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quarta-feira, 8 de novembro de 2017

FMI desmente Passos: política da direita não beneficiou exportações

Geringonça


pcrio
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Um relatório produzido para o FMI por uma entidade independente veio desmentir uma componente crítica da narrativa que a governação da direita tentou impor nos últimos anos: a política seguida durante o período de ajustamento não foi responsável por qualquer crescimento das exportações.

Segundo o relatório do Independent Evaluation Office conhecido na quinta-feira, as exportações cresceram desligadas das políticas do Programa de Assistência Financeira. O que se observou, prosseguem os analistas, é que a correção da balança comercial foi feita essencialmente pela repressão da procura interna.

O crescimento das exportações, pode ler-se no relatório, deveu-se essencialmente à retoma da trajetória precedente interrompida pela crise internacional em 2009. Os analistas admitem a hipótese de um efeito residual de algumas empresas que tenham ficado sem mercado interno tenham procurado a sobrevivência no mercado externo.

EBServ

[FONTE: PORDATA] Clique na imagem para aumentar

No caso concreto de Portugal, o relatório chega a referir documentação anterior do FMI onde se defendia uma

correção gradual da balança de pagamentos: uma tentativa de correção abrupta seria “inadequada” e atiraria o

país para um longo período de baixo crescimento económico como implicaria uma quebra de rendimentos.

Assim, a auditoria conclui que o programa de ajustamento falhou onde era premente: na sustentabilidade da dívida

pública e numa correção sustentada da balança comercial. As críticas vêm dar suporte a muitos dos

argumentos defendidos pelos partidos da esquerda que as políticas dos últimos anos se limitaram a

reprimir os rendimentos dos portugueses não promovendo qualquer competitividade das nossas empresas.

Adicionalmente, os autores reforçam uma opinião já assumida pelo próprio FMI que uma reestruturação da dívida

logo no arranque do programa teria sido a única forma de evitar uma recessão prolongada em Portugal.

Numa altura em que se comprova a viabilidade de uma nova atitude na defesa do interesse nacional, torna-se

penoso pensar na total permissividade com que o governo anterior encarou o processo de ajustamento em Portugal.

terça-feira, 7 de novembro de 2017

Sobre mortos que insistem em não morrer: o fantasma da história atormenta o capitalismo

Estátua de Sal

por estatuadesal

(Por Heribaldo Maia, in Blog LavraPalavra, 07/11/2011)

lenin-armario

(Dedico este texto ao habitual comentador dos artigos que aqui publico e cujo pseudónimo é "anticapitalistaincorrigivel". Estátua de Sal, 07/11/2017)


O fim do século XX trouxe à tona um grande debate sobre o fim da história – teoria do filósofo Francis Fukuyama – e de uma sociedade pós-ideológica, onde não se teria mais espaços para o discurso ideológico nem âmbito político nem referente a políticas económicas. Isso porque a humanidade já teria chegado ao ápice da organização societária: na esfera política a democracia liberal e na esfera económica o capitalismo liberal.

Porém ao voltarmos um pouco no tempo e observarmos o mundo do século XX, em especial o período da guerra fria (1945-1991), o que vemos é o oposto dos dias atuais: o movimento da história estava a todo vapor impulsionado por uma grande disputa ideológica que permeava debates e práticas políticas – um verdadeiro ambiente de disputa em aberto e de devir histórico a ser construído “no agora”. O fim da segunda guerra mundial em 1945 marca a história do século XX sob dois aspectos fundamentais: a) a derrota militar e política do nazismo e fascismo e b) a consolidação da URSS (União das República Socialistas Soviéticas); criando assim uma nova geografia do poder mundial, sob o desenho de uma dualidade entre: Estados Unidos da América (EUA) e URSS.

Há uma importante afirmação de Thomas Hobbes em seu Leviatã: “a guerra consiste não só na batalha, ou no ato de lutar: mas num período de tempo em que a vontade de disputar pela batalha é suficientemente conhecida”. Partindo do ponto de vista hobbesiano, podemos dizer que o fim da segunda grande guerra mundial marca o início do que Eric Hobsbawn chamou de “Terceira Guerra Mundial” (na Era dos Extremos). Esse era o clima da Guerra Fria. Tal período, que vai de 1945-1991, evidenciou o acirramento definitivo de duas visões de mundo antagônicas: de um lado o capitalismo (representado pelos EUA) e o socialismo (representado pela URSS).

