Translate

terça-feira, 15 de maio de 2018

Entre as brumas da memória


Dica (760)

Posted: 15 May 2018 09:54 AM PDT

Populism, Trump, and the future of democracy (Michael J. Sandel)
.

Israel e Eurovisão

Posted: 15 May 2018 06:10 AM PDT

Gostava tanto, mas tanto, que a final da festa das cantigas tivesse lugar uma semana mais tarde para saber se a vencedora seria a mesma…

.

A imigração é uma oportunidade, não é um problema

Posted: 15 May 2018 03:34 AM PDT

«Há 30 mil imigrantes a trabalhar em Portugal, que contribuem para a Segurança Social, e a quem não é concedida autorização de residência por não conseguirem comprovar a sua entrada legal no país. Há 30 mil pessoas num limbo porque, há dois anos, passou a ser exigido que os imigrantes fizessem aquela prova e que nem sempre era exigida até então, e para as quais o Estado tem de encontrar uma resposta rápida.

O eterno problema da morosidade na avaliação dos processos mantém-se para lá de qualquer mudança governativa, algo entre as sistemáticas queixas de falta de pessoal e uma aflitiva burocracia que, às vezes, até parece intencional. Esperar três anos (ou mais) pela concessão de uma autorização de residência não é um tratamento decente para quem a pede, razão da manifestação de imigrantes, ontem, à porta do Parlamento, e é contraproducente para os interesses do país. Portugal precisa de imigrantes por razões demográficas, que ninguém põe em causa, e por razões económicas. Dados do INE comprovam que o peso relativo dos empregadores estrangeiros no total de empregadores tem vindo a aumentar e que a taxa de actividade da população estrangeira atingiu nas últimas décadas, segundo os últimos Censos, taxas de actividade superiores às verificadas entre os nacionais.

A imigração é um tema politicamente e socialmente pacífico em Portugal. Este é o segundo país da União Europeia onde é mais positiva a percepção quanto à integração dos imigrantes, como o atestam estudos do Eurobarómetro. Mas entre as preocupações de segurança e as necessidades demográficas ou económicas do país, quem ganha é sempre a burocracia. É uma questão de justiça conciliar a segurança do Estado com a atribuição de autorizações de residência num tempo razoável de espera e com menos burocracia e mais rapidez. O próprio sindicato que representa os inspectores do SEF o diz, acrescentando que a actual Lei da Imigração nem facilita a vida dos candidatos à imigração nem facilita a vida aos serviços de segurança do Estado.

A imigração para Portugal de quem não tem um visto Gold deve ser encarada mais como uma oportunidade do que como um problema. Não faz sentido que o mesmo Estado que os reconhece como contribuintes se recuse a reconhecê-los como cidadãos e lhes negue direitos básicos como os de residência ou de acesso ao Serviço Nacional de Saúde.»

Amílcar Correia

.

Palestina

Posted: 14 May 2018 02:32 PM PDT

E agora o "lindo poema" da canção israelita que ganhou o festival.

Para Português Ler

13/5 às 16:35 ·

E agora o "lindo poema" da canção israelita que ganhou o festival. "Linda" mensagem que eu não consigo vislumbrar! Gostaria de saber o que viram, leram... É que eu não consigo ver nada de bonito nisto!
Salvador, foste um oásis neste certame, mas voltou tudo ao mesmo, se é que não piorou.
Isto não é Para Português Ler!

Brinquedo - Por Netta Barzilai

Ri, outch, hey, hm, lá
Ri, outch, hey, hm, lá
Ri, outch, hey, hm, lá

Ri, outch, hey, hm, lá
Ri, outch, hey, hm, lá
Ri, outch, hey, hm, lá

Olha para mim, sou uma criatura linda
Não me importo com a tua pregação moderna
Sejam bem-vindo meninos, barulho de mais, vou ensinar-lhes
Pám pám pá hu, turrám pám pá hu

Ei, acho que te esqueceste de como jogar
O meu urso de peluche está a fugir
A Barbie tem algo a dizer
Hey

Ei! O meu rei manda que me deixes em paz
Levo o meu Pikachu para casa
És estúpido, como o teu smartphone

Mulher Maravilha, nunca te esqueças
De que és divina e ele está prestes a arrepender-se
É um rapaz có-có-có-có, có-có-có-có
Có-có-có-có, có-có-có-có
Não sou o teu có-có-có-có, có-có-có-có

Não sou o teu brinquedo (o teu brinquedo, não)
Rapaz estúpido (rapaz estúpido)
Agora vou derrubar-te, fazer-te assistir
A dançar com as minhas bonecas ao ritmo do c...alho
Não sou o teu brinquedo (cululi, cululu)

