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sexta-feira, 19 de abril de 2024

"Você obteve uma vitória. Aproveite a vitória”

estatuadesal

18 de Abril de

(Major-General Carlos Branco, in Jornal Económico, 17/04/2024)

Israel terá de incorporar no seu cálculo estratégico o facto do Irão de hoje não ser o mesmo Irão de há duas décadas. Fica a esperança de o conselho de Biden a Netanyahu prevalecer.


Disse o presidente Joe Biden ao primeiro-ministro Benjamin Netanyahu no rescaldo da operação militar iraniana em território israelita, em 13-14 de abril, procurando dissuadir Israel de retaliar. Afinal Israel intercetou 99% dos drones e mísseis lançados pelo Irão. Simultaneamente, Biden foi dizendo a Netanyahu que os EUA não apoiarão uma resposta israelita a Teerão.

Telavive tem procurado insistentemente envolver os EUA numa derradeira campanha militar contra o Irão. O ataque à soberania iraniana através da ação militar contra as instalações diplomáticas de Teerão em Damasco tinha esse objetivo. Telavive sabia que estava a pisar uma linha vermelha intolerável à luz do direito internacional para qualquer Estado; sabia o que estava a fazer. Foi uma ação deliberada, esperando que uma resposta iraniana demolidora viesse colocar os EUA a seu lado num ataque massivo ao Irão. Parece que os planos de Telavive não se irão concretizar.

A resposta militar iraniana foi calibrada tendo o Irão informado previamente os EUA e os Estados vizinhos da região da realização da operação, com cerca de 72 horas de antecedência, procurando assim obviar baixas civis. O Irão pretendia atacar os alvos militares que considerava terem estado envolvidos no ataque israelita de 1 de abril, em Damasco: as bases aéreas de Nevatim e de Ramon, ambas no sul do país, e os radares e meios de defesa aérea israelita nos montes Golã, o que conseguiu com sucesso.

Os danos provocados a Israel foram considerados pelo New York Times “relativamente limitados”. A comunicação social israelita manifestou-se no mesmo sentido, pairando no ar o desincentivo a uma retaliação. Baixas civis volumosas dariam a Israel um excelente pretexto para retaliar. Não foi o caso. Telavive não foi encostada à parede como foi Teerão com o ataque do dia 1 de abril. A resposta iraniana não pisou linhas vermelhas. Washington ajudou Telavive a deter o ataque iraniano, mas parece que não a ajudará a atacar o Irão. A concretizar-se, essa falta de apoio representará uma derrota para Netanyahu.

Houve quem pensasse, entre eles eu, que com o ataque a Israel, o Irão tinha caído na armadilha montada por Telavive. Sabe-se hoje, que Teerão geriu com destreza a escalada da violência, mostrando a sua força sem ir demasiado longe na resposta, não dando pretexto para a uma reação militar israelita ou mesmo americana. Embora os EUA neguem, sabemos que foram informados da operação pelo Irão, assim como Israel através da Arábia Saudita e dos Emiratos Árabes Unidos, que lhes transmitiram os planos de ataque para que pudessem proteger o seu espaço aéreo.

Não interessa a Washington nem a Teerão uma guerra generalizada e sem controlo no Médio Oriente. Farão o que está ao seu alcance para a evitarem. Os EUA receiam que Israel possa não estar a ter em conta as potenciais consequências negativas de uma resposta. Afinal, os EUA têm cerca de 30 mil soldados relativamente vulneráveis na região, em particular na Síria e no Iraque, que não ficarão incólumes no caso de uma ação militar norte-americana contra Teerão. Se tiver de escolher entre os seus interesses e os de Telavive, Washington não terá dúvidas na preferência.

As chancelarias europeias tão silenciosas quando as instalações iranianas em Damasco foram atacadas saíram da hibernação para condenarem o Irão que, em última análise, atuava em legítima defesa ao abrigo do Art.º 51, da Carta das Nações Unidas, algo que não fizeram quando as instalações consulares em Damasco foram destruídas.

Em matéria de cinismo, Telavive não ficou atrás das chancelarias europeias. Depois dos discursos inflamados sobre a inutilidade das Nações Unidas e dos ataques às suas agências em Gaza, Israel veio pedir uma reunião do Conselho de Segurança para considerar a Guarda Revolucionária Islâmica uma organização terrorista. De notar que o Conselho de Segurança se recusou a reunir depois do ataque israelita de 1 de abril.

