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sábado, 8 de julho de 2017

Trabalhos limpinhos e a teoria do buraquinho



por estatuadesal
(Francisco Louçã, in Público, 07/07/2017)
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Na base de Tancos, a reparação da vedação foi um “trabalho limpinho” diz a empresa responsável pela obra. Talvez tenha sido e até parece provável que o assalto não tenha sido feito pela vedação, cujo buraco pode ser um truque. Entrarem camiões de transporte pesado por um buraco na rede para carregarem caixotes de munições e armas, isso não deve ter acontecido, mas sabe-se lá.
Ora, a teoria do buraco tem encantos surpreendentes e adeptos imprevisíveis. A teoria pode ser enunciada com os seguintes axiomas: se é preciso um assalto de grande envergadura técnica e meios sofisticados, um buraquinho serve; se a operação revela que não havia rondas de segurança, a culpa é de quem não tinha de definir as rondas; e, finalmente, havendo dúvida, dispara para cima. Percebe-se por isso porque é que esta teoria é tão apetecível, tem a vantagem de não haver responsabilidades.
Ao que se lê nos jornais, algumas associações militares estão por isso indignadas pelo facto escandaloso de o Chefe de Estado Maior do Exército ter dito que é uma humilhação descobrir que quem devia fazer a segurança da base é culpado de não haver segurança na base. O general não perfilhou a teoria do buraquinho e isso é uma chatice.
O que no entanto mais me preocupa, além destas ameaças de militares que dizem que vão entregar espadas porque alguém lhes pede contas da sua função militar, é como a teoria do buraquinho se instalou em Portugal e é rainha em diversos domínios. Veja o caso da fuga ao registo das transferências para os offshores, a que Inspecção Geral de Finanças dedicou esta semana um relatório. O relatório diz que não sabe o que aconteceu e parece-lhe que não houve “mão humana” (embora fique por esclarecer se houve mão divina, o que é sempre uma possibilidade). O inspector-geral chegou mesmo a sugerir que sabia de formas mais eficazes de ocultar o registo dessas transferências, no que deve ter razão. Portanto, ou o buraco na rede talvez seja só para disfarçar ou não houve mesmo assalto algum. A direita exultou, respirou de alívio o coitado do Secretário de Estado do CDS que tinha sido recrutado para o governo de um escritório de advogados que se dedicava a offshores, os mais afoitos exigiram pedidos de desculpas, afinal a teoria do buraquinho venceu mais uma vez.
Esta versão da teoria buraquista tem mais uma vez um problema. É que faltou o registo de 10 mil milhões de euros, com uma tripla pontaria infalível: a falha só teria beneficiado dois bancos, o BES e o Montepio; foi quase toda em prol de dois grupos económicos, incluindo o GES/BES no momento em que estava a ocultar as manobras que o levaram à falência; e o software em causa, que magicamente e sem “mão humana” decretou o apagão, incluía outras regras fiscais mas só se olvidou dos dinheirinhos para os offshores. Não pode haver então dúvida alguma: foi um buraco na vedação, depois veio uma mão espiritual, porventura a inteligência artificial de um software malicioso, e o registo de dez mil milhões evaporou-se.
Esta teoria do buraquinho teve nos últimos anos uma versão académica, que se chamou austeridade expansionista: se cortarmos as pensões dos nossos pais, o país empobrece e portanto melhora. E teve uma versão política para uso corrente: se cortarmos as gorduras do Estado, a União Europeia fica contente. Nas duas versões, o capital que circula pelos paraísos fiscais é inexpugnável, passou o buraquinho, e as funções do Estado devem ser reduzidas ao mínimo. O Estado, que tem obrigações fundamentais para com os cidadãos e quem paga impostos, fica ele próprio um vazio. Nas florestas, em Tancos e em todo o lado, o que agora vamos tendo é esse buraco.

sexta-feira, 7 de julho de 2017

PS sobe, Costa desce


por estatuadesal

(Raquel Albuquerque, in Expresso Diário, 07/07/2017)
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António Costa vê a sua popularidade e a do Governo descerem no mês de julho, já depois da tragédia de Pedrógão Grande e do assalto em Tancos.
Além dos socialistas, só a CDU sobe no barómetro de julho da Eurosondagem. A popularidade de todos os líderes partidários e órgãos de soberania desce, exceto a do Presidente da República. Inquérito da sondagem já foi feito depois dos incêndios em Pedrógão Grande e do assalto em Tancos.

