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segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Alguma dúvida?

Posted: 03 Dec 2017 02:37 PM PST

Centeno no Eurogrupo é uma boa notícia para o país

Centeno no Eurogrupo é uma boa notícia para o país

por CGP

Socialista, permitindo reequilibrar as lideranças de orgãos da UE maioritariamente nas mãos do Partido Popular Europeu. De um país pequeno, como foram quase todos os presidentes do Eurogrupo e da Comissão Europeia neste século. Ambicioso, por isso disponível para agradar aos poderes que podem fazer com que esta presidência seja apenas um degrau na hierarquia da UE. E, provavelmente, disponível para ser o primeiro presidente a tempo inteiro do Eurogrupo depois das próximas legislativas. Terão sido estas as características que tornaram Centeno num candidato vencedor à frente do Ministro das Finanças luxemburguês.

Mas Centeno tem outros méritos. Centeno conseguiu perceber muito cedo que o eleitorado da esquerda importa-se bastante mais com os salários da Função Pública do que com a qualidade dos serviços públicos, especialmente do SNS (o eleitorado BE tem seguros de saúde e os funcionários públicos têm ADSE). Mesmo beneficiando de um ciclo económico positivo, teve o mérito de não agravar o défice estrutural. De certa forma, acabou por ser bastante mais liberal do que Vítor Gaspar ao aumentar o peso dos impostos indirectos e, ao deteriorar a qualidade do SNS e da escola pública, deu um incentivo importante aos sistemas de saúde privados e colégios não incluídos na rede pública. Mais do que isso, conseguiu colocar a esquerda em peso a congratular-se pela baixa do défice, contribuindo para que se torna-se consensual na política portuguesa a ideia de que o défice das contas públicas deve ser baixo. Hoje concordamos todos, do BE ao CDS, que há pouca vida política para além de um défice excessivo. Melhor do que isso, daqui para a frente, todas as decisões tomadas pelo Eurogrupo liderado por Centeno serão racionalizadas internamente pela máquina de comunicação da esquerda como sendo as melhores para o país e a UE. Um novo Varoufakis será demonizado e não idolatrado pela nossa esquerda. Ter um PS alinhado com o Eurogrupo é um excelente cenário para o país, principalmente se for acompanhado pelo BE e CDU. De certa forma, a eleição de Centeno para o Eurogrupo é ainda mais importante do que a de Guterres para a ONU. Em termos de resultados prácticos de políticas internas certamente será.

Centeno, de mr. Hyde a dr. Jekyll do Eurogrupo

por estatuadesal

(Nicolau Santos, in Expresso Diário, 04/12/2017)

nicolau

Quando em 1 de Abril deste ano o Expresso colocou em manchete que Mário Centeno estava na corrida ao cargo de presidente do Eurogrupo, o ceticismo entre políticos e analistas foi geral e muita gente considerou que se tratava da nossa partida alusiva ao Dia das Mentiras. Como hoje, 4 de Dezembro, se comprova, era a mais pura das verdades. Mas será que esta eleição é boa para Portugal?

Bom, do ponto de vista do prestígio internacional, é indiscutível que este é um excelente resultado para Portugal. Um país que esteve sob resgate externo entre 2011 e 2015 consegue ter agora dois cidadãos em dois dos mais importantes postos internacionais: secretário geral das Nações Unidas e presidente do Eurogrupo. E se o primeiro tem bastante mais peso a nível mundial, o segundo é bem mais decisivo na Europa.

E é mais decisivo por duas razões: a primeira é que Mário Centeno foi olhado com bastante desconfiança quando se apresentou pela primeira vez numa reunião do Eurogrupo, sobretudo por ser o ministro das Finanças de uma solução governativa liderada por um partido de centro-esquerda apoiado por bloquistas e comunistas; e em segundo porque a política económica que desenvolveu foi, sob muitos pontos de vista, ao arrepio do pensamento dominante na União Europeia, nomeadamente a subida do salário mínimo, a reposição de salários e pensões, o fim de numerosos cortes que tinham sido impostos ao Estado social, a descida de impostos diretos.

