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quinta-feira, 9 de agosto de 2018

Incêndios. Fogo em Monchique está "mais tranquilo"

9 ago 2018 17:08

MadreMedia / Lusa

Atualidade

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Este artigo é sobre Faro. Veja mais na secção Local.

O incêndio que deflagrou na sexta-feira no concelho de Monchique, no Algarve, está hoje à tarde “mais tranquilo”, sem chamas em atividade, mantendo-se duas zonas que dão ainda “alguma preocupação”, disse à Lusa o presidente da Câmara.

Incêndios. Fogo em Monchique está FILIPE FARINHA /LUSA

“Obviamente que está mais tranquilo. Já não temos as chamas em atividade e isso dá-nos, de alguma maneira, alguma tranquilidade”, afirmou à agência Lusa Rui André, cerca das 16:40.

O autarca ressalvou que ainda não é altura “de baixar os braços”, tendo em conta os “cenários” vividos nos últimos dias, com diversos reacendimentos, mas também porque a tarde é um período do dia em que se “levanta sempre vento”.

Segundo Rui André, são duas as zonas que, hoje à tarde, dão “alguma preocupação”. A zona das Caldas/Nave, no concelho de Monchique, e a zona da barragem, no concelho de Silves.

“Estão a ser monitorizadas pelos operacionais no terreno e não deverá haver nenhum problema de maior”, acrescentou, sublinhando que o terreno “está muito quente”, pelo que alguns pontos merecem “alguma atenção” já que há a possibilidade de reacendimentos.

O incêndio rural, que está a ser combatido por mais de mil operacionais, deflagrou na sexta-feira à tarde em Monchique, no distrito de Faro, e lavra também no concelho vizinho de Silves, depois de ter afetado, com menor impacto, os municípios de Portimão (no mesmo distrito) e de Odemira (distrito de Beja).

Segundo um balanço feito hoje de manhã, há 36 feridos, um dos quais em estado grave (uma idosa internada em Lisboa), e 299 pessoas estão deslocadas e distribuídas por centros de apoio, depois da evacuação de várias localidades.

Outras nove pessoas acamadas estão dispersas por unidades de saúde.

De acordo com o Sistema Europeu de Informação de Incêndios Florestais, as chamas já consumiram 23.478 hectares. Em 2003, um grande incêndio destruiu cerca de 41 mil hectares nos concelhos de Monchique, Portimão, Aljezur e Lagos.

[Notícia atualizada às 17:20]

Ártico: Refúgio em Risco

As três espécies norte-americanas de urso (preto, polar e pardo) encontram-se no ANWR. Florian Schulz estava a fotografar renas junto do rio Canning quando reparou neste urso-pardo, à distância: quando voltou a olhar para ele, já estava a 40 metros, fitando-o nos olhos. “A possibilidade de encontrarmos um urso aguça-nos os sentidos”, observa um vigilante do Serviço de Pescas e Vida Selvagem, responsável pela gestão do refúgio. Aqui, a caça ao urso-pardo é legal.

O Congresso dos EUA aprovou a exploração petrolífera numa área remota do Árctico, era a derradeira fronteira selvagem.

Texto:  Joel K. Bourne, Jr.

A avioneta descolou, progredindo na pista improvisada antes de sobrevoar lentamente a aldeia de Kaktovik. Pouco depois, era apenas um ponto amarelo elevando-se sobre a tundra — talvez o território mais contestado dos EUA. 

Há milénios que a planície costeira do Refúgio Nacional de Vida Selvagem do Árctico (ANWR) é escolhida no Verão por manadas de renas e bandos de aves migratórias e no Inverno por ursos-polares. É igualmente terreno de caça para os povos autóctones do Alasca. Escondidos nas profundezas, existem também possivelmente 7.700 milhões de barris de petróleo e é aqui que o problema começa.

Em 1980, quando o Congresso criou este refúgio de 7,8 milhões de hectares, o país enfrentava a segunda crise petrolífera em menos de uma década. Por isso, o legislador adiou a decisão sobre o destino da zona potencialmente rica em petróleo da planície costeira, que abrangia 607 mil hectares. Desde então, têm sido travadas disputas sobre esse destino.