A narrativa das 99% interceções é útil para convencer a opinião pública da não necessidade de retaliar, sobretudo a israelita. Os danos foram limitados e as baixas em vidas humanas quase nulas, como tal não se justifica uma resposta. Tanto a imprensa israelita como a norte-americana afinaram diapasões e coordenaram o alinhamento das mensagens. Não obstante essa narrativa ganhadora, os altos-comandos israelitas deverão estar tremendamente preocupados.

Sabem que a operação iraniana não foi “fogo de artifício”. A bem escalonada defesa aérea israelita não foi capaz de deter os misseis hipersónicos lançados por Teerão. Não terá sido muito confortável ver mísseis iranianos sobrevoar o Knesset tornando evidentes as vulnerabilidades da melhor defesa aérea do mundo. Perante as imagens em circulação na internet, Telavive não teve outro remédio se não reconhecer os danos procurando, no entanto, minimizá-los. Só uma das bases aéreas foi atingida por sete mísseis hipersónicos.

Independentemente do que se disser, o Irão demonstrou capacidade para contornar o poderoso e avançado sistema antimíssil israelita. Os mísseis hipersónicos iranianos foram capazes de nulificar o avançado radar AN/TPY-2 de banda X norte-americano estacionado em Har Qeren, no deserto do Negev, com a missão de detetar os lançamentos de mísseis iranianos e transmitir os dados às baterias israelitas Arrow e David’s Sling, e às americanas THAAD que tinham por missão proteger locais sensíveis, incluindo a cidade de Dimona onde se encontram as instalações nucleares israelitas e as bases aéreas de Nevatim e Ramon, de onde terão partido as aeronaves que atacaram o consulado iraniano. Há evidência de que os mísseis balísticos hipersónicos iranianos não tiveram praticamente oposição. Não há provas de que um único tivesse sido abatido.

Parece incontornável ter de reconhecer que um sistema de radares de vigilância funcionando em proveito de defesas antimísseis extremamente sofisticadas, reforçadas pela ação do Reino Unido, França e Jordânia foram impotentes face ao ataque iraniano, não conseguindo proteger os locais acima mencionados. A isto acresce o facto de, segundo várias fontes, o ataque iraniano ter custado cerca de 30 milhões de dólares, enquanto o conjunto das interceções teria, segundo algumas estimativas, rondado os 1,3 mil milhões de dólares.

Israel estará a planear um ataque “doloroso” ao Irão, mas sem provocar vítimas evitando que se desencadeie uma guerra regional. Benjamin Netanyahu terá pedido às Forças de Defesa de Israel a elaboração de uma lista de alvos aos quais os EUA não levantariam objeções. O gabinete de guerra pretende encontrar uma forma de retaliação que não seja bloqueada pelos Estados Unidos.

Apesar das pressões de muitos líderes ocidentais, a resposta israelita parece inevitável, não se sabendo quando, como e onde irá ocorrer. O formato dessa resposta não é claro. Numa conversa telefónica com o secretário norte-americano da defesa, o ministro da defesa israelita Yoav Gallant disse: “não há outra alternativa senão ripostar contra o Irão… Israel não pode permitir que sejam disparados mísseis balísticos contra o seu território sem uma resposta”.

Por sua vez, o Irão declarou que responderá “dentro de segundos” a uma retaliação de Israel. O presidente da comissão parlamentar de segurança do parlamento iraniano Abolfazl Amouei, declarou que o Irão está preparado para usar “uma arma que nunca usou antes” se Israel prosseguir com o seu planeado ataque retaliatório.

Independentemente do que possa vir a acontecer, a ação militar iraniana em território israelita não tem precedentes e já fez história. Pela primeira vez, o Irão levou a cabo um ataque em solo israelita a partir do seu território, em vez de recorrer apenas aos seus proxies para atacar Israel.

A resposta de Telavive tem mais a ver com o precedente criado pela ação iraniana, pela afirmação de Teerão como potência regional, inspiradora dos seus seguidores, algo que Telavive não quer aceitar, do que propriamente com os danos causados. Israel terá de incorporar no seu cálculo estratégico o facto do Irão de hoje não ser o mesmo Irão de há duas décadas.

Esperemos que o conselho de Biden a Netanyahu prevaleça em detrimento da opinião daqueles que no gabinete de guerra em Telavive defendem um ataque demolidor e que se recusam a aceitar as novas realidades estratégicas. Fiquemos com a esperança uma vez que não temos certezas.