É assim extraordinário que entre novembro de 2015 e Novembro de 2017, ou seja, em apenas dois anos, Centeno tenha passado de um ministro das Finanças marginal e olhado com desconfiança para uma quase unanimidade entre os seus pares, que o elegeram agora largamente para presidente do Eurogrupo. Tal só foi possível, como é evidente, porque o ano de 2017 provou por A+B que não havia só um caminho para lidar com a crise; pelo contrário, se houvesse crescimento (e em 2017 ele será de 2,5%, claramente acima dos 1,8% projetados) era possível compatibilizar a devolução de muito do que tinha sido tirado aos portugueses e ao Estado social entre 2011 e 2015 com a redução consistente e acima do esperado do défice e com a diminuição da dívida pública.

Foi isso que Comissão Europeia e FMI foram reconhecendo, corrigindo sempre em alta as suas previsões para a economia portuguesa ao longo do ano, o que culminou com saída do país do Procedimento por Défice Excessivo, para onde tinha caído há seis anos. E foi tudo isso que levou a agência de rating Standard & Poor’s a subir inesperadamente a notação da dívida portuguesa, retirando-a da classificação de “lixo” e levando a que provavelmente a Fitch ainda este ano e a Moody’s no início do próximo sigam o mesmo caminho. Foi ainda isso que permitiu a que, pela primeira vez na sua história, a República Portuguesa fizesse uma emissão de dívida a dez anos com uma taxa de juro inferior a 2%.

Dito isto, o que ganha o país com o facto de ter o presidente do Eurogrupo? Deve sublinhar-se que não houve uma mudança no pensamento neo-liberal que domina a Europa. Centeno chega ao cargo porque era necessário aliviar a pressão e o stress que se instalou entre os países do norte e do sul na sequência da crise das dívidas soberanas e dos programas de ajustamento que foram aplicados e que causaram enorme dor social. Também foi eleito porque o PPE tem representantes seus em quase todas as instituições europeias e era necessário que alguma delas ficasse nas mãos da família socialista. E foi ainda eleito porque não se apresentou nenhum candidato de peso, dos chamados grandes países, ao cargo.

Isso não retira mérito a Centeno e à diplomacia portuguesa mas não nos permite acalentar muitas ilusões. A ortodoxia dominante em matéria de pensamento económico é agora menos asfixiante mas não deixou de existir. Há, contudo, dois pontos onde Centeno pode ser determinante: é se decidir colocar em discussão entre os seus pares o debate sobre o défice estrutural, a sua falibilidade e a necessidade de o substituir por outro indicador bem mais preciso (por exemplo, o peso da despesa em percentagem do PIB); e o segundo é se conseguir colocar na agenda europeia o debate sobre a reestruturação das dívidas soberanas e a sua mutualização, algo para que o presidente francês Emanuel Macron se mostra disponível (embora para a frente e não para as dívidas que se acumularam até aqui) mas que depende da clarificação da situação política na Alemanha para que a discussão possa avançar.

Uma coisa, contudo, é certa: Mário Centeno chega a presidente do Eurogrupo porque demonstrou com resultados que era possível conciliar reposição de salários, pensões e apoios sociais, bem como o aumento do salário mínimo, com diminuição do défice e da dívida, crescimento económico e redução do desemprego. Tudo o que nos andaram a dizer desde 2011 que não era possível fazer.

E nesse aspeto, o Governo PSD/CDS teve o enorme respaldo do Eurogrupo, Comissão Europeia e FMI. Não se pense, pois, que só por Mário Centeno ter sido eleito estas ideias desapareceram ou deixaram de ser dominantes. E a pressão para Centeno actuar de acordo com elas vai ser enorme.

Internamente, o desafio também não será pequeno. Será que se Centeno já fosse presidente do Eurogrupo há dois anos teria conduzido a política económica que desenvolveu em Portugal? É esta a questão central que se vai colocar a Centeno nos dois próximos anos – porque não lhe será possível ser Dr. Jekyll cá por casa e Mr. Hyde no Eurogrupo.

Um capitalista também chora

por Bruno Santos

O presidente executivo da Impresa, Francisco Pedro Balsemão, parece não estar conformado com o negócio que envolve a Altice e a TVI, duas empresas privadas, pelo que exige ao Estado que intervenha no sentido de impedir a venda da estação de televisão ao grupo que também já comprou a PT.