“Quando aqui cheguei pela primeira vez, na década de 1970, isto era um território livre”, afirmou o piloto Pat Valkenburg, biólogo reformado da Agência de Pesca e Caça do Alasca. “Agora, de cada vez que o ANWR figura em notícias na imprensa, aparece mais uma multidão.”

Passados quase quarenta anos e mais de uma dúzia de tentativas fracassadas do Partido Republicano para abrir o território à exploração petrolífera, a senadora Lisa Murkowski, do Alasca, introduziu discretamente uma adenda sobre a prospecção de petróleo na legislação fiscal aprovada pelo seu partido no ano passado.

Segundo os peritos, a prospecção demorará muitos anos a acontecer, mas a actual administração federal norte-americana está ansiosa por avançar com as duas vendas de concessões, determinadas pela nova legislação. Partindo do princípio de que diversos obstáculos regulamentares e jurídicos possam ser superados, o estado do Alasca e a administração federal dos EUA dividirão entre si as receitas, estimadas em 2.000 milhões de dólares pelo Gabinete Orçamental do Congresso. Atendendo aos preços mais recentes das concessões, esta estimativa padece de um optimismo delirante.

O estado do Alasca, onde não existe imposto sobre as transacções nem imposto sobre o rendimento, precisa de todos os tostões. A indústria do petróleo e do gás financia 90% do orçamento estadual, em grande parte através de um imposto cobrado sobre o petróleo extraído em North Slope e que é transportado através do Sistema de Oleodutos Trans-Alasca (TAPS).

Desde que os preços do petróleo caíram a pique em 2014, o Estado começou a registar défices orçamentais de largos milhares de milhões de euros. Mais preocupante ainda é o facto de, apesar da recente recuperação, a quantidade de petróleo que corre pelo oleoduto ter diminuído regularmente desde 1988. Num relatório de 2012 publicado pela Agência Norte-Americana para a Informação sobre Energia, estimava-se que, a manterem-se baixos os preços do petróleo, o oleoduto seria encerrado em 2026. Mais de um terço dos trezentos mil postos de trabalho locais dependem do petróleo e do gás.

A oeste do ANWR, a Reserva Nacional de Petróleo do Alasca e os territórios adjacentes já estão abertos à exploração petrolífera. Sondagens recentes avaliaram em 8,7 mil milhões de barris o volume de petróleo recuperável, mais mil milhões de barris do que no Refúgio do Árctico.

Uma fêmea e as suas crias exploram uma língua de terra que se estende pelo mar de Beaufort. Os ursos aguardam que a água congele para poderem caçar focas, a sua principal fonte de alimento. O desaparecimento do gelo marinho tem obrigado os ursos a esgravatar o seu sustento em terra e reduziu em 40% a população na região austral de Beaufort.

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Embora os políticos do Alasca andem desesperados por petróleo, o país regista agora um abastecimento estável de petróleo produzido por fragmentação do xisto e de gás, provenientes dos 48 estados continentais. A relação custo-benefício da prospecção petrolífera na última fronteira selvagem dos EUA é por isso calculada de maneira diferente. “Essa é a pergunta mais relevante,” diz o economista Mouhcine Guettabi, da Universidade do Alasca. “Vai-se maximizar o bem-estar de quem? Valorizamos a importância dada por cada cidadão às regiões bravias? Ou maximizam-se apenas os benefícios colhidos pelos cidadãos do Alasca?”

O fotógrafo Florian Schulz cresceu no Sul da Alemanha e sempre sonhou com terras bravias. “Na Europa, não há nada parecido com isto”, afirma. “É uma das últimas paisagens realmente bravias.”

Florian passou grande parte dos últimos quatro anos a explorar o refúgio. Desde a floresta de taiga, no Sul, passando pelos penhascos e pradarias alpinas da cordilheira de Brooks, passando pelas colinas de tundra que se vão aplanando até alcançarem o mar de Beaufort, o ANWR é composto por mais de 78 mil quilómetros quadrados.

O contraste observável na fronteira do refúgio, junto do rio Canning, é escandaloso: na outra margem, avista-se o novo campo de gás Point Thomson, da ExxonMobil, com cerca de 120 hectares de aterros, edifícios de aço, tanques, docas e uma pista de aviação, além de cerca de 18 quilómetros de estradas. Um único gasoduto serpenteia para oeste, em direcção à bruma castanha que paira perpetuamente sobre a baía de Prudhoe, o centro industrial de North Slope.