 

 

Os ataques “kalibrados” contra o neocolonialismo

estatuadesal

18 de Abril de

(Hugo Dionísio in Strategic Culture Foundation, 17/04/2024)

Se há coisa que o ocidente monopolista não entende é como unir coisas que são diferentes, como aceitar as diferenças alheias, como criar uma força comum entre diferentes, unidos apenas por um sentimento, a liberdade.


Pouco tempo depois da resposta Iraniana ao ataque sionista, que destruiu o seu consulado na Síria, vitimando mortalmente o Comandante sénior Mohammad Reza Zahedi, eis que é a própria Casa Branca, e Biden, a puxar as rédeas de Netanyahu e transmitir ao mundo que a acção foi devidamente “calibrada”. Isto, depois das autoridades sionistas cuspirem fogo, ameaçando com apocalípticas consequências, contra o renascido potentado persa.

Esta “calibragem” no discurso de Washington é a consequência óbvia do que se havia passado antes da retaliação Iraniana; nas 48 horas que a antecederam foram vários os estafetas europeus a pedirem “contenção” ao Irão, alertando para as consequências gravosas que essa falta de “contenção” poderia despoletar. Os sinais de preocupação eram tão evidentes quanto o tinham sido, até aí, o branqueamento e legitimação, da acção provocadora de Israel, face aos seus vizinhos da região.

Quem não esteve, contudo, com meias medidas foi Ursula von der Leyen. Em mais um show de hipocrisia de proporções bíblicas, esta senhora veio ameaçar com a única resposta que conhece: pacotes de sanções contra o Irão, por ter desenvolvido um “ataque não provocado”. Também Macron não poderia ficar para trás e veio dizer que é preciso continuar a “isolar o Irão” com as sanções do costume.

Se algo há a retirar deste comportamento é mesmo este facto: Úrsula Von Der Leyen e os Macrons deste mundo vivem numa realidade que já não existe, na qual o ocidente “racial, moral e intelectualmente superior” tinha a legitimidade para punir, perseguir, invadir, ameaçar e destruir todos os que se lhe opunham. Mas se, na sua odiosa cegueira, ainda não o constataram, não se pode dizer o mesmo de quem neles manda. O mundo mudou e está em processo de acelerada transformação.

A impunidade acabou quando a Federação Russa disse não aceitar a ultrapassagem da linha vermelha que havia imposto e que determinava a neutralidade da Ucrânia; o mundo mudou quando Irão, Hezbollah, Huthis e Hamas declararam não aceitar mais os abusos sionistas, contra as suas populações e seus aliados; o mundo mudou quando a China não desistiu da Rússia e Irão, demonstrando que o mundo multipolar estava para ficar. Para destruir um, terão de os destruir aos três. Todos interligados por alargadas parcerias estratégicas.

Consequentemente, a resposta do Irão tratou de sinalizar que o país está preparado para dar uma resposta decisiva, no que considera constituir uma escalada de abusos crescentes, por parte do sionismo e seus apoiantes, e que não continuará a tolerar o desrespeito genocida, por parte da entidade sionista que controla e se confunde com Israel.

Este comportamento por parte do Irão, antes impensável e intolerável pela “comunidade internacional”, encontra agora um espaço de legitimidade absolutamente revelador de como mudou o mundo, nestes anos de crescimento da multipolaridade. Nem as sanções têm já o mesmo peso, tendo o Irão – tal como a Rússia, Coreia do Norte, Cuba, Venezuela, Nicarágua – aprendido a ser auto-suficiente, transformando a agressão em força de oposição; nem o ocidente domina já o sul global com a força que estava acostumado a fazê-lo; nem os EUA, e o seu espaço vital, constituem ainda aquela potência militar de que todos tinham medo.

Hoje, potências como o Irão podem dar-se ao luxo de aumentar a parada e encurralar o arrogante ocidente. O mais interessante é que, do ponto de vista estratégico, os EUA haviam apostado numa profusão de provocações múltiplas, cada vez mais alargadas e que visavam escaladas militares localizadas, as quais tinham como função conter a expansão dos países que constituem os pilares centrais desta libertação do sul global: Rússia, China e Irão.