Nã-nã-nã-não sou boneca
Nã-nã-nã-não sou boneca

(Cululi, cululu) Sinos de casamento a tocar
(Cululi, cululu) Homens do dinheiro bling-bling
Não me importo com o teu dinheiro, rapaz
Pám pám pá hu, turrám pám pá hu

Mulher Maravilha, nunca te esqueças
De que és divina e ele está prestes a arrepender-se
É um rapaz có-có-có-có, có-có-có-có
Có-có-có-có, có-có-có-có
Não sou o teu có-có-có-có, có-có-có-có

Foto de Para Português Ler.

China copia Bugatti Chiron e vende-o por 4.200€

China copia Bugatti Chiron e vende-o por 4.200€

Os franceses vendem o Chiron por 2,5 milhões, antes de impostos. Os chineses propõem uma versão muito mais barata e (ainda por cima) eléctrica. Não é bem igual, mas lá que faz lembrar, lá isso faz...



O Chiron da "loja dos 300" contra o original de 1.500 cv. A diferença em potência é grande, como tudo o resto, mas o preço não lhe fica atrás. Veja aqui como é o bólide oriental

11 fotos

Autor
Mais sobre

Aos chineses pode faltar de tudo um pouco, dos salários decentes ao respeito pelos direitos humanos e, sobretudo, criatividade. Mas lata até têm (de sobra): copiam tudo o que mexe, protegidos por uma lei que acha que roubar as ideias e o estilo dos outros é… normal. Quer mais um exemplo? O Bugatti Chiron chinês, que uma companhia quase desconhecida – a Shandong Qilu Fengde – apelida de P8.

Basta olhar para o P8 para nos apercebermos de onde veio a “inspiração”, com o Chiron chinês a apropriar-se da grelha tipo ferradura que sempre caracterizou a marca criada por Ettore Bugatti em 1909, os grupos ópticos com quatro LED de cada lado do actual Chiron (OK, aquilo mais parece um arranjo natalício, mas de má qualidade). E, como se tudo o resto não fosse já suficientemente abusivo, até a tradicional pintura a duas cores, com o característico “C” a destacar a zona posterior da carroçaria. Mas depois surgem as diferenças, especialmente ao nível da dimensões, pois se o Chiron original, o francês, tem mais de 4,5 metros de comprimento e 2 metros de largura, o chinês fica tão atrás nas dimensões, como na elegância.

O Chiron da “loja dos 300” foi revelado pela Car News China e, mesmo sem ver o veículo ao pormenor, arriscamos avançar que não terá uma cópia do motor W16, com oito cilindros de capacidade. É também altamente provável que não atinja os 1.500 cv, não recorra a quatro turbocompressores e, muito menos, a quatro rodas motrizes. Asas móveis, que podem funcionar como travão aerodinâmico, não devem igualmente fazer parte do cardápio que anima o Chiron low cost, que dificilmente fará 420 km/h e que muito menos será capaz de passar os 100 km/h em 2,5 segundos, os 200 em 6,5 segundos e os 300 km/h em 13,5 segundos.



O Chiron é, eventualmente, o mais respeitado dos superdesportivos

8 fotos

De acordo com a Car News China, o P8 é aquilo a que os chineses chamam um Low Speed Electric Vehicle e, pelo aspecto, com ênfase no Low Speed. O motor eléctrico tem um pouco menos de potência do que o Tesla Model S P110D (612 cv), ou até os 92 cv do Renault Zoe. Para sermos mais precisos, tem apenas 3,3 cv e é alimentado por uma bateria de 72V de ácido e chumbo, que se poderia caracterizar como muito avançada se ainda vivêssemos no tempo do Cro-Magnon.

A velocidade máxima do P8 evita qualquer tipo de multa por excesso de velocidade (ou, pelo menos, a maioria), uma vez que o bólide não ultrapassa 65 km/h, para depois ter uma autonomia de 150 km. Muito provavelmente, a descer. Similar aos melhores carros eléctricos modernos, o P8 apenas tem um exagerado tempo de recarga, nada menos do que 10 horas.

Mas como nem tudo pode ser mau, também o Chiron chinês traz boas notícias. É proposto na China por 31.999 yuan, ou seja cerca de 4.228€. Um “pouco abaixo” dos 2,5 milhões necessários para ir buscar um Bugatti Chiron à fábrica, que se por acaso quiser registar na China, com taxas de importação, ambiente, supercarros e outras, pode atingir os 7,6 milhões de euros.

