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terça-feira, 30 de janeiro de 2018

A Polémica SuperNanny

Novo artigo em BLASFÉMIAS


por Cristina Miranda

Começo por dizer a este propósito que abomino todo o tipo de reality shows seja com crianças, com jovens ou adultos. Jamais me inscreveria num nem deixaria filhos meus menores, fazê-lo. Fique claro. Porém, a existirem é inevitável espreitar para poder de forma bem ponderada emitir uma opinião fora da caixa sem seguir as massas. E foi precisamente o que fiz assim que soube do tão polémico SuperNanny.

Sejamos honestos: só existe inscrições para este programa porque mais uma vez o Estado falha quando lhe pedimos ajuda. Temos imensos organismos cheios de gente credenciada a receber salários para apoiar as famílias e crianças mas na verdade não servem na hora da aflição. Quase todos já experimentamos esta realidade portuguesa seja em que área for. Com muita sorte vamos para uma lista de espera onde se desespera de tanto esperar. As mães que chegam a estes programas são pessoas desesperadas, exaustas, desgastadas, já completamente desequilibradas, e que tentaram ajuda. É o desespero que as move. Se assim não fosse, o programa nem sequer arrancava. E só esta realidade já deveria envergonhar o Estado social.

E não. Não é ficção como alguns sem ver o programa afirmam. Antes fosse. Estas famílias vivem mesmo um drama tremendo que lhes provoca mau estar familiar e tristeza profunda. As mães colapsam mesmo com as birras inaceitáveis e violentas dos filhos sem saberem como agir. É a desorientação total. E o que choca as pessoas é mais o facto de saberem que esta realidade existe mesmo, do que a própria exposição em si. Senão como explicam o Instagram, o Facebook, a publicidade, a moda, as novelas, os concursos na TV onde as crianças se expõem ou são expostas pelos próprios pais com tenra idade, sem oposição da CPCJ? No fundo o programa veio pôr a descoberto uma realidade atroz desta sociedade moderna em que vivemos e sobre a qual ninguém quer falar: a tirania dos nossos filhos. Porque falar sobre isto obrigaria a reflectir sobre as modernices educativas que ao invés de educar, transforma os jovens em pequenos ditadores.

O programa veio ainda revelar que os pais de hoje não sabem ser pais. E este fracasso reflecte-se depois na educação. Porque lhes foi dito que uma palmada na fralda era violência, que um bom pai tem de ser sempre o melhor amigo, que a criança tem de crescer feliz e logo não a podemos frustrar. Há anos que repito que estas dicas patetas seriam a receita perfeita para o caos familiar. E acertei em cheio. Criança, ainda no berço precisa de amor firme. Amor doseado com regras, com limites, com obrigações, com metas, com tarefas, partilha e responsabilidade regado com muito diálogo, sim, mas acompanhado dumas consequências (castigos de amor) certeiras sempre que se esquecem dos seus deveres. Frustrar a criança é obrigatório para o seu bom desenvolvimento. Porque tal como tudo na vida, sem uma boa liderança, a anarquia instala-se. Seguindo-se o caos.

Independentemente da exposição das crianças ( que agora o tribunal obriga a corrigir e bem) há um facto inegável que salta a quem vê o programa: com umas simples técnicas pedagógicas de uma psicóloga credenciada, ao fim de alguns dias, aqueles seres indomáveis quase selvagens, tornam-se crianças educadas. Milagre? Não. Apenas foi corrigido um défice no entendimento entre pais e filhos, porque ao ensinar os pais a agir, estes tornam-me menos stressados e a criança interioriza melhor o que lhe é exigido sem despertar raiva. Os pais, ao agir de forma mais segura com liderança firme e assertiva, transmitem mais afecto, mais segurança, ao mesmo tempo que os ensinam. Tão simples quanto isto. Foi extraordinário ver ainda a reaproximação entre mãe e filha adolescente orientadas pela psicóloga, de forma tão simples e bonita, que no caos era completamente impossível de resolver.

A verdade é que os pais não sabem educar porque lhes ensinam coisas erradas sobre a parentalidade. E os mesmos profissionais que hoje se insurgem contra estes programas são aqueles que de forma indirecta contribuíram para esta desordem social com suas psicologias modernas.