Resultando na expansão continuada do mundo multipolar, do desenvolvimento do “sul global”, que mais não é do que a “maioria global”; acompanhada da perda, pelo ocidente, de posições estratégicas que ditam o acesso às reservas estratégicas de mão de obra da Ásia e África; às reservas de commodities na Rússia, Médio Oriente, América Latina e África; ou, à capacidade industrial instalada da Ásia; a tríplice entente multipolar que dirige o processo anti-imperialista, através dos seus ataques “calibrados”, está provocar uma corrosão progressiva da entidade imperialista, anunciando-se, algures no tempo, o seu colapso.

E este constitui o grande mérito destes três países e dos seus aliados, a Africa do Sul, mais convicta, a India e o Brasil, mais periclitantes, a que se juntaram agora outros cinco países, e que, em breve, se juntarão muitos outros, entre os quais o próprio Vietname, o qual já oficializou a sua intenção de aderir aos BRICS. Estes países têm tido a paciência, a sabedoria e a competência para agir de forma tão concertada quanto possível, mas também de forma tão desconcentrada quanto necessário, sem se deixarem enredar em insanáveis contradições internas que os exponham à máquina de destruir nações que são os EUA. Deste modo, a expansão desconcentrada coloca problemas extremamente difíceis de ultrapassar, a quem pretende destruir este processo de expansão, que é também um processo de libertação do neocolonialismo.

Não se pode dizer, contudo, que estamos num momento histórico totalmente original. Com efeito, é bom recordarmos as palavras de Zbigniew Brzezinsky, ao Nouvelle Observateur, em 1998, aquando, numa entrevista, este reconheceu que, não só os EUA, conscientemente, haviam contribuído para a invasão do Afeganistão, pela URSS, como se regozijou – como gostam de fazer os arrogantes supremacistas -, pelo facto de, mesmo com um milhão de mortos, ter valido a pena o apoio aos Mujahidine (Talibãs), o qual sabiam, antecipadamente, ser visto por Moscovo, como algo de intolerável nas suas fronteiras e que não deixaria de provocar uma guerra.

Num processo com semelhanças ao que se passou na Ucrânia – formação de uma elite dirigente profundamente anti-Russa (ou anti-URSS) praticante de uma ideologia odiosa e extremista -, o mais importante que Brzezinsky disse, contudo, foi que os EUA, estando ideologicamente na defensiva, com a agenda dos direitos humanos foi possível virar a maré e colocar a URSS na defensiva. Hoje, a ideia de um mundo multipolar recolocou o Sul Global, como um todo, numa posição ideológica ofensiva e, ao mesmo tempo, os EUA voltaram a encontrar-se na defensiva. E desta feita, bem que podem vir com a agenda dos direitos humanos outra vez, que já ninguém acredita neles.

Deste posicionamento podemos retirar um ensinamento valioso para os nossos dias: por muito agressivos, arrogantes e beligerantes que pareçam, os EUA – incluindo Israel – foram novamente colocados numa posição defensiva. Tudo o que fazem, acontece como resposta a uma realidade em que o mundo multipolar se continua a expandir e o ocidente “alargado” a contrair. Por muitos “alargamentos” que a OTAN possa propagandear, o espaço vital dos monopólios ocidentais, que constituem as raízes do imperialismo, tem vindo progressivamente a diminuir. Este é um facto indesmentível e só um endividamento brutal da Casa Branca faz como que a economia dos EUA continue, artificialmente, a crescer e com ela, a alimentar o processo de “contenção” do crescimento do mundo multipolar.

O que é impossível de esconder é que o problema dos EUA, desta feita, é mais complicado. Não será tão fácil passar “à ofensiva” como o foi com a URSS. Embora a URSS constituísse um desafio formidável e que a elite dirigente, em Washington, logo identificou como sendo algo de vida ou de morte, o facto de a potência soviética ser, à data, o único pilar em que assentava o desafio, facilitava as coisas. Era muito fácil partir o mundo em dois e diabolizar a outra parte. Ao contrário de hoje, a URSS não se podia suportar na China.

Já o desafio que é imposto através da China, Rússia e Irão, secundados pela India, África do Sul, Brasil e muito outros, é muito mais complexo e deslocalizado. Em primeiro lugar, não se trata de um bloco monolítico com uma mesma ideologia. Tratam-se de países com sistemas de governação muito diferentes, desde os mais liberais, como Brasil e África do Sul, aos socialistas como a China ou os nacionais desenvolvimentistas como a Rússia, ou mesmo o Irão, associando-lhe ainda a sua dimensão teocrática e democrática. Do ponto de vista da propaganda, isto coloca muitas dificuldades, daí que, nos últimos meses tenhamos assistido a um crescente desenvolver de uma linha de propaganda, segundo a qual a China tem interesse na vitória de Trump – ele que a quer destruir – e que é a extrema direita europeia quem apoia a China e é por esta apoiada. É uma espécie de “Rússiagate”, desta feita em versão chinesa. Enfiar uma mesma carapuça a todos e diaboliza-los, não tem sido nada fácil.

