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sábado, 29 de julho de 2017

Sinais de Fogo



por estatuadesal
(Miguel Sousa Tavares, in Expresso, 29/07/2017)
fogo
ILUSTRAÇÃO HUGO PINTO

1 Portugal arde sem cessar. Arde visto de terra ou do ar, arde dia e noite, semana após semana, Verão após Verão, ano após ano. Se isto é uma guerra — e eu acho que é — estamos a perdê-la em toda a linha.
Mas Portugal arde também nas televisões, que dia a dia, incessantemente, nos bombardeiam com as imagens dos incêndios, substituindo com elas a falta de notícias da época, enchendo os ecrãs de labaredas de tragédia que potenciam audiências, fazendo dos jornalistas uma espécie de repórteres de guerra, sempre em busca da imagem mais dramática ou do drama humano mais pungente. Sentados no sofá, impotentes e silenciosos, assistimos a isto com a sensação de fatalidade de uma morte lenta e previsível.

segunda-feira, 19 de junho de 2017

O fogo começou em 1985


(Por Estátua de Sal, 19/06/2017)
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Nem sempre concordo com ele. Quando ataca a função pública, os sindicatos e as suas reivindicações e aponta parte dos problemas do país a um suposto excesso de regalias nas quais diz que não se revê.
Mas devo reconhecer que, entre tantos comentadores e especialistas que no espaço público tem debatido as causas da tragédia dos fogos, Miguel Sousa Tavares foi, até ao momento na SIC e na SICN, o único que conseguiu chamar os bois pelos nomes. Os grandes responsáveis não estão no actual governo, sequer no anterior.
Os grandes responsáveis devem procurar-se no primeiro governo de Cavaco Silva, era ministro da agricultura Álvaro Barreto, que vendeu a agricultura portuguesa em Bruxelas por tuta e meia. E era ministro da Energia, Mira Amaral que defendeu a "eucaptilização" do país, chegando a chamar ao eucalipto o nosso petróleo verde. Tavares chegou mesmo a desafiar Mira Amaral, dizendo-lhe, caso o estivesse a ver, que devia mudar a cor de tal petróleo de verde para vermelho, a cor do sangue das vítimas deste momento, e de todas as outras que tem perecido durante décadas.
Reconheço que Tavares é uma voz desempoeirada e corajosa, que apontou o dedo à verdadeira causa de fogos desta dimensão que ele situa no que designa por complexo florestal industrial, e na falta de coragem do poder político para o enfrentar seja por cobardia ou por conivência: as celuloses, o lobby das corporações de bombeiros, as empresas de helicópteros  e de aviões a usados para apagar os fogos e que custam milhões todos os anos.
E mais. Também gostei de ver Miguel Sousa Tavares,  apesar de ser um grande defensor dos méritos da propriedade privada, vir defender, neste caso a expropriação pura e simples das terras de floresta deixadas ao abandono pelos seus proprietários, e que são um dos cancros que, na ausência de limpeza de matos e resíduos, permite a propagação rápida dos fogos, atingindo áreas e níveis de tal dimensão que se torna impossível debelá-los.
Mais que as minudências técnicas dos especialistas é necessário apontar o dedo e falar claro para que todos entendam a causas das coisas e que surjam medidas EFECTIVAS que ponham cobro a esta situação. E nesse aspecto, tenho que reconhecer e divulgar que Tavares esteve em grande plano.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Sem Sombra de Grandeza

 

(Miguel Sousa Tavares, in Expresso, 25/02/2017)
AUTOR
                                        Miguel Sousa Tavares