Israel morreu

por estatuadesal

(Daniel Oliveira, in Expresso Diário, 15/05/2017)

Daniel

Daniel Oliveira

É fim de semana e a praia está à pinha. Ouço, além do hebraico e do russo, todas as línguas do mundo. Aquela confusão poliglota é o melhor retrato da mistura israelita que a beleza das suas mulheres tão exuberantemente exibe. O contraste com Jerusalém é absoluto. Em vez do domínio asfixiante dos judeus ortodoxos, cujos bairros são, muito mais do que os dos árabes, bastiões de intolerância e conservadorismo, é ali que ainda se adivinha o que Israel já foi. Em vez do peso insuportável da história, onde as três religiões do livro se cruzam para mostrarem que são praticamente iguais e por isso não se entendem, é possível encontrar em Telavive os restos da esperança no futuro que o nascimento de Israel trouxe ao mundo.

Longe das fronteiras do conflito (na medida em que alguma coisa é longe de outra naquele pequeno pedaço de terra), podíamos dizer: Israel é uma sociedade tolerante, democrática e cosmopolita. Para quem, como eu, tinha acabado de chegar do Líbano (passando pela Jordânia para contornar a fronteira eternamente encerrada), até se podia dizer mais: que, ao contrário da selvajaria privada libanesa, ainda sobram em Israel alguns traços socializantes que o sionismo original transportava. Um sonho comunitarista que, no imaginário israelita, foi substituído pela violência conquistadora dos colonatos. Imagino que é por esta fachada agradável que se ficam os que, contra todos os factos, ainda defendem o indefensável.

Só que nunca fui a Israel sem ir à Cisjordânia. Sem passar horas em autocarros ou táxis e assistir à praxe quotidiana de velhos a serem humilhados por soldados imberbes. Só que visitei as pequenas cidades cercadas, falei com os professores que nunca sabem se os seus alunos conseguem passar os checkpoints em cada manhã. Com os médicos que falam dos que morrem dentro de ambulâncias, parados durante horas pela arbitrariedade das autoridades israelitas. Só que falei com os agricultores que veem as suas colheitas serem assaltadas por colonos com a proteção ativa dos militares. E falei com uns corajosos jovens israelitas que servem de escudos humanos para que este roubo não aconteça. Sabem que, ao contrário dos palestinianos, os militares ainda os consideram humanos. Só que vi o resultado do roubo de água, das demolições e da ocupações de casas, como se uma qualquer autoridade divina desse a um povo o direito de roubar ao outro o que lhe pertence. Vi a sabotagem organizada de forma metódica e paciente para tornar um Estado palestiniano inviável. Mais do que isso: para transformar a existência quotidiana dos palestinianos sadicamente insuportável, numa estratégia planeada e prolongada de expulsão de todo um povo da sua própria terra. Só que falei com mães palestinianas num país onde uma quantidade absurda de jovens rapazes passaram por prisões israelitas. Só que falei com os próprios jovens, que crescem na impossibilidade de não odiarem aqueles que os humilham desde o primeiro dia da sua existência. E concluí que o milagre é não haver em cada jovem palestiniano um candidato a terrorista.

Só que falei com árabes com cidadania israelita, os que tiveram “direito” a continuar na terra onde sempre viveram e que na prática são tratados como cidadãos de segunda. “Os árabes israelitas são um problema ainda maior do que os palestinianos e a separação entre os dois povos deverá incluir também os árabes de Israel... por mim eles podem pegar no seu baklawa (doce árabe típico) e ir para o inferno.” O homem que disse isto em 2008 era ministro dos Assuntos Estratégicos. Chama-se Avigdor Liberman, é hoje ministro da Defesa e assinalou os 70 anos de Israel com o encerramento do corredor humanitário para Gaza. Compreende-se esta desconfiança. Foi Ze’ev Boim, político proeminente do Likud (partido maioritário que governa) entretanto falecido nos EUA, ministro da Agricultura, da Habitação e da Imigração de sucessivos governos, que disse que o terrorismo dos palestinianos tinha razões “genéticas”. Um nacional-socialista não diria melhor. Assim sendo, já se sabe que não se pode confiar num árabe, tenha ele a cidadania que tiver. Como não se podia confiar num judeu.

E tudo isto me leva a dizer que Israel seria uma democracia se não fosse quase tudo. Assim como a África do Sul era uma democracia para os brancos que se estivessem nas tintas para os negros.