Em 2005, depois de eu e Pat Valkenburg sobrevoarmos o caudal do Canning de regresso ao refúgio, ele apontou para grupos de renas que rapidamente se transformaram em manadas dispersas.

“Vai-se maximizar o bem-estar de quem? Valorizamos a importância dada por cada cidadão dos EUA às regiões bravias? Ou maximizam-se apenas os benefícios colhidos pelos cidadãos do Alasca?” — Mouhcine Guettabi, economista, Universidade do Alasca

De repente, logo depois de um vale estreito, lá estavam dezenas de milhares de renas. Descrevemos uma curva lenta sobre a floresta. A luz dourada do sol do Árctico banhava a manada e o vale.

Actualmente, a manada de renas prospera. Estima-se que a população ronde os 218 mil animais. Mais de metade das fêmeas dão à luz dentro do território do ANWR. Os ursos-polares não prosperam: a população da zona meridional do mar de Beaufort decaiu 40% na primeira década deste século. Os ursos mostram-se menos saudáveis, têm menos crias e o número de crias mortas aumenta. À medida que o gelo marinho se torna mais fino, cada vez mais ursos terão de procurar abrigo em terra durante o Inverno. Na costa, existe o melhor habitat do Alasca para este efeito.

Ninguém sabe ao certo quanto petróleo existe por baixo dessa planície, nem a maneira como a exploração petrolífera poderá afectar a sua vida selvagem. Antes de o governo vender as concessões, terá de realizar um estudo de impacte ambiental, no qual a intervenção dos peritos e do público pesará. Os dois lados do debate preparam-se para um demorado combate.

“Não queremos que se vendam as concessões à pressa”, resume Kara Moriarty, presidente da Associação do Petróleo e do Gás do Alasca. “Sabemos que a comunidade ambientalista contestará a proposta, as vendas e os resultados.” O seu filho de 7 anos, diz-me, terminará o curso de engenharia antes que qualquer petróleo seja extraído do ANWR.

Na opinião de Steven Amstrup, colaborador da organização Polar Bears International, as companhias petrolíferas poderão atenuar o seu impacte sobre os ursos se, por exemplo, limitarem a exploração até Abril, época em que os ursos saem dos covis de Inverno e se encaminham para o mar. No entanto, essas medidas ignoram o enquadramento global da questão, afirma Steven. “Já sabemos como salvar os ursos polares”, diz. “Temos de parar de queimar petróleo. Se não o fizermos, pouco importam as leis em vigor.”

A verdade é que o debate diz respeito às gerações futuras: que factores serão valorizados na região setentrional do Alasca? Um punhado de barris a mais de um combustível controverso? Ou o seu próprio Parque Jurássico com vida real? “Uma coisa é certa”, afirma Steven Amstrup. “Nos lugares onde fizerem perfurações, deixará de haver vida selvagem.” A maneira como isso afectará o resto do ecossistema é a pergunta que vale… dois mil milhões de dólares.

O crime compensa

ladroes de bicicletas

Posted: 08 Aug 2018 07:52 AM PDT

Fotograma do filme da série "Guerra das Estrelas"

Férias de verão.
Quase coincidindo com o anúncio de um lucro no primeiro semestre de 194 milhões de euros - para o qual contribuiu a saída de 418 dos 8321 trabalhadores (5%), um agravamento das comissões aos clientes e encerramento de balcões - a administração do maior banco nacional e público, com Paulo Macedo como presidente da comissão executiva, denunciou o acordo de empresa, com vista a adaptá-lo à concorrência privada.
Refere-se na nota enviada aos trabalhadores:

"Num mercado fortemente concorrencial, e considerando as características dos Acordos de Empresa em vigor na CGD, torna-se vital e urgente rever as suas condições, aproximando-as das que vigoram na generalidade do sector". "A melhor forma de promover as alterações que se impõem no actual AE é através da figura jurídica da denúncia", lembrando - avisando - que existe um prazo limite para se alcançar um acordo. "Há, pois, que fazer um esforço de diálogo, no sentido de aproximar o AE da CGD ao da restante banca, evitando assim uma situação de desvantagem concorrencial". Apesar de alertar que não haverá vazio legal - um acordo substituirá o outro até 2020, caso haja acordo - a tabela salarial continuará a ser negociada autonomamente, à semelhança dos restantes bancos.