Um dos mais importantes e bem sucedidos representantes do Capitalismo português, em vez de agir como um capitalista e fazer uma oferta de valor superior pelo negócio - afinal, isso é que é a livre concorrência - decide ir chorar para os ombros do Estado, o monstro marinho que uma vezes é um empecilho ao livre funcionamento do mercado, outras um pai protector que vem ralhar aos outros meninos que jogam melhor à bola.  Assim qualquer um pode ser empresário.

Bom, não é bem qualquer um. É alguém que que consegue misturar na mesma notícia a eleição para a presidência do Eurogrupo e a Legionella.

Feicebuque Sic Notícias

Prestígio não paga dívidas

por João Mendes

Fotografia: Francois Lenoir/Reuters@Dinheiro Vivo

A cada vez mais provável escolha de Mário Centeno para liderar o Eurogrupo tem coisas fantásticas, entre elas a oportunidade de expor o ridículo absoluto a que desceu a propaganda bafienta da direita PàF, desta feita protagonizada pelo jornalismo desonesto e faccioso de pasquins como o Sol, que no final de 2016 noticiou a saída de Centeno do governo no início do ano que agora chega ao fim, por opiniões que contam quando se é adepto da degustação de gelados com a parte da cara compreendida entre os olhos e a raiz dos cabelos e pelo Fórum para a Profetização de Desgraças e Invocação de Demónios. Ler mais deste artigo

Barroso acusado de traição

por estatuadesal

(Por Soares Novais, in A Viagem dos Argonautas, 03/12/2017)

furão

Dusan Sidjanski, antigo professor de Durão Barroso, revelou em carta: “Cortei todos os laços com ele.” E Sidjanski, um dos mais prestigiados docentes da Universidade de Genebra, explica, assim, a razão de tão radical decisão: “Ele usou as instituições da UE para participar nos piores bancos globais.”

A acusação de Dusan Sidjanski, que além de professor foi amigo de Durão Barroso, foi conhecida na mesma semana em que a imprensa suíça tornou público o fim da ligação de Barroso à universidade onde estudou e agora dava aulas como professor convidado.

Para Sidjanski a ligação do Dr. Barroso ao Goldman Sachs é uma “mancha para a Europa”. Por isso, sublinha, “não posso acreditar que neste momento ele destrua a sua reputação a este ponto. Isso mostra que ele é fraco."

(Dusan Sidjanski é um dos mais renomados e prestigiados académicos mundiais, Politólogo e professor universitário, Sidjanski nasceu em Belgrado, onde estudou na escola francesa. Sidjanski frequentou a Universidade de Lausanne e formou-se em Ciência Política na Universidade de Paris. Foi ele que fundou o Departamento de Ciência Politíca da Universidade de Genebra e é autor de várias e importantes obras).

A notícia de que a Universidade de Genebra (UG) não renovou o contrato do Dr. Barroso e prescinde dos serviços do “prof” foi tornada pública na última semana pelos jornais suíços, mas entre nós passou quase total e convenientemente despercebida.

O estabelecimento de ensino da Genebra não revelou as razões que o levou a não renovar o contrato com o professor Barroso, mas o jornal “Le Temps” adianta que o seu vínculo ao Goldman Sachs é o motivo para tão drástica decisão. Durão estudou e trabalhou nos anos 80 naquela universidade e agora dava ali aulas sobre políticas europeias.

Uma coisa é certa: a Universidade de Genebra considera que o banco de investimento norte-americano, que agora dá emprego a Barroso, é um dos grandes responsáveis pela crise financeira de 2008. Uma crise que, recordo, provocou a falência de estados e empresas e dizimou milhares de famílias em todo o mundo.

O “Le Temps” assegura que o meio académico suíço se considera “traído” por Barroso. Dr. Barroso que, antes de ser anunciada a sua contratação pelo Goldman Sachs, revelou aos seus pares que iria ter menos tempo disponível, pois iria trabalhar para uma "grande" entidade. "Disse-nos que não nos ia agradar", lembra René Schwok, diretor do Instituto de Estudos Global, da Universidade de Genebra.

Como se vê, o Dr. Durão não se importou em desagradar e trair. O meio académico suíço e a presidência da UE foram apenas as camas de aluguer que utilizou para se deitar na alcova dos gangsters globais..

***

PAPINIANO CARLOS – Depois de amanhã, cumprem-se cinco anos sobre a morte do poeta e escritor que é um dos mais destacados nomes do neo-realismo. Temos a obrigação de o manter vivo. Pela obra que deixou  e pelo exemplo de vida que nos legou.