A guerra fria ficou marcada, dentre outras coisas, pela dicotomia ideológica entre capitalismo e socialismo. Gerações inteiras foram criadas na sombra de uma batalha ideológica – e real, obviamente – sem precedentes na história. Ameaças de guerras nucleares rondavam os noticiários do mundo, a propaganda foi usada por ambos os lados para atacar, defender e cooptar novos aliados. Estados Unidos e União Soviética travaram uma guerra “sem armas” nos mais diversos campos possíveis: nos desportos, nas artes, nas ciências, no desenvolvimento da tecnologia, no militarismo, etc.

Ao contrário do período da guerra fria, o mundo atual aparenta não existir uma divisão dicotômica tão evidente, pelo contrário, parece que a queda do Socialismo Real e a perda de imantação teórica do marxismo levantaram uma “poeira ideológica” que impede uma visão clara, criando uma confusão intelectual nos pensadores contemporâneos – uma espécie de paranoia intelectual coletiva, que deu origem a aberrações como a pós-modernidade. Essa “confusão” que marca os tempos atuais é agravada quando se constata fatos como: ondas fundamentalistas/conservadoras no Oriente Médio, crescimento do nazi-fascismo no leste europeu, o fortalecimento de movimentos separatistas e o aparente fim da luta de classes enquanto elemento político central no debate político, e se colocando no lugar lutas por reconhecimento.

Assim, o cenário atual é bastante complexo – não que o século XX não o fosse. O debate político no século XXI se diluiu em inúmeras pseudo-possibilidades postas como “a última novidade”: o neoliberalismo reinventado, eco-capitalismo, economia solidária, novos hippies e suas comunidades, etc. Junto a essa aparente pulverização da política temos também a mudança de foco da intelectualidade que tirou da centralidade das reflexões teóricas as questões político-económicas e deslocou para questões culturais e subjetivas, colocando o homem não mais inserido em uma estrutura de classes, mas como seres individuais em disputas de afirmações “identitárias” do ser, mesmo que o próprio conceito de identidade como posto na modernidade seja colocado em cheque (mas esse ponto requer outro debate).

O fim do Socialismo real trouxe uma falsa impressão de que o esquema de democracia liberal capitaneado pelo capitalismo havia vencido. O fim da Guerra Fria e a temporária vitória capitalista fez com que Francis Fukuyama dissesse que “os seres humanos haviam alcançado o ápice da organização social e política”. Porém essa sensação de que o mundo e os homens haviam chegado ao máximo das formas organizativas de sociedade durou pouco tempo. O mundo “pós-ideológico”, como aponta alguns, se revelou um cenário perigoso, já que essa “ausência ideológica” deixa um buraco a ser preenchido e com isso a situação mundial fica totalmente aberta, e tal abertura é como,  segundo Mauro Iasi, “um copo vazio pronto para ser preenchido”. Mas preenchido pelo que? Essa pergunta é, do ponto de vista intelectual, uma das grandes questões do tempo atual. Existe hoje uma avalanche de ideias e práticas prontas para preencher esse “copo pós-ideológicos”. Outra observação é tirada de Slavoj Zizek, o esloveno afirma que quanto mais nos afirmamos afastados da ideologia, é exatamente nesse ponto que a ideologia nos tomou por completo – um exemplo é o “Escola sem partido”.

O que fez uma pergunta de caráter puramente político/ideológico/económico vir à tona e, novamente, trazer o foco para questões políticas? A resposta foi: o constante estado de crise, que culmina em 2008. Crise essa que corrobora com a teoria de “crise cíclicas do capitalismo” descrita por Karl Marx – o que também recoloca o pensador alemão no cenário intelectual. Ao contrário da falácia neoliberal de que as crises eram frutos de políticas sociais, fazendo o Estado gastar mais do que deve, essa crise, como aponta Zizek, teve sua gênese com a articulação de políticas pró-capitalistas de caráter neoliberal promovidas pelo então presidente norte-americano George W. Bush (o filho). A crise fez grandes empresas mundiais falirem e pedirem ajudas financeiras, ironicamente, aos governos.

Governos desesperados com a derrocada económica e os desajustes políticos tomaram medidas, tipicamente neoliberais guiados pela cartilha do FMI (Fundo Monetário Internacional) e demais organizações para acalmar “o mercado” – entidade que ninguém vê, mas que exige tanto de nós – na busca de reverter os efeitos da crise para recolocar a economia nos trilhos.