O programa depois de corrigido o formato (ocultando identidade das famílias) deveria continuar pois é didáctico para os pais e promove o bem estar familiar que se reflecte inevitavelmente no resto da sociedade. Porque com melhores pais, teremos melhores filhos que serão melhores alunos e em adultos, melhores cidadãos... e pais. Permite ainda a reflexão sobre este flagelo social que todos preferem negar em vez de resolver, numa sociedade em que permitem um filho bater num pai, e o contrário é crime público.

Querem acabar com programas deste tipo? Acabem com as sinalizações quase perpétuas de famílias necessitadas, nas CPCJ, eternamente em banho-maria e criem equipas de intervenção rápida ao apoio efectivo e CONTINUADO, dentro dos mesmos moldes do programa, feito de forma individual e verão as inscrições desaparecer completamente.

Até lá deixemo-nos de hipocrisias.

Extremismos


João Pedro Dias, Investigador em Assuntos Europeus

00:08

A cada eleição que se vai sucedendo, a primeira preocupação é saber se sairá fortalecido o 'sistema' ou o 'anti-sistema'. Lentamente, é este último que tem vindo a marcar pontos.

Decorreu na passada semana a eleição presidencial na República Checa. Por uma razoável maioria eleitoral, foi reeleito para o cargo que já foi, entre outros, ocupado por Vaclav Havel – o último Presidente da defunta Checoslováquia e o primeiro Presidente da República Checa –, Milos Zeman, o Presidente em funções, olhado de soslaio por grande parte dos dirigentes europeus, atentas as suas simpatias por Vlamidir Putin e as posições assumidas em muitas questões controvertidas que se têm colocado à União Europeia.

Personagem sobrante do velho mundo comunista pré-queda do muro de Berlim, pese embora os limitados poderes que a Constituição do país confere ao Presidente da República, Zeman tem-se caracterizado por uma permanente e consistente atitude crítica face às poucas medidas que a União Europeia tem conseguido adotar em matérias críticas e sensíveis, como as políticas de asilo e acolhimento de emigrantes, ou as formas como se deve relacionar com os países islâmicos.

Esta postura, aliás, tem sido responsável por uma crescente aproximação da República Checa quer à nova liderança polaca quer, sobretudo, às teses húngaras de Viktor Órban – posições concertadas largamente no quadro do chamado Grupo de Visegrado composto pela Hungria, pela Polónia, pela República Checa e pela Eslováquia. Curiosamente, quatro Estados provenientes do grupo antigos satélites soviéticos, que depois de se libertarem do jugo de Moscovo e se terem integrado na Europa da União, acabaram por denotar significativa permeabilidade às teses mais populistas e não menor simpatia pelo poder que provém do Kremlin e que Putin se prepara para estender até 2024.

Significa isto que, desta feita, com as eleições presidenciais na República Checa, se confirma uma tendência que parece ter vindo para ficar e que se tem mantido consistente na generalidade dos últimos atos eleitorais, independentemente das suas finalidades, que vão perpassando por este velho continente. As propostas mais extremistas e radicais, sejam de esquerda ou de direita, vão fazendo o seu caminho, vão acentuando a sua influência e, não raro, vão convergindo circunstancialmente em muitas matérias onde coincidem nas opções preconizadas, começando a exercer efetiva influência nos governos de muitos Estados europeus e acolhendo as mais populistas e nacionalistas das propostas políticas com que hoje a Europa se defronta.

A pertença à União Europeia e a aceitação das suas regras tem sido, invariavelmente, motivo de discórdia e linha divisória entre estes novos “extremismos emergentes” e um clássico “establishment” que, durante décadas, foi garantindo a alternância de governo elevando os estados da Europa a níveis de riqueza, bem-estar e proteção social sem paralelo nem igual na história. Várias razões poderão contribuir quer para o declínio das propostas clássicas e de dentro do sistema, quer para o surgimento e progressão rápida das novas alternativas extremistas, de esquerda e de direita, quase sempre populistas, associadas a valores nacionalistas e intolerantes, pactuantes com o autoritarismo e admiradoras e nostálgicas de formas de poder musculado.