ZÉ PEDRO – Frontal, irreverente, insubmisso foi assim o Zé Pedro dos Xutos & Pontapés. Um rebelde empenhado na defesa dos direitos sociais, que deu a cara pela despenalização do aborto e sempre se manifestou contra a guerra.

CULTURA DO FOGUETÓRIO – A falta de apoio à Cultura continua a ditar a morte lenta de muitos projectos. Apesar de Portugal ter um ministro que é poeta e do primeiro-ministro dizer-se socialista. Dizem que não há dinheiro para tudo. É mentira, pois não falta dinheiro para a festança. Eis um exemplo: a Secretaria Regional da Economia, Turismo e Cultura da Madeira vai estourar 1.819. 839,90 euros em iluminações de Natal e no foguetório de Fim de Ano. Isto, enquanto o apoio às Artes-DG Artes-Artes de Rua em todo o país se queda por uns insignificantes 250 mil euros.

domingo, 3 de dezembro de 2017

Presidência Portuguesa do Eurogrupo

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por Carlos Araújo Alves

A candidatura de Mário Centeno à Presidência do Eurogrupo tem suscitado diversas interrogações, manifestações de apoio e algumas de repúdio. Apartando-me dos apoios e repúdios de famílias partidárias por pouco interessantes, detenho-me sobre algumas interrogações que me parecem estranhas.
Desde logo, a de saber se Centeno terá ou não tempo para assumir essa presidência e continuar a assegurar as suas funções como Ministro das Finanças de Portugal. Não sei como não haveria de ter tempo para desempenhar, em simultâneo, as funções que outros assumiram antes, para mais com a equipa de qualidade que Centeno diz ter constituído no seu Ministério.

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Outros questionam-se se Mário Centeno estará habilitado com a experiência necessária para o cargo a que se candidata. Parece-me uma questão que não faz sentido, uma vez que se trata de alguém academicamente habilitado e com a experiência que estes dois anos de governação e negociação com o Eurogrupo e Bruxelas lhe granjearam, sempre com sucesso.
As interrogações Ler mais deste artigo

Marcelo Rebelo de Sousa, comentador televisivo

por estatuadesal

(In Blog O Jumento, 03/12/2017)

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Compreende-se que Marcelo se sinta incomodado; habituado a tratar os ministros como se fossem criancinhas o "avô" Marcelo sente-se incomodado por ver um dos seus meninos crescer ao ponto de ter tamanho demais para apanhar palmatoadas: com Centeno na presidência do Eurogrupo como é que o Presidente da República poderá voltar a chegar ao ridículo de o chamar a Belém para ler os seus SMS?

Aceita-se que Marcelo se esqueça de que é Presidente da República e diga uns bitaites na qualidade de comentador televisivo; aliás, desde que as boas abertas liam o boletim meteorológico que ninguém aparecia nas televisões diariamente, incluindo sábados, domingos e feriados, para fazer previsões e analisar as várias zonas frontais que pairam no país. Marcelo não é um Presidente é um Presidentário, isto é, um presidente diário.

Mas vir dizer que é trabalho demais para Centeno ou que o ministro não deve perder o rumo das finanças nacionais roça o ridículo. Se ser presidente do Eurogrupo impedisse um ministro de assumir as responsabilidades nacionais, então apenas o ministro das Finanças do Luxemburgo poderia ser candidato ao cargo. Ou será que  Marcelo está convencido que o único português com capacidade de trabalho é ele?

Compreende-se perfeitamente as dificuldades políticas de Marcelo; depois de os incêndios não terem queimado o PS nas sondagens e encostado cada vez mais à candidatura de Santana Lopes à presidência do PSD, o pior que poderia suceder a Marcelo seria a sua capacidade de prejudicar eleitoralmente o PS ficar limitada pelo sucesso nacional e internacional do governo.

Marcelo quer dar ares de que pode ou não ajudar o PS e o governo; esperemos que não tenham de ser o PS e o governo a ajudar Marcelo. Todos estes afetos e bla bla de Marcelo são muito bonitos mas mais tarde ou mais cedo virá o desencanto, ver-se-à que não é por Marcelo servir umas sopas aos pobres que acaba a pobreza ou por ele ter muitos likes e definir muitas prioridades que o país fica rico. A sua demagogia e populismo terão de enfrentar a realidade e a realidade é que Marcelo pode dar muitos abraços e beijinhos, mas não dá de comer a ninguém.