Enquanto o Estado salvava os “haters do Estado”, os trabalhadores sentiram as primeiras mediadas: vieram então demissões em massa, arrocho salarial, aumento nos impostos para os mais pobres e exoneração fiscal para os investidores, negociações forçadas das dívidas públicas e esfacelamento do que restou de seguridade social. A pressão dos operadores capitalismo para que países seguissem as regras foi enorme, porém a revolta popular que não aceitou tais medidas ressurge com grande força, recolocando em pauta questionamentos sobre o capitalismo. Para desespero de Fukuyama e dos “agnósticos da New age”, como Zizek chama os pós-modernos, a história não acabou.

O povo retornou as ruas, e de acordo com Zizek a mensagem é clara: “eles não sabem o que querem, mas sabem o que não querem” (no sugestivo livro: O ano em que sonhamos perigosamente) – e eles não querem o capitalismo atual. As pessoas na Europa foram as ruas contra as políticas econômicas aplicadas para conter a crise, mas quando pessoas insatisfeitas se revoltam sem um claro direcionamento ideológica o resultado pode ser o mais aberto e imprevisível possível – mesmo que toda situação histórica seja imprevisível e aberta. Em diversos países, e até na Alemanha, ressurge o nazi-fascismo; no Oriente Médio o sionismo Israelense ganha força e apoio norte-americano; o fundamentalismo religioso muçulmano alimentado pela geopolítica do petróleo expande e aterroriza as populações locais (recomendo o filme “Timbuktu” do diretor ”Abdarrahmane Sissako”; já a América Latina observa a ofensiva imperialista norte-americana; o Occupy Wall Street colocou pessoas nas ruas do maior centro financeiro do mundo com a seguinte mensagem: não aceitamos mais esse sistema como ele é. A revolta, muitas vezes puramente reativa, ao modelo neoliberal gerou soluções mais diversas: seja pela via de um retorno ao autoritarismo de direita (o nazi-fascismo), mas também soluções difusas e sem objetivos como o Occupy Wall Street ou a tentativa de se retornar a “um capitalismo com face humana” através de um “reformismo fraco, mas seguro” promovido pelo Podemos, Syriza e no Brasil o PT.

O século XXI nos trouxe uma realidade muito complexa. A crise atual nos colocou numa situação em que o modelo atual de políticas já não dá mais conta das demandas sociais, em contrapartida ainda não existe uma alternativa posta como “o novo”, mesmo o comunismo precisa ser recolocado em tal patamar, uma nova forma de pensar e gerir essas demandas vindas da sociedade. Como bem colocou o filósofo italiano Antonio Gramsci “os tempos de crise são tempos em que o velho ainda não morreu e o novo ainda não nasceu”, portanto vivemos em um tempo-transição, sabendo que não há problemas que não sejam gerados com suas possibilidades de soluções, mesmo que tais soluções ainda não sejam claras e visíveis – não esqueçamos das lições do velho Marx, que apesar de tantas tentativas, se recusa a morrer.

“A história acabou” disse Francis Fukuyama após a queda do socialismo real, mas não foi preciso que um grupo de pensadores e intelectuais para refutar essa tese. Clio e suas artimanhas tratou de mostrar que a história não acabou – pois ela não acaba – pelo contrário, está viva e se movimentando diante dos olhos de todos nós. O século XXI fez Fukuyama engolir cada palavra. Foram inúmeros eventos históricos como a crise financeira de 2008, as questões ambientais, a insurreição das minorias, o direito a cidade, o questionamento aberto ao neoliberalismo, etc.