E para tal, usa-se até o argumento mais estafado contra acordos colectivos, agitado igualmente pelo Governo PSD/CDS em 2011/2015 para, precisamente, torpedear e arrasar a contratação colectiva quase a zero: o último acordo é 2003, o qual já reavaliou o de 1990. Está tudo muito antigo...
Os dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores do Grupo CGD já marcaram uma greve para 24 de Agosto e desmentem os argumentos de receberem demais, trabalharem de menos, terem uma carreira absurda, com prémios de antiguidade, anuidades luxuosas, categorias a mais, acesso a crédito à habitação demasiado fácil e demasiado tempo livre.
Fica claro que, quanto menores os custos salariais, isso tem um feito imediato na diminuição dos custos operativos. Mas isso não diz muito sobre uma maior eficiência a prazo ou aumento sustentado produtividade de cada um dos que ficam. Mais: Uma banca pública tem obrigação de ser uma referência para o mercado, tanto nas práticas comerciais, como no ambiente laboral. E não o contrário. Se o mercado é selvagem, a CGD não tem de se transformar em mais um selvagem. Mas isso seria outra filosofia na cabeça de cabeças envelhecidas. E não o fazendo, aproximando-se cada vez mais do sector financeiro privado, servirá a ideia de "para quê ter um banco público se faz o mesmo que um banco privado"?
Acrescente-se que as remunerações dos membros de administração têm uma componente fixa e outra variável (ver aqui e aqui, pag.683). A componente variável, depende: dos resultados do banco, do rácio entre os custos operativos e o produto bancário; do grau de consecussão dos objectivos traçados; e do contributo para a imagem e reputação da CGD. Ou seja, quanto menores os custos, menor o rácio e maior a componente variável, ainda que não possa ultrapassar a componente fixa. Pelo menos, para já. E quem vai fazer a avaliação da imagem da CGD? O Governo?
E nem se está a falar de valores. Caso se queira ir por aí, poder-se-ia acabar com a senha de presença nas reuniões comissão de remunerações (criada a 31/8/2016). A comissão tem funções de preenchimento de vagas dos órgãos sociais e definir a sua remuneração. Mas por cada reunião, o seu presidente recebe... 5500 euros e os seus vogais 5 mil euros. Apesar da comissão reunir de forma ordinária trimestralmente, há um limite de dez reuniões anuais. Esta também deve ser uma prática da concorrência privada...
Resumindo: não está provado que "a concorrência" faça melhor que a CGD. Não está provado que baixando os custos salariais dos trabalhadores se melhorará a prática da CGD. Não está provado que ser um selvagem entre selvagens é necessariamente uma melhor prática económica e social. Mas fica provado que rever o acordo de empresa, contribui para melhorar as remunerações variáveis dos seus administradores.

Entre as brumas da memória


Resistimos a isto...

Posted: 08 Aug 2018 01:48 PM PDT

E será que entranhámos a primeira das três máximas do fim da página?
«A resignação é a primeira condição da vida.»
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Há muitas necessidades que não são médicas, a madeira é uma delas – e há uma portuguesa a resolvê-las

Posted: 08 Aug 2018 11:50 AM PDT


Marta Gonçalves, Expresso diário, 08.08.2018:

Quais as maiores necessidades das pessoas que são forçadas a fugir de casa e a seguirem as rotas migratórias?