«O Presidente da República veio pôr freio no ânimo sobre a candidatura do ministro das Finanças Mário Centeno à liderança do Eurogrupo. Marcelo Rebelo de Sousa considera que “pode haver votos dispersos por vários candidatos” e avisa Centeno que “é fundamental não perdermos o rumo em matéria de financeira”.

A candidatura de Centeno ao Eurogrupo foi oficializada na última quinta-feira, com o ministro das Finanças português a partir como favorito, mas Marcelo adverte: “Isso de cantar vitórias… é como o resultado do desafio antes do termo do desafio”. E também diz que considera “bem possível que haja um resultado que se traduza por uma dispersão de votos, mas em que haja um núcleo duro forte e claramente maioritário a favor do ministro das Finanças português”. “Resta saber se existe uma maioria clara”, a favor de Centeno, “neste momento parece que sim, mas a votação é só na segunda-feira”, atirou em declarações aos jornalistas na noite de sexta-feira, à margem de uma iniciativa do Banco Alimentar.

O chefe de Estado considera que “é muito trabalho para ele [Centeno], mas quem corre por gosto não cansa” e mostra preocupação com o rumo das finanças nacionais. Apesar de dizer que, caso ganhe, o ministro português vai ter de “estar na Europa atento ao que é fundamental” para ela, Marcelo diz que Centeno não se pode “esquecer que começou por ser ministro das Finanças português e que só chega lá por se ministro das Finanças português. Não caiu do céu”, sublinhou para logo depois acrescentar ser “fundamental” que o ministro não perca o pé dentro de fronteiras com a eventual nova tarefa, até porque ainda “faltam dois anos para 2019”.» [Observador]

OS TRABALHOS DE COSTA!

por estatuadesal

(Joaquim Vassalo Abreu, 02/12/2017)

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Dos feitos de António Costa ao longo destes ricos e intensos dois anos enquanto Primeiro Ministro de um Governo de apoio parlamentar nunca visto, que eu desde já apelido até de revolucionário, já quase tudo foi dito.

Mas, para mim, o que mais ressalta e, aqui sim, poderíamos falar de uma autêntica “Reforma Estrutural”, é a mudança radical que se verificou em relação ao “status quo” vigente durante quarenta anos, que foi o de ter sido possível alargar o chamado “arco da governação” aos Partidos mais à Esquerda no espectro político, fazendo com que o futuro não seja mais igual ao passado.

E como se trata de uma mudança radical e irreversível eu chamo de “Reforma Estrutural”. A esta não o ser o que será então uma “Reforma Estrutural”? Por isso hesitei entre este título e “Os Trabalhos das Esquerdas” mas, pensando melhor e pensando no texto acho este mais indicado. Espero que concordem…

E esta autêntica revolução foi provocada, por um lado, pelo convencimento pelas Esquerdas de que a estratégia do “quanto pior melhor” era árvore que, depois de mais de quatro anos de pesadelo, não mais daria frutos ( e eu já aqui o disse que mudei o meu sentido de voto por isso mesmo) e da subsequente sua disponibilidade para viabilizar um Governo de Esquerda e, por outro lado, pelo cansaço provocado pela política de autêntica predação social levada a cabo pelo tal governo do ajustamento, que fez com que se tivesse erguido uma autêntica barreira à sua continuação.

Temia-se que o impacto imediato resultante da solução governativa encontrada e da tremenda “azia” que tal provocou numa Direita apanhada de surpresa, acompanhados da imprevisibilidade de um novo Presidente da República, da pressão e postura de Bruxelas com ameaças de sansões, do problema das ajudas aos Bancos, da passagem do Orçamento e da exigência de planos B, C e demais dicionário e a que poderíamos acrescentar ainda alguma duplicidade dos parceiros parlamentares de Esquerda face aos temas estruturantes não negociados, desse mau resultado e a fizesse abortar à nascença.