É difícil fazer um prognóstico para o decorrer do século atual diante de um cenário de tantos impasses. Do ponto de vista político é necessário considerar a emergência de novos agentes sociais como mulheres, negros, LGBT’s, etc. Assim é necessário levar a sério uma análise das chamadas “lutas por reconhecimento”. Porém, a constatação de que novos sujeitos sociais ganham cada vez mais protagonismo político não nos deve levar, como levou Axel Honneth, a dar por eliminado a questão da “luta de classes”. É necessário, primeiramente, interpretar o mundo, dar um passo atrás. Como diz Zizek, é necessário não se levar por impulsos pseudo-ativistas e pensar o mundo atual e suas demandas. Cabe aqui um detalhe: o fato de o momento exigir mais da teoria que da práxis não significa o abandono da prática, pelo contrário, serão as demandas práticas que guiaram as novas exigências teóricas. Como Freud, que ao clinicar partia de suas concepções teóricas, porém ao perceber as limitações práticas de sua teoria, as adaptava, mudava, abandonava pressupostos, assimilava novas questões e, de tal forma, superava sua antiga prática indo além. Retornando ao argumento: o momento político requer pensar uma política do reconhecimento, mas que tenha como elemento norteador a questão de classe. Negros, mulheres, LGBT’s, minorias étnicas, etc., estão inseridas na sociabilidade capitalista, que continua, em sua essência a mesma: dividindo possuidores e despossuídos. É partindo de uma estrutura classista que as pessoas buscam reconhecimento, ao menos enquanto houver capitalismo – o que vai além da questão de classe-em-si e classe-para-si. É importante que o horizonte revolucionário não saia do escopo político, mesmo em uma teoria do reconhecimento, visto que grandes conquistas de liberdade e segurança para o sujeito ser se deu através do movimento socialista. Ao contrário de dar um diagnóstico a cerca do problema, coloco aqui elementos que considero fundamental para repensar uma teoria da ação política que não abandone as grandes contribuições do marxismo e das experiências socialistas, já que considero que esse abandono leva ao fim de qualquer perspectiva emancipatória, caindo numa esquerda que se resume a fazer mimeses do liberalismo.

O seguimento do século XXI será de um acirramento das contradições impostas pelo sistema capitalista neoliberal. Contradições que se refletem até mesmo no adoecimento mental: vejam-se os inúmeros casos de depressão. O sistema de democracia liberal tem seus últimos dias de vida. Países como Bolívia, Venezuela e Cuba tentam implantar modos de dar voz as pessoas, superando as limitações da democracia liberal, o que também não significa que não tenham problemas, apenas que seus problemas são qualitativamente diferentes.

Portanto o século XXI será um tempo de caótico, onde vários fatos provarão que a história não acabou, mas segue seu rumo. Os acirramentos gerados pelo capitalismo e a luta refletirão numa série de disputas no campo ideológico político, justamente campos dados como secundários pelos pós-modernos. É provável, na verdade necessário, que o pensamento marxista e a esquerda recuperem sua vitalidade e força de cooptação até como resposta a essas incompletudes e injustiças causadas pelo capitalismo. Porém não será a esquerda que vimos tempos atrás, nem mais será uma esquerda que recairá em políticas de reformismos fracos e seguros como o PT no Brasil, mas uma nova esquerda renovada pelos próprios erros e que pela prática pense o mundo superando sua ação política.

Gilles Deleuze tem uma frase interessante, dizia o francês que “o século XX não trouxe soluções erradas para os problemas, mas problemas errados”. Cabe a esquerda, tomando como ponto de partida essa ideia de Deleuze, do século XXI não ignorar e dar como dado os fatos passados, mas partindo desse histórico tentar interpretar melhor o mundo atual e as conjunturas envolvidas, e a partir de suas experiências tomadas como legado a ser assumido, corrigir, através de sua ação política, a visão dos problemas postos na atualidade. Aí sim, a solução surgirá da própria materialidade que interage com a prática humana, cabendo aos homens sua emancipação.