Acresce que, estes países, cada um da sua forma – o Irão menos – estão conectados com as cadeias de valor ocidentais, o que impede uma acção decisiva e brutal, independente de consequências. Veja-se o que aconteceu com as sanções à Rússia, agora pense-se no que aconteceria se essa agressão se desse contra a economia chinesa.

É esta a essência da “multipolaridade”, a que outros chamam “multiplexidade”, que consiste na sua enorme capilaridade, como cogumelos que se multiplicam por todo o mundo, cada um com a sua morfologia, mas todos com a mesma natureza, tornando-se virtualmente impossível de conter o seu crescimento. Como os EUA aprenderam com a Rússia, não basta atacar um, é preciso fazê-lo a todos, mas, a todos, é impossível, como estarão, agora, a perceber. Esta diversidade é absolutamente desafiadora para a lógica totalitária e unicista estado-unidense, que se via a dominar um mundo uniforme.

Se há coisa que o ocidente monopolista não entende é como unir coisas que são diferentes, como aceitar as diferenças alheias, como criar uma força comum entre diferentes, unidos apenas por um sentimento, a liberdade. Para unir, o imperialismo estado-unidense sente uma necessidade imperiosa de uniformizar, desrespeitando e destruindo culturas, tradições, crenças e ideologias, com o sentido de impor a sua.

Estes países multipolares, alicerçados num estado interventivo (algo de comum a todos e que rejeita a proposta ocidental do estado mínimo neoliberal, substituído pelos monopólios), que controla os sectores estratégicos da economia e apostados na soberania económica, tornam o controlo das suas economias muito complicado. Não admira que uma das linhas de ataque dos EUA à China seja a necessidade de abolição dos “controlos de capital”. É que a história da “liberalização” é vantajosa para quem tem mais poder de aquisição. Nós sabemos quem tem mais dinheiro acumulado, fruto de 500 anos de pilhagem e escravatura.

A verdade é que os EUA, olhando para esta realidade, perceberam que a estratégia de Brezinsky teria de ser adaptada à realidade actual, nomeadamente, deveria ser desconcentrada ou capilar, devendo optar-se por provocações deslocalizadas, aproveitando a dispersão de bases militares por todo o mundo. À Rússia, seria a Ucrânia, Geórgia, Moldávia, Arménia, secundados de perto pela OTAN; à China seria Taiwan, Coreia do Sul, Tailândia, Filipinas, Japão e a escorregadia India; ao Irão, Israel.

As provocações deslocalizadas, através de proxys muito bem armados, colocam um problema, problema esse agora demonstrado pela retaliação Iraniana. A manta é curta, para um ocidente que não tem a capacidade industrial de outrora, deslocalizada por culpa exclusiva sua, através de uma impopular política de destruição de postos de trabalho, ao serviço dos monopólios.  E isto acontece num quadro de contracção financeira, económica e social. Até do ponto de vista do financiamento destas operações, o ocidente acaba preso às suas contradições: ao contrário dos estados, os monopólios não investem no bem comum, apenas na concentração da riqueza. Tirar do estado para dar aos monopólios acabou no que estamos a ver.

Alicerçados em complexos militares industriais em que as principais empresas são públicas e, mesmo quando privadas, obrigadas a concorrer com as públicas, o Irão, China e Rússia, produzem muito barato o que ao ocidente sai caríssimo (a defesa aérea do Iron Dome, na noite da retaliação Iraniana, gastou à volta de mil milhões de dólares). Esta realidade possibilita uma resposta “calibrada” de valor relativamente baixo. Em comparação, quem mais gasta com estas operações, é quem tem as economias a cair; quem menos gasta, é quem tem as economias a crescer. Uma vez mais, uma consequência do estado mínimo neoliberal, saído do consenso de Washington.

Daí que o grande desafio que se coloca ao mundo multipolar será o de continuar a apostar em respostas suficientemente “calibradas”, para coloquem em sentido o agressor, sem entrar numa escalada de vida ou de morte, mas mantendo o agressor ocupado, corroendo-se cada vez mais, e cuja actividade o leva a acreditar que está a avançar, quando, na verdade, se está a retrair. A Rússia fê-lo magistralmente com a Operação Militar Especial e a China também o está a fazer do ponto de vista não militar.