Mas, felizmente, tal não sucedeu e passo a passo e com estoicismo, nunca cedendo às inúmeras chantagens da Direita e seus aliados nos Média, demonstrando sempre a Bruxelas a sua boa fé, ultrapassando sempre tudo o que dos seus parceiros cheirasse a imediatismo, aproveitando ainda a boleia da recuperação económica europeia, o Governo de Costa foi somando pontos, tanto na política interna como na afirmação externa, por via de uma recuperação sustentada de indicadores que, a partir de certa altura, face à precoce incredulidade, se tornaram num valiosíssimo trunfo.

E sem dar qualquer azo de contrição a Bruxelas que, de outro modo, nunca aceitaria flexibilizar a sua posição de reaccionário princípio, a da reversão de direitos aos trabalhadores e pensionistas, foi possível impor e efectuar as tais reversões, reversões que, com o aumento de rendimento disponíveis para as famílias, mais a confiança conquistada em todos os sectores sociais e da economia, mais a consequente descida do desemprego e folga da Segurança Social, deixou a Direita a falar sozinha e a “patrioticamente” desejar que tudo corresse mal e o fim do mundo chegasse a correr e vestido de diabo!

A recuperação e o crescimento económicos passaram a ser um facto e os indicadores de popularidade e satisfação globais, além de se terem tornado também uma realidade, levaram as sondagens a apontarem o limiar da maioria absoluta para o PS.

Não plenamente esgotadas as medidas contidas nos acordos inicialmente negociados e firmados, mas em vias de ficarem totalmente executadas começou, no meu entender, a instalar-se um clima de preocupação nos Partidos mais à esquerda pois, sendo eles partes integrantes da solução, começaram a ver os louros irem todos direitinhos para o PS, como de algum modo se veio a reflectir nas Autárquicas.

Mas com a Economia a responder como se sabe, a confiança dos consumidores e demais agentes em alta, o grau de satisfação das famílias e das empresas em níveis há muito tempos nunca vistos, com o desemprego a diminuir progressivamente, o crescimento a sustentar-se, as Agências de Rating a tirarem Portugal do incómodo “lixo” de risco etc. etc. e etc…aconteceram a tragédia de Pedrogão e os incêndios de Outubro, mais os acima de cem mortos que provocaram acrescidos dos enormes danos causados.

O Governo foi posto à prova e mais que o Governo o próprio Estado, nas suas múltiplas Instituições e foi o que se viu. O Governo perante o inesperado titubeou, não agiu com a eficácia na acção nem com inteligência no discurso e colocou-se em muitas mentes um ponto de interrogação em relação à sua real competência (em confronto com a eficácia conseguida a todos os níveis nos dois anos de governação) e tal situação de dúvida, exacerbada por uma comunicação social ávida de tensão e morte, foi utilizada até aos limites do imaginário por uma Direita sem quaisquer escrúpulos, bom senso e apenas sedenta de vingança. Vingança de quê? De alguém lhes ter tirado o “poleiro”!

Vieram então as justificações e respostas, as demissões e coisas mais e contrariamente ao que se poderia temer e muitos temiam, os resultados das Autárquicas vieram confirmar que os danos políticos desejados por uma Direita ansiosa por “vendetta” não correspondiam ao entendimento da “vox populi” e, no fim, o PS não saiu fragilizado, antes pelo contrário, e ganhou até em Pedrogão!

As restantes Esquerdas, pese o facto de terem votado favoravelmente o terceiro e penúltimo Orçamento desta Legislatura, começaram a manifestar sinais de indisponibilidade para novos acordos escritos pelo que, tendo de admitir que os próximos dois anos até ao fim da Legislatura venham a ser ultrapassados sem quaisquer crises políticas graves, com altos, baixos, arrufos e sei lá que mais, coloca-se-se uma questão essencial: Como vai ser até às próximas Legislativas e como será depois se, tal como espero e desejo, as Esquerdas se mantiverem maioritárias? Por falta de acordo vão entregar o poder às Direitas?

O PSD vai apresentar um novo líder, que tudo aponta venha a ser Rui Rio e, assim sendo, voltará a colocar-se em cima da mesa por muitos a hipótese de um acordo pós-eleições ao centro (o tal “centrão” novamente, PS+PSD, ou Costa mais Rui Rio). E para isso vão as Esquerdas alertar o eleitorado, tentando-o convencer a por nada deste mundo dar a maioria absoluta ao PS.

É claro que as Esquerdas vão reclamar também como seus os sucessos desses quatro anos de governação, advindos de uma maioria nunca vista ou sonhada e, a haver qualquer solução alternativa em que eles não estejam presentes, irão culpar o PS por tudo o que de menos bom posteriormente suceda.

