estado da Energia, Artur Trindade, é consultor da EDP desde 2013, confirmou à Lusa fonte oficial da elétrica, na sequência de uma denúncia feita hoje pelo empresário Manuel Champalimaud.» [Jornal de Negócios]. Isto é, o rapaz não perdeu tempo, o mesmo sucedeu, aliás, com Maria Luís Albuquerque que meteu o marido a ganhar uns cobres na EDP.
É uma pena que o Sor Álvaro se tenha esquecido de esclarecer duas coisinhas, o motivo porque demitiu o seu secretário de Estado das Energia e que o corte das rendas feito pelo seu governo estava decidido no memorando com a Troika, mas ficou aquém do desejado. Aliás, o mesmo Henrique Gomes declarava em 2015 que "em vez do corte das rendas e redução de custos, o Governo aumentou os preços da energia aos consumidores" [Jornal de Negócios]. E quanto aos cortes nas rendas as suas contas diferem muito das do Sor Álvaro:
«Faz as contas para dizer que em vez dos cortes que o Governo reclama de 4,4 mil milhões de euros até 2020 nessas rendas, o que se conseguiu cortar foram 1.600 milhões, tendo conseguido, por outro lado, uma receita adicional com a contribuição extraordinária (CESE) de 200 milhões. "No total teremos 1.800 milhões que se contrapõem aos 4.400 milhões de euros que o Governo reclama", escreve o ex-governante.»
Longe de mim pensar que o Sor Álvaro também terá bebido Champanhe com Mexias ou que haja algo de corrupção no emprego do pai do secretário de Estado nomeado para o lugar do governante mandado sanear ou no lugar que do marido da ministra das Finanças conseguiu na EDP, já para não referir que a presidencia da EDP atribuída a Catroga, o negociador do memorando com a Troika em representação de Passos Coelho, tivesse algo de corrupto. Digamos que em tempo de crise e de cortes de rendimento se tratou de atos de generosidade por parte de Mexia. Ninguém terá mandado uma cartinha anónima para a PGR?


domingo, 4 de junho de 2017

A lamentável hipocrisia das três agências


por estatuadesal

(Nicolau Santos, in Expresso, 03/06/2017)
nicolau
A avalancha de dados positivos sobre a economia portuguesa que se tem sucedido nos últimos dois meses não comove as três grandes agências internacionais de notação financeira, cujos responsáveis, em declarações ao “Diário de Notícias”, não mostram nenhuma disposição para melhorar o rating que atribuem à dívida portuguesa (e que, em linguagem vulgar, é qualificado de lixo, ou seja, algo onde não se deve aplicar dinheiro), nem sequer o outlook, ou seja, a perspetiva, passando-o eventualmente de estável para positivo.
Os argumentos são os seguintes: “O rating pode subir se a consolidação orçamental e a redução da dívida acelerarem significativamente por comparação com as expectativas. Um crescimento económico muito mais forte seria também benéfico” (Moody’s). “É preciso perceber se esta recuperação é sustentável. Como o efeito base é muito baixo, qualquer pequena recuperação resulta num crescimento percentual muito elevado” (Standard & Poor’s). “Esperamos que a tendência pronunciada de redução do défice continue, mas a elevada dívida pública e a qualidade dos ativos bancários ainda pesam no perfil de crédito soberano de Portugal” (Fitch).
A economia portuguesa está bastante melhor. Até quando, senhores das agências, abusareis da nossa paciência, não reconhecendo esta evidência?
Ora, muito bem! A consolidação orçamental tem sido como segue: défices de 3% em 2015 (sem efeito Banif), 2% em 2016, previsão de 1,5% para este ano. E a tendência de queda vem de uns inacreditáveis 11,2% em 2010. O que será preciso para os senhores das agências reconhecerem que esta é uma tendência forte e consolidada? Segunda questão: o crescimento económico. Eis os dados: 0,9% (2014), 1,6% (2015), 1,4% (2016), 1,8% (previsão para 2017, mas o crescimento no primeiro trimestre de 2,8% aponta para um crescimento anual muito superior, podendo chegar aos 2,5% segundo o INE, mais que a média europeia). Há quem diga, contudo, que tudo está dependente do turismo. Não é verdade: as mercadorias explicam 70% do aumento das exportações. Terceira questão: a dívida. É muito elevada (130% do PIB). Mas o Governo prevê antecipar o pagamento de €7200 milhões ao FMI em 2018 e 2019 e até agora já foram reembolsados mais de €14.500 milhões do total de €26 mil milhões. Mais: como os senhores das agências saberão, um crescimento mais forte e acima do previsto, dá uma forte ajuda à redução da dívida em percentagem do PIB. Outra questão: a banca: alguém duvida que CGD, BES, BCP e BPI estão hoje mais sólidos do que em 2011 depois dos seus processos de recapitalização?
Concluindo: a economia portuguesa está indiscutivelmente melhor do que quando a nossa dívida pública foi classificada como lixo. Por isso, até quando, senhores das agências, abusareis da nossa paciência, não reconhecendo esta evidência? Resposta: até quando a sua hipocrisia entender, mesmo que os factos os desmintam todos os dias.