Daí que, ouvir Ursula von der Leyen com a sua proverbial arrogância, ameaçar o Irão com ineficazes sanções, ouvir Trump e o seu MAGA, Sunak a querer falar grosso e Macron armado em Napoleão, ao mesmo tempo que dizem “o mundo está com a Ucrânia”, “a Rússia está isolada”, “vamos conter a China” ou “o Irão atacou Israel”, demonstre isso mesmo: os servidores de monopólios andam entretidos a jogar aos soldadinhos de chumbo sem constatarem que o fazem num tabuleiro cada vez mais pequeno.

Consiga o mundo multipolar continuar a proferir os seus ataques “calibrados”, seja sob que forma forem tais ataques (uns mais militarizados, outros mais comerciais e tecnológicos) e teremos por garantido que serão capazes de completar a tarefa, antes iniciada por outros: acabar com o neocolonialismo que amordaça, ainda, o sul global.

Vamos lá Kalibr!

quarta-feira, 17 de abril de 2024

 

Exéquias pelo Ocidente

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16 de Abril de

(Joseph Praetorius, in Facebook, 15/04/2024)

O "Ocidente coletivo" - organização complexa de vassalagens no quadro da suserania americana - corre agora o risco da multiplicação de desafios, emergindo das terras vitimadas pela violentíssima dominação colonial e neocolonial.

E o momento é delicado.

Caíram os mitos das armas invencíveis, do treino militar miraculoso e dos Rambos devastadores, caiu o dólar como moeda obrigatória, morreu o medo das sanções que se impunham como uma excomunhão capaz de fazer povos párias, caiu, até, a simples consideração nas relações pessoais, perante as diplomacias soezes de grosseria escandalosa, a obrigar à correção pública de chefes de estado e de governo por líderes africanos e chineses.

Vão cair as línguas europeias, pelo menos em África, despromovidas, primeiro, ao estatuto de línguas de trabalho e, depois, substituídas por outra, eleita para língua franca.

No interior dos países do "Ocidente coletivo", morreu o Direito, morreu a liberdade de imprensa (e a imprensa), morreram os privilégios da cultura, cujas liberdades se defendiam a todo o custo, morreram as liberdades de manifestação e reunião e os próprios sistemas políticos cederam às intrusões da CIA.

E o "Ocidente coletivo" tomará agora, de outros, as lições que gostava de imaginar suas, no que respeita à luta pelo desenvolvimento e justiça, como pela liberdade e dignidade dos homens.

segunda-feira, 15 de abril de 2024

 

Os mísseis de Abril

estatuadesal

15 de Abril de

(Por Scott Ritter, in Scottritterextra.com, 14/04/2024)

O ataque retaliatório do Irão a Israel entrará para a história como uma das suas maiores vitórias deste século.


Escrevo sobre o Irão há mais de duas décadas. Em 2005, fiz uma viagem ao Irão para averiguar a "verdade no terreno" sobre aquela nação, uma verdade que incorporei num livro, Target Iran, apresentando a colaboração EUA-Israel para elaborar uma justificação para um ataque militar ao Irão, destinado a derrubar seu governo teocrático. Seguiu-se a esse livro um outro, Dealbreaker, em 2018, que trouxe dados mais atualizados sobre esse plano EUA-Israel.

Em novembro de 2006, num discurso na Escola de Relações Internacionais da Universidade de Columbia, ressaltei que os Estados Unidos nunca abandonariam o meu "bom amigo", Israel, até que, é claro, o fizéssemos. O que poderia precipitar tal ação, perguntei? Notei que Israel era uma nação embriagada de arrogância e poder, e a menos que os Estados Unidos pudessem encontrar uma maneira de remover as chaves da ignição do autocarro, em que Israel estava navegando em direção ao abismo, não nos juntaríamos a Israel nessa sua jornada suicida.

No ano seguinte, em 2007, durante um discurso no Comité Judaico Americano, apontei que a minha crítica a Israel (contra a qual muitos na plateia se indignaram) derivava de uma verdadeira preocupação com o futuro de Israel. Sublinhei que, na realidade, passei a maior parte de uma década a tentar proteger Israel dos mísseis iraquianos, tanto durante a minha participação na Tempestade no Deserto, onde desempenhei um papel na campanha de mísseis contra o SCUD, como na qualidade de inspetor de armas das Nações Unidas, onde trabalhei com a inteligência israelita para garantir que os mísseis SCUD do Iraque fossem eliminados.