Naquele que é definido pelo próprio Governo como o momento “mais difícil” que já enfrentou, face à tragédia dos incêndios em Pedrógão Grande e ao roubo de armas em Tancos, o barómetro de julho da Eurosondagem para o Expresso e a SIC mostra que o PS conseguiu ver subir as intenções de voto, embora o primeiro-ministro veja a sua popularidade descer.
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A sondagem deste mês revela que as intenções de voto no PS estão agora nos 40,4%, representando uma subida de 0,4 pontos percentuais em relação ao mês passado. Pelo contrário, o PSD, que tinha estabilizado no mês passado, registou em julho uma descida de 0,4 pontos, ficando agora com 28,6% das intenções de voto.
Além do PS, só a CDU conseguiu subir este mês (+0,3 pontos). Todos os restantes partidos (CDS, BE e PAN) registaram descidas nas intenções de voto. Note-se que as entrevistas para esta sondagem foram feitas entre os dias 28 de junho e 5 de julho, um período que já apanha a tragédia dos incêndios e o roubo aos paióis em Tancos.
Só Marcelo escapa
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Quanto à popularidade, só o Presidente da República é que volta a subir, sem alterar assim a tendência que tem registado. Marcelo Rebelo de Sousa chega em julho a um saldo positivo de 60,9% (mais 0,3 pontos que no mês passado).
Contudo, é caso único. Todos os líderes partidários, assim como o Governo, o Parlamento, os juízes e o Ministério Público veem a sua popularidade descer no início de julho, a uma semana de se debater o Estado da Nação na Assembleia da República.
Apesar da queda, Jerónimo de Sousa, secretário-geral do PCP, continua a ser o segundo líder com mais popularidade, seguido do líder do PSD, Pedro Passos Coelho. Já entre os órgãos de soberania, a queda de popularidade mais acentuada este mês é a do Parlamento (-2,9 pontos).

FICHA TÉCNICA
Estudo de opinião efetuado pela Eurosondagem S.A. para o Expresso e SIC, de 28 de junho a 5 de julho de 2017. Entrevistas telefónicas realizadas por entrevistadores selecionados e supervisionados. O universo é a população com 18 anos ou mais, residente em Portugal Continental e habitando lares com telefone da rede fixa. A amostra foi estratificada por região: Norte (20,3%) — A.M. do Porto (13,7%); Centro (29,4%) — A.M. de Lisboa (26,8%) e Sul (9,8%), num total de 1008 entrevistas validadas. Foram efetuadas 1184 tentativas de entrevistas e, destas, 176 (14,9%) não aceitaram colaborar neste estudo. A escolha do lar foi aleatória nas listas telefónicas e o entrevistado, em cada agregado familiar, o elemento que fez anos há menos tempo, e desta forma resultou, em termos de sexo: feminino — 51,7%; masculino — 48,3% e, no que concerne à faixa etária, dos 18 aos 30 anos — 17,6%; dos 31 aos 59 — 49,4%; com 60 anos ou mais — 33,0%. O erro máximo da amostra é de 3,09%, para um grau de probabilidade de 95,0%. Um exemplar deste estudo de opinião está depositado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social.

Ena! Tantos defensores do Estado que estavam escondidos!