1 Bem pode Cavaco Silva desfilar o rol de grandes do mundo que conheceu em vinte anos no topo da política portuguesa: nenhum desses grandes o recordará nem que seja num pé de página de memórias e a nossa história não guardará dele mais do que o registo de uma grandiloquente decepção.
Nos seus dez anos como primeiro-ministro, Cavaco Silva teve o que nunca ninguém tinha tido antes dele e não voltou nem voltará a ter depois dele: uma maioria, tempo, paz social, esperança e dinheiro sem fim, vindo da Europa. Fosse ele, porventura, um homem dotado de visão e de coragem e conhecedor da nossa história e dos nossos males ancestrais, teria aproveitado as circunstâncias para inverter de vez o funesto paradigma em que vivemos há décadas ou séculos. Em lugar disso, aproveitou o dinheiro e os ventos favoráveis para engrossar o Estado, fazer demasiadas obras públicas inúteis e cimentar a clientela empresarial que sempre viveu da obra ou do favor público. Ele lançou as raízes do défice e da dívida pública, que, depois, tal como as obras (de Sócrates), passou a execrar. Cinco anos volvidos, regressaria para outros dez de Presidência. Por razões que já nem adianta esmiuçar, acabaria por sair de Belém com uma taxa de rejeição recorde e com 80% dos portugueses fartos dele e do seu pequeno mundo. Muita da popularidade de Marcelo deve-se ao facto de os portugueses o verem em tudo como o oposto de Cavaco Silva.
Tive um breve mas arrepiante flashback deste pequeno mundo quando, na semana passada, Cavaco Silva lançou o seu livro de ajuste de contas. Pelas citações e declarações que li e ouvi, parece-me que a única coisa boa do livro é o título — (mas até esse li que não era original). No restante, Cavaco entretém-se a contar os seus “factos rigorosos” para “informação dos portugueses”, e registados com base num método que diz ter inventado quando era estudante e que se presume não ser o do gravador oculto. A finalidade da história das suas quintas-feiras é atacar um homem já debaixo de todos os fogos — o que confirma a lendária coragem intelectual de Cavaco, tal como no seu discurso de vitória quando foi reeleito, atacando com uma raiva e um despeito indignos de um Presidente da República os seus adversários que já não se podiam defender. Parece que agora, com um absoluto desplante e tomando-nos a todos por idiotas, Cavaco Silva ensaia uma indecorosa falsificação dos tais “factos rigorosos”: a história de como ele e a filha ganharam 150% em dois anos com acções do BPN que não estavam cotadas em bolsa (jamais desmentida e bem documentada), não passou, afinal, de uma “calúnia”, vinda da candidatura de Manuel Alegre; e a célebre “conspiração das escutas” de Sócrates a Belém, engendrada entre o assessor de imprensa de Cavaco e um jornalista do “Público”, foi, pasme-se, ao contrário: foi o Governo que montou uma operação para fazer crer... que o Governo escutava Belém!
Ele (Cavaco Silva) que continue a escrever a sua história: a História jamais o absolverá
Mas não foi isso o que verdadeiramente me arrepiou nas notícias e imagens do lançamento do livro do Professor. Outra coisa eu não esperava dele nem do seu livro. O que me impressionou e arrepiou foi uma visão que diz tudo sobre quem foi e quem é este homem. Após mais de vinte anos na vida política e nos mais altos postos dela, tendo fatalmente conhecido não só vários grandes do mundo mas também toda uma geração de portugueses da política, da cultura, do empresariado, das universidades, etc., quem é que Cavaco Silva tinha a escutá-lo no seu lançamento? A sua corte de sempre, tirando os que estão a contas com a Justiça. Os mesmos de sempre — Leonor Beleza e o que resta da sua facção fiel no PSD. Mais ninguém. Nem um socialista, nem um comunista, nem um escritor, um actor, um arquitecto, um músico reconhecido. Nada poderia ilustrar melhor o que foi e é o pequeno mundo de Cavaco Silva. Ele que continue a escrever a sua história: a História jamais o absolverá.
 
Ovar, 27 de fevereiro de 2017
Álvaro Teixeira

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

"Tentar apear Mário Centeno é uma jogada política"

Miguel Sousa Tavares abordou, no seu comentário semanal no ‘Jornal da Noite’ na SIC, a polémica que envolve Mário Centeno, António Domingues e a Caixa Geral de Depósitos.

 
O PSD e o CDS-PP já anunciaram que vão pedir a constituição de uma comissão de inquérito relativamente à Caixa Geral de Depósitos (CGD) e àquele que foi o acordo estabelecido entre o ministro das Finanças e o agora ex-administrador do banco público.
Para Miguel Sousa Tavares é “extraordinário que três dias depois” de os dois partidos da oposição terem anunciado a sua intenção “ainda estejam a definir o objeto da comissão”.
Mas quanto a isto, o comentador é perentório, assegurando que o “objeto é só um que é o de saber se Mário Centeno mentiu ou não”. Porém, como “isso não se pode escrever preto no branco, andam à procura de um objeto e de testemunhas para conseguir algo que soe mais plausível”.
Quanto à inquirição do primeiro-ministro em sede de comissão de inquérito, Sousa Tavares diz que “o mais provável é ele recusar comparecer” e lembra que nem a Constituição da República, nem o Código Penal foram revistos, razão pela qual diz “não perceber com que autoridade os deputados vão pedir acesso às SMS” trocadas entre o ministro das Finanças e António Domingues, pois o direito à privacidade da correspondência continua a existir.
Nesta senda, o comentador atira farpas ao PSD e ao CDS: “Se eles fossem Governo e confrontados com a situação dramática em que deixaram a Caixa e fossem escolher um administrador que achavam ser topo de gama iriam aceitar estas condições? Essa é que é a questão de fundo”.
Ainda sobre Mário Centeno, Sousa Tavares lembra que é o “primeiro ministro das Finanças a conseguir o défice mais baixo em 42 anos de democracia”, razão pela qual considera que “tentar apeá-lo agora é uma jogada política”.
 
Ovar, 21 de fevereiro de 2017
Álvaro Teixeira