Na verdade, o que vemos na Europa é uma pequena parcela das pessoas que neste momento estão a migrar. São os que conseguiram sair da Líbia, mas há muita gente retida em território líbio, no Níger, na Nigéria. Neste momento, estamos ativamente num projeto do México, devido aos migrantes que atravessam a fronteira para os EUA, que é uma rota migratória com problemas parecidos. Como eles passam muito tempo ao relento, uma simples constipação pode transformar-se numa infeção muito mais difícil de tratar no momento em que são atendidos pelos médicos. Ou uma diarreia ou uma ferida que depois se transformam em problemas não só crónicos como muito mais difíceis de tratar. Há também necessidades que não são médicas, mas sim logísticas - estamos a falar de pessoas que já viajaram muitíssimo. Por exemplo, para as pessoas a bordo do Aquarius, a travessia no Mediterrâneo foi apenas a última fração da viagem. Estiveram muito tempo expostos à violência e sem terem uma cola social - aquilo que se perde quando saímos do nosso ambiente, da nossa cultura, da nossa família. Isso perde-se, e numa família que está sozinha, numa mãe que viaja sozinha com o filho, e às vezes com os filhos de outros, é um grande problema. Depois, há os problemas de saúde mental, que causam grande transtorno. Muitas vezes as pessoas que não estão capazes de viajar por essas mesmas razões são as mais vulneráveis à violência, por não conseguirem tomar decisões, por não terem dinheiro, por parecerem frágeis.

O trabalho da Unidade de Apoio aos Deslocados Internos dos Médicos Sem Fronteiras consegue minimizar esta dor e violência? De que forma conseguem facilitar a vida destas pessoas ao longo do percurso?

As missões já estão em sítios estratégicos para encontrar as pessoas no momento em que estão no estado mais vulnerável. Um dos problemas que vemos no México, por exemplo, é que só estamos com os migrantes que vêm do sul do país quando estão prontos para a última etapa - e também a mais violenta: atravessar a fronteira para os EUA. O que acontece é que atendemo-los e depois perdemos-lhes o rasto.

Através de uma série de encontros com migrantes e com organizações locais que conhecem muito bem a realidade, concluímos que quando os migrantes têm acesso ao Facebook e a redes sociais, utilizam-nas como ferramenta pessoal. Ora isto permite aos Médicos Sem Fronteiras voltarem a entrar em contacto com essas pessoas quando já estão mais à frente no caminho. E também permite eles nos contactem sempre que precisarem. Esta é uma solução possível no México, mas não em África, onde temos de pensar em estratégias diferentes.

Neste momento, estamos a idealizar kits que podemos distribuir em pontos de passagem das rotas que permitam a quem faz o caminho estar informado: os perigos que podem encontrar, como se podem manter nutridos, como evitar feridas ou o que fazer no caso de uma violação. E depois há também a violência sexual, não apenas sobre as mulheres mas também sobre crianças. Estamos também a pensar em kits não só de prevenção como de resposta, que inclua uma pílula do dia seguinte. Há muitas necessidades que não são só médicas e que se não tiverem resposta representam um problema muito maior para a saúde do que uma doença.

Que necessidades são essas?

Tem mais que ver com proteção do que cuidados médicos. Uma criança que fica órfã e tem de lidar com os irmãos não sabe como reagir ou como organizar a sua vida ou quem procurar. Esse é um dos casos que encontramos com maior frequência. Precisam de apoio de alguém, tanto psicológico como na gestão da família. Na Nigéria, estamos a começar um projeto de alternativa ao uso da madeira como combustível para cozinhar (e estas são pessoas um pouco diferentes, porque chegam aos campos e não têm absolutamente nada, escaparam depois de serem raptadas por grupos armados). Uma das principais necessidade que dizem ter - e não é só uma necessidade, mas também um motivo de conflito - é a madeira. Não há madeira para todos e é cara. Quem não pode pagar, vai para a floresta procurar - e fica novamente sujeito a violência. Este é um exemplo de uma questão não médica, fora daquilo que é nosso tipo de operações. Mas sendo os Médicos Sem Fronteiras a única organização no local, há a responsabilidade de dar resposta. Assim introduzimos uma tecnologia que permite fazer combustível com materiais locais, evitando que tenham de deslocar-se para ir à lenha.

Um dos projetos que mais tem sido mencionado é a mochila de fuga…

Foi um dos primeiros projetos, no qual continuamos a trabalhar. A mochila de fuga foi desenhada tendo por base aquilo que se passou no Sudão do Sul no ano passado, quando as nossas instalações foram atacadas. A comunidade fugiu toda para norte e o nosso pessoal preferiu acompanhar os deslocados, apesar de estar numa situação de grande perigo. Percebemos que existia predisposição do pessoal médico para acompanhar a sua comunidade e que estava desesperado para retomar a atividade, porque havia muita gente necessitada. Por isso, porque não desenvolver umas mochilas nas quais o nosso pessoal possa levar o material necessário para tratar os problemas mais prováveis de acontecerem quando se caminha no meio do nada? Como a malária (dormem ao relento e em qualquer lugar, não têm redes de proteção de mosquitos), as feridas (se foram de tiro precisam de ser bem vedadas), uma conjuntivite provocada pelo pó…

Quais os países onde estão a tentar resolver problemas e os que têm mais necessidades?