por estatuadesal
(Nicolau Santos, In Expresso Diário, 07/07/2017)
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De repente instalou-se a preocupação em muitíssimas almas, que antes se encarniçavam diariamente contra o Estado: não se pode cortar na despesa pública, sobretudo nas verbas para as forças militares e para a segurança em geral! A culpa é do Governo que preferiu aumentar salários e pensões. Se mantivesse a rapaziada a pão e laranja, tudo correria sobre esferas e não teria acontecido nem a tragédia de Pedrógão Grande nem o roubo de material bélico de Tancos, tal a verba que estaria disponível para bombeiros e militares!
Digamos que é preciso ter topete, falta de vergonha, descaramento. Depois de cinco anos (2011-15) em que o investimento público foi reduzido em 40%, em que houve cortes salariais nos funcionários públicos e nos pensionistas, em que foram fechados inúmeros serviços do Estado por todo o país (tribunais, lojas do cidadão, centros de saúde, etc, etc), em que se procedeu à diminuição brutal dos apoios públicos às famílias, em que houve uma ofensiva sem precedentes contra o Estado social, em que existiu sistematicamente um discurso culpabilizador de tudo o que fosse público como razão última para a crise, eis que todos os áugures ou arúspices, pitonisas e cassandras do país, que defenderam, apoiaram, estimularam, aplaudiram e acicataram estas opções e este discurso, dão uma volta de 180 graus e surgem a defender valentemente o Estado e as funções que desempenha, sobretudo de soberania e defesa.
Insisto: é preciso topete, falta de vergonha, descaramento. Se há coisa em que existe um alargado consenso político no país é sobre a redução do peso das Forças Armadas nos orçamentos do Estado, por estarmos em tempos de paz e por parte das nossas missões de soberania e defesa estarem agora delegadas em organismos supranacionais. A redução de verbas para as Forças Armadas não é de hoje nem de ontem: é de pelo menos o início deste século e atravessa vários Governos, tirando alguns epifenómenos como a compra de dois submarinos (que nos deram muito jeito…), alguns F-16 (que também foram um sucesso…) e mais uns Pandur (que correu igualmente muito bem…). Ah, pelo meio houve o fim do Serviço Militar Obrigatório em 2004, decretado pelo então ministro da Defesa, Paulo Portas, por imposição da Juventude Social-Democrata… queixando-se hoje os militares que estão com 30% de efeitvos abaixo do seu plano estratégico porque não há voluntários.
Ora perante tudo isto, utilizar as cativações como arma de arremesso político só pode ser feito por quem pensa que sofremos todos de amnésia compulsiva e generalizada.
A direita, melhor, esta direita encabeçada pela actual direcção do PSD, utilizou o Estado como saco de boxe durante cinco anos. Que agora venha clamar contra o enfraquecimento do Estado para atender a todas as suas responsabilidades só não mata de vergonha porque ninguém morre de vergonha.
Na verdade, o que a direita está a fazer é agarrar-se desesperadamente aos casos de Pedrógão Grande e de Tancos, porque estava sem discurso face aos resultados económicos que o país vem apresentando. E se no final do ano houver uma melhoria do rating, isso será um punhal cravado no coração dos que sempre acusaram os socialistas de despesistas, incapazes de qualquer rigor orçamental. Por isso, a direita invoca Pedrógão Grande e Tancos como quem chama por Santa Bárbara quando troveja. O problema é quando a trovoada passar.

Às armas, às armas



por estatuadesal
(João Quadros, in Jornal de Negócios, 07/07/2017)
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Dá a sensação que este assalto ao paiol deu menos trabalho do que ir ao Ikea buscar uma cama. Tenho a teoria de que o assalto ao paiol foi feito por senhoras que vão à abertura das lojas da Primark.