"A última coisa que quero ver", disse eu à multidão, "é um cenário em que mísseis iranianos estivessem impactando o solo de Israel. Mas, a menos que Israel mude de rumo, este é o resultado inevitável de uma política movida mais pela arrogância do que pelo bom senso."

Na noite de 13 para 14 de abril de 2024, as minhas preocupações foram transmitidas ao vivo diante de uma audiência internacional – mísseis iranianos caíram sobre Israel, e não havia nada que Israel pudesse fazer para os deter. Como havia acontecido pouco mais de 33 anos antes, quando os mísseis iraquianos SCUD superaram as defesas antimísseis Patriot dos EUA e de Israel, atacando dezenas de vezes ao longo de um mês e meio, mísseis iranianos, integrados num plano de ataque projetado para sobrecarregar os sistemas de defesa antimísseis israelitas, atingiram impunemente alvos escolhidos dentro de Israel.

Apesar de ter empregado um extenso sistema integrado de defesa antimíssil composto pelo chamado sistema "Cortina de Ferro", baterias de mísseis Patriot fabricadas nos EUA e os intercetadores de mísseis Arrow e David's Sling, juntamente com aeronaves americanas, britânicas e israelitas, e defesas antimísseis transportadas por navios dos EUA e da França, mais de uma dúzia de mísseis iranianos atingiram aeródromos israelitas e instalações de defesa aérea fortemente protegidos.

O ataque com mísseis iranianos contra Israel não surgiu do nada, por assim dizer, mas foi uma retaliação ao ataque israelita de 1 de abril ao prédio do consulado iraniano, em Damasco, na Síria, que matou vários comandantes militares iranianos. Embora Israel tenha realizado ataques contra pessoal iraniano dentro da Síria no passado, o ataque de 1 de abril diferiu não apenas por matar funcionários iranianos de alto escalão, mas por atingir o que era legalmente um território soberano iraniano - o consulado iraniano.

Do ponto de vista iraniano, o ataque ao consulado foi uma linha vermelha que, se não fosse retaliada, apagaria qualquer noção de dissuasão, abrindo a porta para uma ação militar israelita ainda mais descarada, incluindo ataques diretos ao Irão. Pesando contra a retaliação, no entanto, havia uma complexa teia de objetivos políticos entrelaçados que, provavelmente, seriam prejudicados pelo tipo de conflito em grande escala entre Israel e Irão, que poderia ser precipitado por qualquer ataque retaliatório iraniano significativo contra Israel.

Em primeiro lugar, o Irão tem prosseguido uma política estratégica baseada numa ação de afastamento da Europa e dos Estados Unidos, em direção à Rússia, à China e à massa de terra euroasiática. Essa mudança foi impulsionada pela frustração do Irão com a política de sanções económicas imposta pelos EUA e pela incapacidade e/ou falta de vontade por parte do Ocidente coletivo de encontrar um quadro a seguir onde essas sanções seriam suspensas. O fracasso do acordo nuclear iraniano (o Plano de Ação Conjunto Global, ou JCPOA) em produzir o tipo de oportunidades económicas que haviam sido prometidas aquando da sua assinatura tem sido um dos principais motores por trás desse movimento iraniano para leste. Em alternativa, o Irão juntou-se à Organização de Cooperação de Xangai (OCX) e ao fórum dos BRICS e direcionou as suas energias diplomáticas para o cenário futuro de um Irão, completa e produtivamente, integrado em ambos os grupos.

Uma guerra geral com Israel causaria estragos nesses esforços.

Em segundo lugar, mas de igual importância na equação geopolítica global do Irão, está o conflito em curso em Gaza. Este é um evento que muda o jogo, onde Israel enfrenta uma derrota estratégica nas mãos do Hamas e dos seus aliados regionais, incluindo o eixo de resistência liderado pelo Irão. Pela primeira vez, a questão do Estado palestiniano foi abordada por uma audiência global. Esta causa é ainda mais facilitada pelo facto de o Governo israelita de Benjamin Netanyahu, formado a partir de uma coligação política que se opõe veementemente a qualquer noção de Estado palestiniano, se encontrar em perigo de colapso como resultado direto das consequências decorrentes do ataque do Hamas de 7 de outubro de 2023 e do subsequente fracasso de Israel em derrotar o Hamas militar ou politicamente. Israel é igualmente prejudicado pelas ações do Hezbollah, que controla Israel ao longo da sua fronteira norte com o Líbano, e de atores não estatais, como as milícias iraquianas pró-iranianas e os houthis do Iémen, que atacaram Israel diretamente e, no caso dos houthis, indiretamente, fechando linhas de comunicação marítimas críticas que têm como resultado o estrangulamento da economia israelita.