Estamos a trabalhar diretamente com o México, o Sudão do Sul, a República Democrática do Congo e a Nigéria. Há países com os quais tivemos conversações mas onde ainda não há um projeto: a Síria, o Iraque, a Turquia, o Níger, a Etiópia, a Somália e a Republica Central Africana. É difícil priorizar países, pois são todas situações de emergência crítica. Em qualquer um dos casos, são milhões de pessoas deslocadas. Só no Sudão do Sul são dois milhões de deslocados internos, no Congo há cinco milhões. Estrategicamente, o que decidimos foi ajudar as pessoas no momento em que sofrem mais e onde há menos organizações a atuarem. Na Nigéria trabalhamos muito nos enclaves militares, frequentemente atacados por grupos como o Boko Haram; na República Centro-Africana atuamos junto de minorias étnicas, constantemente sob problemas de violência. No Congo, onde o conflito é interminável, há pequenas comunidades muito afastadas umas das outras que são frequentemente atacadas por grupos armados, as pessoas têm de sair de casa durante duas ou três semanas, até as aldeias deixarem de ser controladas. Nestes locais, a solução não é a tecnologia, são os recursos humanos.

Como surgiu e como funciona a Unidade de Apoio aos Deslocados Internos, que atualmente lidera?

É muito recente, é um esforço bastante inovador por parte dos Médicos Sem Fronteiras em Espanha para descentralizar decisões para focos regionais – neste caso Nairóbi, onde estamos sediados, e que é um foco humanitário muito importante, porque passam por ela muitas rotas migratórias na África Oriental. Somos quatro pessoas. Trabalhamos em conjunto com as missões que já estão a funcionar em determinados países e que nos pedem apoio para repensar a forma como estão a ajudar as pessoas. Nem somos uma unidade operacional nem gerimos atividades no terreno - à exceção dos nosso testes. Apesar de termos a sede em Nairóbi, trabalhamos com missões de todo o mundo, incluindo rotas migratórias da Europa, na América Latina e mais duas ou três no continente africano - como aquela que começa na Nigéria ou no Níger e termina em Espanha.

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Ana Santos, 35 anos, chegou ao Quénia há dois anos. Quando fazia o doutoramento, centrado no desenvolvimento de equipamento cirúrgico e de anestesia para contextos de ajuda humanitária, contactou os Médicos Sem Fronteiras (MSF). Ao mesmo tempo trabalhava num projeto que fundou em parceria com o Massachussets Institute of Technology (MIT, EUA), o Rethink Relief, que também tinha como objetivo pensar na tecnologia como facilitador de vida para quem vive em zonas de conflito ou afetada por desastres naturais. Foi então convidada para integrar projetos dos MSF Suíça. Em 2016 passou a gestora de projetos de inovação da Unidade de Apoio aos Deslocados Internos dos MSF, que a levou até ao Quénia. Ana Santos é natural de Lisboa e, por vezes, volta a Portugal.

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Agosto daquele ano mágico

Posted: 08 Aug 2018 07:05 AM PDT

Um belo texto sobre 1968.

«Mientras los soixantehuitard crecían y se desinflaban, en el mundo ocurrían otras cosas. A más de mil kilómetros de distancia de París se desarrollaba otro experimento social, el más importante de 1968: la Primavera de Praga, un periodo de liberalización política en el seno del comunismo, en Checoslovaquia, durante la Guerra Fría. (…)

1968 fue mucho más que Mayo. Algunos estudiosos han establecido analogías entre los años 1848 y 1968. Hubo estallidos en diversos lugares de Europa, una serie de revueltas sin relación aparente entre sí, aunque con concomitancias genéricas similares, contra el predominio del absolutismo y del autoritarismo. (…) Cuando finaliza el experimento checo de socialismo de rostro humano todavía no había terminado el año mágico de 1968. Apenas unas semanas después, en un lugar muy alejado del escenario europeo, los estudiantes mexicanos se rebelaban y eran masacrados.»