Assaltaram o paiol de Tancos e levaram diverso e mortífero armamento. A primeira pergunta que me apetece fazer é: as armas têm seguro? Não digo seguro contra terceiros, porque fazia pouco sentido, mas seguro anti-roubo. Dava jeito.
Nos últimos tempos, descobrimos que os alarmes em Portugal não funcionam em incêndios, nem em fuga de capitais, paióis e bancos. Só no raio do carro do meu vizinho às duas da manhã! É preciso ter azar.
No meio desta cegada toda sobre o assalto, há uma coisa que me faz muita confusão. Ver tropas especiais a queixarem-se que foram roubadas é o mesmo que ver escuteiros lixados porque ninguém lhes montou a tenda. Quando eu fui à tropa, se deixasse gamar a G3 ("a minha namorada"), estava totalmente tramado. Ainda hoje andava lá a limpar sanitas.
Custa a acreditar que Tancos, dos pára-quedistas e elite, tem segurança privada. E se calhar também tem uma senhora com uma vassoura porque eles têm medo de ratos. Dá para imaginar o seguinte diálogo:
Pára-quedista: - pareceu-me ouvir um ruído lá fora, comando...
Comando: - Não foi nada. Dorme sossegado o teu soninho. Temos os senhores da Securitas a zelar por nós.
Se é assim, em termos de segurança, acho melhor fazer de Tancos um condomínio fechado. Porque dá a sensação que este assalto ao paiol deu menos trabalho do que ir ao Ikea buscar uma cama. Tenho a teoria de que o assalto ao paiol foi feito por senhoras que vão à abertura das lojas da Primark. Aposto que a PJ vai dizer que o buraco na rede do paiol de Tancos foi feito por raio de trovoada seca.
Com o PM de férias, foi o ministro dos Negócios Estrangeiros que tomou as rédeas do caso e, pela cara do Santos Silva, dir-se-ia que quem gamou as armas foram os filhos do embaixador do Iraque. Por momentos, tive receio que Augusto Santos Silva dissesse que o Ministério da Defesa parece uma feira de gado.
Entretanto, Marcelo foi a Tancos fazer como o Poirot. O chamado CSI Marcelo. Foi investigar os roubos. A esta hora, o PR está a tirar moldes dos rastos dos pneus. Mas ainda bem que Marcelo foi lá para investigar. Se calhar, se o nosso PR tem ido para Tancos dar abraços e beijos, então é que seria o fim da virilidade da nossa tropa. Já basta terem deixado roubar as armas. Ainda tínhamos de ver Marcelo agarrado a um pára-quedista a dizer, soluçando:
"Fiquei sem nada. Levaram-me a antiaérea, o lança rockets, até a minha granada favorita". Depois as três televisões uniam-se para um espectáculo - Todos juntos outra vez - com música heavy metal para reunir dinheiro para ajudar Tancos.
Dê lá por onde der, o caso é grave. Ainda hoje, no Chiado, tentaram vender-me um lança-granadas de louro prensado. Mas, no fundo, o que é que se pode esperar de um país que incentiva a estas coisas no hino: "às armas, às armas". Se fosse "às drogas", era uma bronca.
Estou tão farto deste Verão e ainda agora começou. De agora em diante, para ficar mais descansado, eu acabava com os eucaliptos e com os paióis.

TOP 5
Saldos em Tancos
1. Rui Gomes da Silva nega ter assinado contrato de bruxaria - estava possuído.
2. Morreu Medina Carreira - Deus levou o Beleza e agora o Medina deve estar em apuros orçamentais. Espero que a seguir chame a troika.
3. Veículo com casal octogenário invade escadaria de igreja em Caminha - estiveram na Líbia aquando dos 50 anos de casados.
4. Cristas exige que o PM volte de férias - a diferença entre Passos e Costa é que as pessoas desejam que o segundo volte de férias.
5. "Estudo demonstra que as pessoas que têm pensamento positivo vivem mais sete anos e meio do que as que não têm" - as outras pessoas é que vivem menos por terem de aturar pessoas com pensamento positivo.

Ismael Varanda–Cabeça de Lista do BE à Câmara M. de Ovar

Clique, para ler as intervenções e ver as fotos:
IntervençõesIsmael Varanda
Nota biográfica

Ismael Ribeiro Lisboa Varanda,
Nasceu em Ovar em 1956, frequentou o curso geral dos liceus, no colégio Nossa Sr.ª da Esperança (atual Escola Secundária Júlio Dinis) em Ovar.
Desde adolescente sempre foi um militante antifascista tendo participado em manifestações e em movimentos clandestinos na luta contra a ditadura, pela liberdade e contra a exploração do homem pelo homem.
Em 1975 emigra para o Brasil onde se licenciou em arquitetura pela Universidade Santa Úrsula no Rio de Janeiro, exercendo como arquiteto desde 1984. Publicou em coautoria as “Normas Brasileiras de Construção” em 4 volumes pela editora Gete Publicações, São Paulo.
De retorno a Portugal em 1991, vem exercer as funções de Diretor Técnico na Construtora Residência, Lda.
Amante das artes e cultura, faz parte da Direção do Museu de Ovar envolvendo-se no apoio e divulgação dos movimentos artísticos, participando em conferências e fóruns de discussão e pensamento.
Foi eleito nas últimas eleições autárquicas deputado da Assembleia da União de Freguesias de Ovar, S. João, Arada e S. Vicente de Pereira pelo Bloco de Esquerda.
Tem participado ativamente em movimentos pela proteção da natureza, pela sustentabilidade, e no combate à corrupção e por uma postura exemplar na política.