domingo, 29 de outubro de 2017

Afinal cheira a crise


Estátua de Sal

por estatuadesal
(Francisco Louçã, in Público, 27/10/2017)
Francisco Louçã
Desculparão os leitores, mas este texto não é sobre a crise de que se fala, sobre o barómetro que mede quem ficou mais “chocado”. Com franqueza, não havia necessidade. É sobre outra crise, uma que importa mesmo. Aquela que Schauble anunciou na despedida na sua última reunião do Eurogrupo, antes mesmo de receber uma nota de cem euros com a sua cara gravada, que amável presentinho. Essa crise não é o tal diabo que faltou e que o homem bem se fartou de anunciar (aos países do sul), mas é certamente o risco de um abismo basto infernal (para todos os países).
Lembrava Schauble, sem deixar de picar Mario Draghi, que a inundação de dinheiro despejado na Europa nos últimos dois anos tem como destino mais certo uma bolha financeira. E que, como é da natureza das coisas, a bolha rebentará. Draghi respondeu esta semana que não vê nenhum problema sistémico, nem na valorização do euro, nem no excesso de dívida. Como se vai embora dentro de ano e meio, bem se percebe que não queira em caso algum perturbações que obriguem a novas formas de intervenção – até porque lhe restam poucos instrumentos para o fazer.
O BCE injectou 2100000 milhões de euros nos mercados financeiros em dois anos. Promete continuar, mesmo que em dose mais moderada. Ora, tudo correria bem se esse capital fosse usado em investimento. Não foi. Serviu essencialmente para aumentar o preço dos activos financeiros e portanto para enriquecer quem já tinha um tesouro.
Segundo os cálculos do FMI, nas economias mais desenvolvidas, e nas últimas três décadas, o rendimento per capita dos 1% mais afortunados cresceu três vezes mais depressa do que o do resto da população. Resultado: nestes países mais ricos, os 99% de baixo ganharam mais 48% nesse período, mas os 1% triplicaram o seu rendimento (como assinalado no gráfico). Nos últimos dois anos mais se agravou esta desigualdade, que é o primeiro efeito da bonança.
Gráfico
O segundo efeito é a dívida. Rolamos sobre dívida. Como se escreve num relatório do FMI, “a dívida lubrifica as rodas da economia. Permite aos indivíduos fazer grandes investimentos hoje, como comprar uma casa ou ir para a universidade, comprometendo parte dos seus rendimentos futuros. Isso está certo em teoria. Mas como a crise financeira global demonstrou, o rápido crescimento da dívida das famílias, e em especial as hipotecas, pode ser perigoso.” Ponha perigoso nisso. Neste mundo bipolar, a dívida dirige a economia e portanto inflaciona o risco de uma crise financeira (o delicioso termo profissional é uma “correcção técnica do mercado”), já para não incluir no menu dos perigos algum tweet de Trump ou um bombardeamento algures.
O terceiro efeito deste maná de dinheiro fácil é que reforça a vulnerabilidade de quem sofreu a crise e privilegia os seus beneficiários, porque assim são as suas regras. Revelou Draghi recentemente que, em 2012-2016, o BCE lucrou 7800 milhões de euros em juros e ganhos de capital com a dívida grega. Esse lucro é depois repartido entre os bancos centrais de acordo com a proporção de cada um no capital do BCE (ou seja, a Alemanha ganha mais e, se a Grécia esperava o repatriamento de algum desse dinheiro, enganou-se, porque até isso lhe foi cortado).
O BCE também lucrou 5200 milhões com a dívida portuguesa, mas nesse caso uma parte foi entregue ao Banco de Portugal (é a origem dos célebres dividendos a pagar pelo banco ao Tesouro) – e outra aos outros bancos.
A Alemanha é entretanto beneficiada com a compra de 400 mil milhões da sua dívida a juros negativos ou quase zero e o BCE fica a perder com essa operação – mas a Alemanha monetariza parte da sua emissão de dívida e a Europa sofre esta economia predatória. Não foi revelado se a nota de 100 euros entregue a Schauble conta para tal montante.
NB- O texto mais curioso sobre Neto de Moura, o juiz que cita a pena de morte da mulher adúltera, é de JM Tavares. Claro que ele se rebola de indignação contra o juiz, que é “cavernícola”, mas o que o irrita mesmo é que alguém lembre que a conversa da discriminação das mulheres é uma cultura: antiga, como expressa nas tribos do Antigo Testamento, e moderna, como expressa nas leis que até ao século XX davam a mulher como coisa do homem. Vai daí, inventa uma novela gira sobre a predestinação do juiz, que se tivesse brincado com vestidos cor de rosa em bonecas não cederia à pulsão da tal pena de morte. O que vale é que Tavares pede logo desculpa a quem o lê, acrescentando, com a condescendência de um barão à lareira: “aquilo que pessoas como eu ou o Ricardo (é o Araújo Pereira) afirmam” é que não queremos cá “picuinhices estapafúrdias” (a sua própria novela sobre os vestidos das bonecas). Ainda bem que Tavares segue “o Ricardo” e pensa como ele. É um alívio. Se não fosse a protecção “do Ricardo” só sobrava a coitada da pilhéria.