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Apitó comboio!

Posted: 08 Aug 2018 03:19 AM PDT

«Pedimos desculpa por o secretário de Estado das Infra-estruturas, Guilherme W. d'Oliveira Martins, ainda não ter sido cancelado. Circula com uma hora e meia de atraso e dará entrada na linha 3. Se der. Ao fim de uns anos no seu emérito cargo governativo, Guilherme W. enganou-se na carruagem e o seu destino é o museu de memórias da CP. Se esta empresa subsistir ao seu mandato e ao do seu superior hierárquico, Pedro Marques. O país consegue sobreviver ao momento em que o secretário Guilherme W. fez um número de comédia e disse que na CP "não há colapso nenhum". Portugal é mesmo capaz de suster a respiração durante uns minutos, sem se engasgar, depois de o escutar a debitar que "há uma ideia errada de que não há comboios suficientes e que os passageiros estão a perder qualidade de serviço". Esta frase deveria ser transmitida como um rap no percurso do Alfa Pendular, no meio de uma versão mais ligeira de "Apitó Comboio!", para que os passageiros tivessem direito a um momento de humor enquanto destilam.

O secretário Guilherme W. pode saber muito de comboios. Pode até ser especialista em pistas de comboios em miniatura. Mas desconhece o que se passa na CP e nesse elefante branco que é a Infraestruturas de Portugal. É por isso que culpa o PSD e o CDS de todos os males do mundo nos caminhos-de-ferro. Como se, com a sua chegada ao nobre cargo de secretário de Estado das Infra-estruturas, tudo tivesse mudado. Não. A desgraça continuou. Não houve investimento no reequipamento da CP. O que estava ferrugento colapsou. O secretário Guilherme W. esquece-se de que as pessoas não querem que os comboios sejam armas de arremesso político. Querem apenas que funcionem. Não interessa agora se esta política seguida, há anos, de destruição da CP, tornando-a frágil e baratinha, só tenha como objectivo privatizar os seus percursos mais rentáveis. Essa é outra história. O que conta agora é que, na CP, não há comboios, nem horários cumpridos, nem oferta razoável, nem ar condicionado. Só há alguém que é acusado de ser secretário de Estado.»

Fernando Sobral

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Ele aí está

Posted: 07 Aug 2018 01:48 PM PDT

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Dica (794)

Posted: 07 Aug 2018 10:25 AM PDT

Losing Earth: The Decade We Almost Stopped Climate Change (Nathaniel Rich)

«This narrative by Nathaniel Rich is a work of history, addressing the 10-year period from 1979 to 1989: the decisive decade when humankind first came to a broad understanding of the causes and dangers of climate change. Complementing the text is a series of aerial photographs and videos, all shot over the past year by George Steinmetz. With support from the Pulitzer Center, this two-part article is based on 18 months of reporting and well over a hundred interviews. It tracks the efforts of a small group of American scientists, activists and politicians to raise the alarm and stave off catastrophe. It will come as a revelation to many readers — an agonizing revelation — to understand how thoroughly they grasped the problem and how close they came to solving it.»

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Marcelo e dress code

Posted: 07 Aug 2018 05:55 AM PDT

Não tenho esquisitices neste domínio. Já me habituei a ver e ouvir Marcelo em traje de banho a falar como presidente da República, dia após dia, e, se aparecer assim na Sala das Bicas, em Belém, já acharei normal. Mas espero que nunca mais critiquem os xanatos dos Mujicas deste mundo.

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Eleições na descontinuidade

Posted: 07 Aug 2018 03:30 AM PDT

«As crises de descontinuidade, aquelas em que o presente não liga o passado com o futuro, não encontram solução satisfatória através da utilização dos procedimentos eleitorais se antes da próxima data eleitoral os partidos concorrentes não tiverem feito a actualização dos seus programas e das suas propostas. Sem a orientação actualizada dos partidos, os eleitores ficarão presos nas suas memórias, porque não haverá nenhuma entidade política que os informe do que está a ser esta crise e do que a mudança vai implicar. Os eleitores têm os seus interesses e as suas expectativas e escolhem os que prometem defender os seus interesses e confirmar as suas expectativas. Quando há uma crise de descontinuidade, os interesses já não se definem nem se defendem do mesmo modo e as expectativas, pela natureza das coisas, já não vão ser confirmadas depois de tudo o que mudou.