sábado, 27 de maio de 2017

O diabo só veio em maio



por estatuadesal
(In Blog O Jumento, 27/05/2017)


Passos Coelho tinha toda a razão, o diabo estava mesmo para vir. Mas veio atrasado, em vez de vir em Setembro de 2016, para anunciar um segundo resgate em consequência da execução orçamental de Agosto, veio em Maio. Mas em vez de se apresentar em São Bento, parece que o diabo preferiu como alojamento local a sede do PSD, na São Caetano à Lapa.
Passos estava convencido de que por esta ocasião já era primeiro-ministro e que poderia voltar a governar com o chicote dos credores, ameaçando tudo e todos e fazendo gato sapato do Tribunal Constitucional. Um segundo resgate ou a ameaça disso permitir-lhe ia impor o “ajustamento” ao setor privado, leia-se um corte brutal dos rendimentos e dos direitos do trabalho, governando sem regras e sem limites.
Mas o diabo trocou-lhe as voltas e a sua vida é agora um inferno, poderíamos dizer que de certa forma que o diabo lhe fez a vontade, se queria um inferno então que fique com ele. E o Passos que pensava que com meia dúzia de jantares de lombo assados com as mulheres social-democratas chegaria ao poder, arrasta-se agora penosamente sem saber quando é que se livrará da via sacra a que se condenou no dia em que em vez de se demitir da liderança do PSD optou pela pantominice do primeiro-ministro no exílio.
Passos teve aquilo a que se designa como azar dos Távoras, previu que os investidores fugiam e eles aparecem, garantiu que votava no PS se tudo desse certo e deu, previa um défice acima dos 3% e o país é elogiado pela Comissão que o livra do procedimento dos défices excessivos, previu uma subida incomportável dos juros e fala-se de uma melhoria no rating da dívida portuguesa.
Como se tudo isto fosse pouco sujeita-se a ouvir Marcelo, o tal a que designou por cata-vento, atribuir-lhe o mérito pela saída do procedimento dos défices excessivos. Depois de tanta humilhação Marcelo dá-lhe um presente envenenado, elogia-o por aquilo que não fez, pelos resultados que condenou, pelo sucesso de um governo que considerou ilegítimo.
Passos está comendo o pão que o diabo amassou, e, pior do que isso, o pão é-lhe levado à boca por Marcelo.
E ainda faltam não sei quantos meses para as autárquicas e mais dois anos para as legislativas, tanto tempo para que Passos se arraste, começou por se dispensar de fazer oposição e agora que a quer fazer não sabe como e com que argumentos. Queria que o diabo viesse e este fez-lhe a vontade.

Ovar, 27 de maio de 2017
Álvaro Teixeira