A mais evidente dessas razões, curiosamente nem sempre a mais lembrada e nem sempre a mais estudada, prender-se-á, salvo outra e melhor opinião, com o banimento e o suprimento das posturas críticas existentes dentro do dito sistema por parte dos que maior influência nele conseguem exercer.

Ou seja, à medida que o tão propalado sistema clássico se foi fechando, à medida que foi ficando cada vez mais ortodoxo e tributário de uma linha de pensamento único – onde a diversidade se resume a aspetos de minudência e a alternância tomou o lugar da alternativa –, à medida que a crítica foi sendo silenciada e remetida para as margens do próprio sistema, foi o anti-sistema que ficou a ganhar, que começou a progredir, a afirmar-se de uma forma cada vez mais consistente. Quem não encontra alternativa ao sistema dentro do próprio sistema, por regra procura-a fora do sistema. Nas margens e nos extremos. À esquerda e/ou à direita. E o certo é que tem-na encontrado. Na Polónia, na Hungria, na República Checa, na Áustria, na Grécia, na Alemanha, em França, em Espanha – veremos como será em Itália e também em Portugal –, as margens do sistema têm crescido e em muitos destes países já condicionam ou intervêm na governação.

Atendendo aos valores que proclamam, às ideologias que defendem, aos métodos a que recorrem, ao discurso que utilizam, muitas vezes ao ódio que instigam – não são boas notícias para este velho continente já definido algures como o resto sobrante dum ocidente em processo acelerado de recuo. Por isso, cada ato eleitoral que se vai sucedendo começa por ser, sempre e em primeiro lugar, um teste aos sistemas políticos clássicos. Um teste às suas capacidades de resistência e resiliência às ameaças que sobre cada um continuam a pairar.

Face a cada eleição que se vai sucedendo, quando se começam a adivinhar resultados, a primeira preocupação ou curiosidade que se instala começa a ser a de saber se sairá fortalecido o sistema ou o anti-sistema. Lentamente, é este último que tem vindo a marcar pontos. Mas ainda não é tarde para um sempre recomendável regresso à normalidade.

Cristas em campanha: “Em 2019 o voto é livre, é muito mais livre do que alguma vez foi”

POLÍTICA

29.01.2018 às 22h56

MANUEL ARA\303\232JO/ LUSA

O terreno era vermelho e pouco favorável, mas a líder centrista fechou o primeiro dia de jornadas parlamentares em tom otimista (e também aproveitou para mostrar cartão, também vermelho, ao Governo)

MARIANA LIMA CUNHA

O CDS está a trabalhar para as próximas legislativas a e foi isso mesmo que a líder, Assunção Cristas, fez notar na noite desta segunda-feira, no fim do primeiro dia de jornadas parlamentares, em Setúbal. Falando sobre a nova solução de Governo e os que “ainda estranham a nova dinâmica' do Parlamento, a centrista disse que a mensagem é 'simples”: “Em 2019 o voto é livre, é muito mais livre do que aquilo que alguma vez foi. Podem seguir a sua convicção, que às vezes sentiam que não podiam fazer”.

Tem sido a mensagem de Cristas nos últimos dias, numa altura em que a legislatura vai a meio e o CDS faz contas que espera que sejam de somar. “As pessoas diziam: gostamos muito de vocês, mas vocês nunca lá chegam. Essa conversa acabou. Estamos a discutir quem consegue ter metade do Parlamento mais um”, frisou. E lembrou que a alternativa que o CDS deseja é uma que passe 'por CDS e PSD', com os centristas a quererem dar o máximo “contributo para estes 116 deputados, no mínimo. Temos as ideias, o trabalho de casa e os protagonistas. Fazemos trabalho de formiguinha há muito tempo”.

Num discurso acidentado - afinal, no restaurante em Almada onde militantes e deputados se reuniram via-se o Belenenses vs Benfica e havia quem gritasse, nervoso, “pénalti!” - Cristas fez uma espécie de resumo do dia e das prioridades dos centristas, já virada para o programa eleitoral, insistindo nos temas da saúde, do investimento e nas críticas às cativações deste Governo.