A crise financeira de 2008 pertence ao tipo de crise de descontinuidade, mas foi tratada como se fosse um desequilíbrio temporário que poderia ser corrigido e controlado dentro da mesma estrutura de interesses e expectativas. Por isso, os debates que estimulou estabeleceram-se entre os defensores da austeridade para controlar défices e dívida, e os defensores dos estímulos ao crescimento, que também prometiam controlar défices e dívida. Como nem os défices nem a dívida foram controlados, como nem a austeridade nem o crescimento foram suficientes, será melhor admitir que a crise não era um desequilíbrio temporário, era o efeito de uma mudança de natureza nos movimentos de capitais, nos movimentos de pessoas em função dos diferenciais demográficos, nas condições de competitividade na economia mundial.

Quando hoje é evidente que Estados Unidos e Rússia, Trump e Putin, estabelecem uma aliança estratégica para fragmentar a União Europeia, apoiam os movimentos do nacionalismo populista, promovem as soluções autoritárias e a formação de barreiras alfandegárias, também se tornou evidente que os debates sobre austeridades e estímulos não captaram a natureza da crise nem anteciparam as suas consequências.»

Joaquim Aguiar

RTP2

  por estatuadesal

(Dieter Dellinger, 08/08/2018)

rtp2

Na RTP2 o meteorologista Manuel Alves referiu que os suecos costumavam dizer que a sua floresta nunca podia arder dado estar devidamente ordenada com as espécies corretas.

Não ardia - disse o meteorologista - porque nunca se verificaram as condições climatéricas adequadas que foram as deste ano e pronto arderam também milhares de hectares.

Ainda no mesmo noticiário é dito que de 582 ou 502 ignições verificadas este ano só 26 deram origem a pequenos fogos e uma a um grande incêndio. Eu acrescento que os incendiários fizeram tanto trabalho como nos anos anteriores, mas só produziram uma catástrofe que chegou para o país inteiro e deve dar origem a uma profunda investigação criminal com prisão do ou dos incendiários porque se verificou em condições climáticas extremas.

Depois, ainda na RTP2, o comentador Ricardo Pinto disse que os incêndios são uma inevitabilidade. Podem ter sido no passado por negligências, mas agora com toda a população alertada e com os mortos do ano passado não acredita na inevitabilidade da negligência sem dolo. Acredito sim no fogo posto, talvez com mais medo e, como tal, com menos tempo de trabalho e meios de ignição. Quem for encher um garrafão de plástico numa bomba de gasolina fica identificado pelos vídeos na loja e na bomba, pelo a verificar-se um fogo nas proximidades poderá ser apanhado com alguma facilidade.

A Cristas que elegeu a CP, que ajudou a desmantelar, fez do resultado do seu trabalho o seu principal meio de ataque ao governo. A RTP2 noticiou a sua opinião como se fosse notícia, que é algo que um jornalista nunca faz. Uma coisa é a opinião ou afirmação de um político ou pessoa qualquer, outra coisa é o facto confirmado.

Assim, a RTP2 começou por dizer que a CP tinha 44 milhões de euros para investir e só gastou cerca de 10%. Claro que o material ferroviário não sai de uma prateleira de supermercado e só é pago após a entrega e muitas vezes após um dado prazo de pagamento.

Depois, a RTP veio com o "escândalo" de ter havido um concurso para 1234 médicos e terem entrado 1117 como se as pessoas, médicos, fossem bolas de Berlim que deviam ser encomendados num número absolutamente certo. Num concurso concorrem mais ou menos pessoas do que o pedido e é bom que tenham concorrido menos porque significa que não havia tantos médicos no desemprego ou em vias de entrarem no desemprego por terem acabado a especialidade no passado mês de Julho.

Critico a RTP2 porque a oiço, já que no panorama da comunicação social ainda é o melhor que há e as outras estações produzem-me tanto nojo e vómitos que nem as posso ouvir. Agora, a RTP2 está a dar uma série sueca bastante interessante.