Também estive duas vezes em Gaza, acompanhando delegações heterogéneas de responsáveis políticos europeus. E depois de estar em Gaza passa a ser insuportável estar deitado numa praia de Telavive. Porque só é possível amar Israel se nos dotarmos de uma extraordinária insensibilidade humana perante tudo o que está à sua volta. Quem entra em Gaza nunca mais olha para aquele país da mesma forma. A claustrofobia de um território com tamanho do concelho de Tomar onde se amontoam quase dois milhões de pessoas miseráveis é insuportável. Cercada por um muro, os medicamentos e alimentos só entram quando os israelitas querem. O que se produz também só sai quando e se eles quiserem, num território hermeticamente fechado onde o desemprego se aproxima dos 70%. Os bombardeamentos ou as expedições militares punitivas são frequentes, destruindo infraestruturas fundamentais para a sobrevivência das populações e matando quem esteja no caminho.

Tudo nos transporta para Varsóvia, no início dos anos 40, onde os melhores líderes do sionismo socialista perderam a vida. Depois de ter combatido a polícia judaica, a ZOB (organização onde se juntavam sionistas de esquerda) foi a principal força no levantamento do gueto. Os seus líderes morreram do mesmo gesto derradeiro que leva muitos palestinianos a caminharem até à fronteira de Gaza esperando o tiro fatal que será celebrado por um militar israelita a quem explicaram, desde que nasceu, que do outro lado não está um humano. “A grande marcha do regresso”, que já custou a vida a dezenas de palestinianos da Faixa de Gaza, é um grito pelo direito a uma vida com dignidade. Ou, pelo menos, pelo direito a não ser recordado apenas como vítima.

Penso que foi depois de visitar Gaza que Mario Vargas Llosa, escritor e ex-candidato presidencial da direita peruana, reviu drasticamente a sua posição sobre Israel: “É extraordinário como integraram pessoas com diversas línguas e culturas. O trágico é que se transformaram num país colonial”. Conheci, numa outra viagem que fiz a Israel, um pouco desse país que Vargas Llosa elogia. Foi pouco depois de mais uma guerra com o Líbano e na cidade que mais a sentiu: Haifa. Haifa é no extremo norte do país. Sendo uma das cidades onde vivem mais árabes com cidadania israelita, é conhecida pela paz relativa entre judeus (desde os anos 90 muitos são de origem russa), árabes muçulmanos e árabes cristãos. Na sede de um movimento pacifista de mulheres judias e árabes que se batiam pela igualdade de tratamento dos respetivos grupos no processo de reconstrução ouvi de uma ativista judia mais velha um resumo simples do processo de ocupação: “Isto é como um queijo suíço, Israel fica com o queijo, a Palestina fica com os buracos”. E explicou porque não havia grandes razões para otimismo. A única vez que ela tinha visto muçulmanos, cristãos e judeus juntos foi quando os seus respetivos líderes religiosos se manifestaram contra uma marcha LGBT em Jerusalém. Só o ódio a terceiros os parece conseguir unir, resumiu.

Foi entre estes militantes do quase nada que sobra da esquerda Israelita, cada vez mais cercada por uma unidade nacional baseada no intolerância xenófoba, que mantém no poder a aliança sinistra entre um crápula como Benjamin Netanyahu e um neofascista como Avigdor Liberman, que encontrei os mais corajosos resistentes. E entre eles os mais ousados eram, sem qualquer dúvida, os refuseniks, jovens conscritos que enfrentaram a prisão e a rejeição social generalizada por não aceitarem a prestar serviço militar nos territórios ocupados. Cada vez mais insignificante, ainda havia, da última vez que lá estive, um Israel que resistia. Mas já nem os intelectuais que dantes se manifestavam em nome do respeito pelos direitos dos palestinianos abrem a boca. Pedem timidamente a paz, em declarações ocas de sentido e intenção. Israel é uma sociedade cada vez menos crítica, pluralista e aberta ao diálogo e à diferença. O cerco que fez aos palestinianos acabou por cercar os israelitas.

Sim, em Israel ainda há liberdade de expressão e de imprensa. O que torna tudo isto mais assustador. Foi possível instalar a desumanização do outro com uma repressão mínima dos israelitas. A responsabilidade é, neste caso, mesmo coletiva. O mal banalizou-se com pouquíssima resistência. Instalou-se até fora de Israel, perante a imposição da ideia absurda de que um povo que foi vítima do maior crime da história não pode, ele próprio, participar num outro crime. Esta ideia de que qualquer povo é portador de uma qualquer excecionalidade ética foi a base para os piores crimes cometidos contra os judeus. Foi até a ideia de que os judeus seriam feitos de uma massa diferente de todos os humanos, com as suas maravilhas e misérias, que serviu de argumento para os tentar extinguir. A condescendência com as políticas criminosas do Estado de Israel é filha do antissemitismo. Vive dos mesmos enganos.