CARTÃO VERMELHO A COSTA

Estando no distrito de Setúbal, Cristas não se esqueceu de falar da Autoeuropa - “uma empresa em polvorosa, e não é uma empresa qualquer” - e deixar acusações ao Governo, que diz “não ter considerado a concertação social e [que] não tem dado o exemplo”. “Só podemos apresentar um cartão vermelho ao Governo”. Também para os parceiros, uma vez que com BE e PCP ficou “esvaziado o diálogo social e a concertação social”.

Cristas sabia que estava em terreno pouco favorável - além de os ânimos estarem agitados por causa o jogo (“Não vos quero maçar muito porque ainda faltam alguns minutos para acabar”), o distrito é vermelho e Setúbal também, hoje como sempre. Mas a centrista não desanima e diz que entre os jovens o CDS pode mesmo conquistar novo público-alvo: “O que é novo é ser do CDS, porque do PS já são os pais e os avós!.

CDS-PP. Assunção Cristas quer geringonça à direita

João Girão

SEBASTIÃO BUGALHO

29/01/2018 22:09

Líder centrista diz que ministro das Finanças “merece uma nota muito negativa”

“Em 2019 não se discute já quem fica em primeiro lugar, em 2019 não se discute já quem é que pode ou não governar porque ficou em primeiro lugar. Isso era antes, antes de 2015. Em 2019, o que se vai discutir é quem é que consegue ter um bloco de apoio no parlamento de 116 deputados”, disse este fim de semana Assunção Cristas, em Vila Nova de Famalicão. “Houve alguém que perdeu as eleições e está a governar, e governará até ao fim com a ajuda das esquerdas unidas, disso não tenho dúvidas. Mas esse alguém também poderá ver um dia o filme virar. E o filme virará quando. no centro-direita, nós tivermos 116 deputados”, acrescentou a líder do CDS-PP, numa defesa clara de um acordo de poder à direita que mimetize a geringonça de esquerda.

Entretanto, ontem, sem se alongar muito na questão das buscas ao Ministério das Finanças por causa da questão dos bilhetes do Benfica e da isenção de IMI, Cristas não se coibiu de afirmar que as repercussões internacionais que o caso está a ter internacionalmente, devido à posição de Mário Centeno como presidente do Eurogrupo, não são as melhores para o país: “Impactos positivos, não terão”, disse. Até porque, de acordo com uma notícia do jornal “ECO”, o aumento do investimento em Portugal ficou 850 milhões de euros aquém do prometido por Centeno e, por isso, o ministro das Finanças já “merece uma nota muito negativa”.

Canto IV adaptado ao pós-Sócrates

Novo artigo em BLASFÉMIAS


por vitorcunha

Mas um velho, de aspecto venerando,
Que ficava nas praias, entre a gente,
Postos em nós os olhos, meneando
Três vezes a cabeça, descontente,
A voz pesada um pouco alevantando,
Que nós no mar ouvimos claramente,
C’um saber só de experiências feito,
Tais palavras tirou do experto peito:

— "Ó glória de mandar! Ó vã cobiça
Desta vaidade, a quem chamamos Fama!
Ó fraudulento gosto, que se atiça
C’uma aura popular, que honra se chama!
Que castigo tamanho e que justiça
Fazes no peito vão que muito te ama!
Que mortes, que perigos, que tormentas,
Que crueldades neles experimentas!

— "Dura inquietação d’alma e da vida,
Fonte de desamparos e adultérios,
Sagaz consumidora conhecida
De fazendas, de reinos e de impérios:
Chamam-te ilustre, chamam-te subida,
Sendo digna de infames vitupérios;
Chamam-te Fama e Glória soberana,
Nomes com quem se o povo néscio engana!

— "A que novos desastres determinas
De levar estes reinos e esta gente?
Que perigos, que mortes lhe destinas
Debaixo dalgum nome preminente?
Que promessas de reinos, e de minas
D’ouro, que lhe farás tão facilmente?
Que famas lhe prometerás, figura estóica?
Que triunfos alcançarás indo além da Troika?