Mas eu, como não prevejo que façam novamente acordos escritos, elas viabilizarão sempre um Governo minoritário do PS, cientes de que ficarão sempre com a faca e o queijo na mão: poderem reclamar e exigir por um lado e criticar e responsabilizar por outro!

Não prevejo, portanto, vida fácil para António Costa, não falando para já nos conflitos internos que tudo isto possa aportar e prevejo-lhe, antes, muitos e duros trabalhos.

Mas, em nome de tudo o já conseguido, em nome da tal “reforma estrutural”, esse tiro tirado da manga que foi o de introduzir as Esquerdas à sua esquerda na órbita da governação eu, como cidadão empenhado e consciente, muito lhe agradeço essa autêntica “revolução” introduzida neste sistema e desejo do fundo do coração que tudo lhe corra bem e, acima de tudo, que as Esquerdas voltem a ser maioritárias!

Esta é a minha análise! Não consigo ser hipócrita…

Sempre tivemos vários problemas

Ladrões de Bicicletas


Posted: 02 Dec 2017 02:20 PM PST

O texto de David Crisóstomo sobre a putativa ida de Mário Centeno para a chamada presidência do chamado Eurogrupo tem a virtude de avançar com uma hipótese que permite clarificar ainda mais a discussão, talvez contra a vontade do seu autor: “se Centeno nos amarrar [à austeridade] é porque se calhar até concorda com isso e então, más noticias camaradas, temos um problema no Ministério das Finanças agora”.
É claro, como David Crisóstomo saberá porventura melhor do que eu, que a esquerda sempre teve um problema real e outro potencial no Ministério das Finanças. A questão não é pessoal, claro, é antes político-institucional. Esta ida para o Eurogrupo só tornará esta realidade mais saliente, se bem que a razoável conjuntura num contexto de preferências adaptativas possa eventualmente permitir ir gerindo por cá as necessárias tensões.
Da erradamente chamada estabilização do sistema financeiro à quebra do investimento público, sempre tivemos um problema real que se manifesta também da saúde à educação, passando por outros serviços públicos sob pressão. Foi de resto por aqui que Centeno terá conquistado a confiança de quem manda a norte. Mais concretamente, logo por ter aceite que Portugal continuasse a ser uma cobaia bancária no caso Banif, mesmo alardeando a sua discordância. E lembrem-se do que Centeno, já em modo Dijsselbloem, disse sobre o sucesso que tem sido a Grécia.
Mas alguém tem alguma dúvida que Centeno fará o mesmo cá ou lá se tivermos outra crise da zona euro mais ou menos semelhante, independentemente de eventuais e irrelevantes estados de alma? Felizmente, temos evitado este problema potencial, mas convém não fiar num país periférico, frágil e vulnerável, brutalmente endividado em moeda estrangeira.
Por esforço realista, defendi no texto anterior que Centeno não terá de se adaptar muito ao peso das estruturas europeias e do directório das potências, de Merkel a Macron, que de resto já terá dado o seu sintomático assentimento. Não podemos perder de vista o seu perfil ideológico, incluindo as suas posições neoliberais em matéria laboral, que, já agora, imagino não sejam irrelevantes na falta de vontade governamental em superar a herança da troika e na confiança que tal gera nos erradamente chamados parceiros europeus (como se isto fosse um debate e entre iguais). Entretanto, é evidente que, em última instância, a força de Centeno no governo sempre foi função das regras que inscrevem o fundamental do Consenso de Bruxelas nas políticas públicas. O que apesar de tudo vai contra a sua lógica, da reposição dos feriados à subida do salário mínimo, tem sido resultado das pressões das esquerdas soberanistas.
Desculpem eventualmente contribuir para estragar a festa, mas estou mesmo farto dos danos que o voluntarismo europeísta, também patente na intervenção de hoje de António Costa, tem causado às esquerdas e sobretudo aos povos dos Estados que estas têm, supostamente, a obrigação de defender sempre.
Adenda. Aproveito para relembrar um texto premonitório de João Ramos de Almeida, de final de Maio, sobre um revelador artigo de Centeno no Público, que ganha em ser relido agora: “Vai dar com os burrinhos na água. E, pior do que tudo, nós também”.