Israel morreu. Foram os seus muros, os seus guetos e as suas purgas que o mataram. Era a esperança da humanidade. É a tragédia que nos lembra que a impunidade cria o monstro. É uma das maiores deceções da humanidade.

Israel fez um longo percurso numa tensão permanente entre diversas correntes do sionismo. A vitória definitiva e inelutável da sua versão revisionista só poderia terminar aqui.

Quando Menachem Begin, antigo líder do grupo radical Irgun, responsável pelo atentado ao Hotel King David (o terrorismo é sempre uma questão de perspetiva) e que viria a ser o líder histórico da direita israelita, visitou Nova Iorque em 1948 não foi recebido apenas com aplausos. Uma carta assinada por Hannah Arendt, Albert Einstein, Sidney Hook e mais 24 judeus era clara na sua avaliação do Herut, partido que daria origem ao Likud, chamando à atenção para o comportamento desta ala radical para com os árabes, que o massacre de Deir Yassin tão bem ilustrara: “Entre os fenómenos políticos mais perturbadores de nossos tempos está o surgimento no recém-criado Estado de Israel do Partido da Liberdade (Tnuat Haherut), um partido político próximo na sua organização, métodos, filosofia política e apelo social dos partidos nazis e fascistas”. (ver AQUI). E foi o Likud e forças ainda mais extremistas que acabaram por determinar o que Israel é hoje.

O Estado de Israel nasceu de um sonho de liberdade e de segurança. O sonho era legítimo e o nascimento do Estado não o discuto. Nenhum Estado teve o direito natural a nascer e todos eles se afirmaram com guerras, crimes e ocupações. O problema é aquilo em que Israel irremediavelmente se transformou. O objetivo de expulsar os palestinianos da sua terra passou a ser constitutivo da identidade do país. O sonho de liberdade acabou num estado xenófobo, militarista e profundamente corrupto. Israel perdeu a alma. “Os nossos corações endureceram e os nossos olhos enublaram-se”, escreveu, em 2009, o jornalista israelita Gideon Levy nas páginas do Haaretz.

Perderam-se também os palestinianos. Outrora a elite dos árabes, tolerante e laico por força de viver num lugar de passagem e de encontro, o povo palestiniano foi deformado por 70 anos de opressão. Entalado entre o ódio e o colaboracionismo (diz-se que o cimento para a construção dos muros que os cercam foi vendido por empresas palestinianas), já nada de bom ali pode nascer. A última tentativa foram umas eleições livres boicotadas por uma “comunidade internacional” que não gostou dos resultados. Não perceberam que a vitória do Hamas contra a Fatah não correspondia a uma adesão ao radicalismo religioso, a que a maioria dos palestinianos sempre foi insensível, mas sim à punição de uma liderança corrupta. Foi a mais básica exigência cidadã que aplaudimos em qualquer democracia ocidental. E com este boicote, imposto pelo mesmo Israel que financiara o nascimento do Hamas para fragilizar Arafat, os palestinianos perceberam que também a democracia lhes estava interdita.

Israel nasceu com o apoio das forças mais progressistas no mundo, dirigido por homens e mulheres que sonharam viver numa pátria de liberdade. É hoje governada por um corrupto que depende de forças de extrema-direita e tem como maior amigo Donald Trump. Israel morreu. Foram os seus muros, os seus guetos e as suas purgas que o mataram. É uma tenebrosa prisão em que a vítima envelhecida repete muito do que aprendeu com o carrasco na sua juventude. Israel era a esperança da humanidade. Hoje é a tragédia que nos lembra que qualquer pessoa, povo ou Estado cometerá os piores crimes se nada fizermos para o impedir. Que a impunidade cria o monstro. Israel é uma das maiores deceções da humanidade.

A banca portuguesa é o cancro da nação

Novo artigo em Aventar


por João Mendes

Até os terroristas da Moody's concordam que o maior risco para Portugal continua a ser a banca. Esqueçam o que dizem os pulhinhas jornaleiros, que servem os pulhas que mandam nisto tudo: não trabalhamos pouco, não vivemos acima das nossas possibilidades nem somos despesistas, excepto nos casos em que o caro leitor acumula funções com a de pulha autárquico que usa dinheiro dos contribuintes para propaganda pré-eleitoral e derivados corruptos. Ler mais deste artigo