sexta-feira, 15 de setembro de 2017

A catástrofe financeira portuguesa e os comunas do FMI

15/09/2017 por João Mendes



O drama, a tragédia, o horror, as sanções, o desemprego galopante, a fuga de capitais, o défice de dois dígitos, o diabo e o resgate estão quase a chegar. Ninguém sabe bem quando, que a ditadura soviética torna impossível de prever o que quer que seja – o próprio diabo queixava-se há dias que os fascistas da CIG não o deixam em paz – mas sabe-se que tudo isto e muito mais está para vir. É o que dizem os spin masters do passismo defunto, pelo menos quando não estão a instrumentalizar emocionalmente os portugueses com os fogos florestais ou a elogiar a grandeza de Donald Trump e dos venturas desta vida.
Porém, enquanto o apocalipse não chega e os demagogos vão dando largas ao acto de profetizar, caindo nas sondagens com a mesma velocidade a que se aproximam do PNR, a realidade vai-lhes aplicando suaves chapadas, fazendo picadinho das teorias da conspiração alimentadas por uma máquina de propaganda fanática e decadente. Hoje foi a vez do FMI, essa agremiação de grandes comunas, de dar a sua facada nos calimeros cá do rectângulo:
Fundo Monetário Internacional (FMI) considera que “Portugal fez progressos notáveis no último ano na redução da incerteza relacionada com os riscos de curto prazo” e que “a saída do Procedimento por Défice Excessivo este ano, juntamente com uma melhoria significativa da estabilidade e confiança no sistema bancário, ajudaram a reforçar a confiança dos investidores e contribuíram para uma rápida diminuição dos spreads da dívida soberana desde Março”. A análise anual ao abrigo do artigo IV foi hoje divulgada em Washington e resulta da avaliação de uma equipa que esteve em Lisboa em junho passado. [Expresso]
Fujam todos! O fim está próximo…
Fonte: Aventar
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quinta-feira, 25 de maio de 2017

O Ronaldo do Ecofin


(In Blog O Jumento, 24/05/2017)
Portugal's Finance Minister Centeno poses with a national scarf during an euro zone finance ministers meeting in Brussels
Os Cenários Macroeconómicos “desenhado” por um grupo de economistas liderados por Mário Centeno já foram quase esquecidos, na ocasião a direita dividiu-se entre a gargalhada e a mobilização de economistas apoiantes da tese do empobrecimento forçado. O desplante chegou ao ponto de a direita propor que as propostas económicas apresentadas pelo PS fossem previamente avaliadas pelo Conselho de Finanças Públicas, para o que prontamente Teodora Cardoso se ofereceu.
Os cenários Macroeconómicos previam 3,1% de crescimento para 2017, número que serviu para promover gargalhadas à direita. A primeira ida de Mário Centeno ao parlamento não foi notícia pelas suas propostas ou ideias, mas sim porque segundo a comunicação social noticiou Passos Coelho riu até chorar. Sem experiência de calhandrice parlamentar e com o seu ar desajeitado Mário Centeno parecia presa fácil para o cinismo de políticos com calos no cu.
Mas Centeno lá foi sobrevivendo e quando a direita se começou a aperceber dos resultados em catadupa perdeu a vontade de rir, a partir de então a estratégia era destruir a sua política, aproveitando-se de uma divergência entre o PS e os seus parceiros no parlamento, a direita votou de forma suja na questão da TSU. A estratégia era agora boicotar as propostas de Centeno, percebia-se que resultavam e era imperioso que tal não sucedesse.
A estratégia falhou e o objetivo passou a ser o derrube de Mário Centeno, custasse o que custasse. Um obscuro gestor de bancos proporcionou a oportunidade, amigo de um conhecido especialista de corredores e de porteiro de passagens entre o poder e a finanças, proporcionou a oportunidade, durante semanas desenrolou-se o folhetim miserável das mensagens de SMS. Mais uma vez Passos Coelho teve o azar do diabo.
Mário Centeno não só está de pedra e cal como em pouco mais de um ano provou que quem se opunha à reformatação económica do país iniciada por Passos Coelho tinham razão. Ainda ontem a agência de Notação Fitch teceu elogios às mudanças de orientação política, apontando-as como uma das causas do crescimento da economia. Mário Centeno não só provou que era possível seguir outro caminho, como já conseguiu negociar dois orçamentos com o PCP e o BE, já ninguém acredita que o governo caia antes do fim da legislatura.
É a newsletter “Político” que divulga que o ministro das Finanças Alemão disse em privado que Mário Centeno é o Ronaldo do Ecofin acrescenta:
“Há doze meses, era tudo tão diferente. Portugal estava à beira das sanções económicas da União Europeia e o sucesso do seu novo Governo de coligação de esquerda estava longe de ser assegurado. Hoje, já não viola as regras orçamentais da UE e espera entregar antecipadamente 10 mil milhões de euros ao FMI”
Por cá há quem diga que tudo se deve a vários treinadores, argumento muito usado quando os presidentes dos clubes querem chamar a si os louros pelo bons resultados de uma equipa.

Ovar, 25 de maio de 2017
Álvaro Teixeira