Mas foi Israel que mais danos causou a si mesmo, realizando uma política genocida de retaliação contra a população civil de Gaza. As ações israelitas em Gaza são a manifestação viva da própria arrogância e das políticas de poder sobre as quais alertei em 2006-2007. Então, eu disse que os EUA não estariam dispostos a ser passageiros de um autocarro político dirigido por Israel que nos atiraria para o precipício de uma guerra inganhável com o Irão.

Através de seu comportamento criminoso em relação aos civis palestinos em Gaza, Israel perdeu o apoio de grande parte do mundo, colocando os Estados Unidos numa posição em que verá sua reputação já manchada, irremediavelmente danificada, num momento em que o mundo está fazendo a transição de um período de singularidade dominada pelos EUA para uma multipolaridade impulsionada pelos BRICS, e os EUA precisam manter o máximo de influência possível no chamado "Sul Global".

Os EUA tentaram – sem sucesso – tirar as chaves da ignição do autocarro da viagem suicida de Netanyahu. Confrontado com extremas reticências por parte do Governo israelita, quando se trata de alterar a sua política em relação ao Hamas e a Gaza, a administração do Presidente Joe Biden começou a distanciar-se das políticas de Netanyahu e avisou Israel de que haveria consequências para a sua recusa em alterar as suas ações em Gaza, devendo ter em conta as preocupações dos EUA.

Qualquer retaliação iraniana contra Israel precisaria navegar nessas águas políticas extremamente complicadas, permitindo que o Irão impusesse uma postura de dissuasão viável, projetada para prevenir futuros ataques israelitas, garantindo que nem os seus objetivos políticos em relação a um movimento geopolítico para o leste, nem a elevação da causa do Estado palestino no cenário global, seriam desviados.

O ataque iraniano a Israel parece ter manobrado com sucesso através desses cardumes políticos rochosos. Fê-lo, em primeiro lugar, mantendo os Estados Unidos fora da luta. Sim, os Estados Unidos participaram da defesa de Israel, ajudando a derrubar dezenas de drones e mísseis iranianos. Mas essa intervenção foi benéfica para o Irão, uma vez que apenas reforçou a prova de que não havia nenhuma combinação de capacidades de defesa antimíssil que pudesse, no final, impedir que os mísseis iranianos atingissem seus alvos escolhidos.

Os alvos atingidos pelo Irão - duas bases aéreas no deserto de Neguev, de onde foram lançadas aeronaves usadas no ataque de 1 de abril ao consulado iraniano, juntamente com vários locais de defesa aérea israelitas - estavam diretamente relacionados com os objetivos de estabelecer o escopo e a escala de sua política de dissuasão. Primeiro, que as ações iranianas foram justificadas sob o Artigo 51 da Carta da ONU – o Irão retaliou contra os alvos em Israel diretamente relacionados com o ataque israelita ao Irão e, segundo, que os locais de defesa aérea israelita eram vulneráveis ao ataque iraniano. O impacto combinado desses dois fatores é que a totalidade de Israel estava vulnerável a ser atingido pelo Irão a qualquer momento, e que não havia nada que Israel, ou os seus aliados, pudessem fazer para impedir tal ataque.

Essa mensagem ressoou não apenas nos corredores do poder em Telavive, mas também em Washington, DC, onde os formuladores de políticas dos EUA foram confrontados com a incómoda verdade de que, se os EUA agissem em conjunto com Israel para participar ou facilitar uma retaliação israelita, então as instalações militares dos EUA em todo o Médio Oriente seriam submetidas a ataques iranianos que os EUA seriam impotentes para deter.

É por isso que os iranianos colocaram tanto empenho em manter os EUA fora do conflito, e a razão pela qual o governo Biden estava tão ansioso em garantir que, tanto o Irão quanto Israel, entendessem que os EUA não participariam em nenhum ataque retaliatório israelita contra o Irão.

Os "mísseis de abril" representam um momento de mudança radical na geopolítica do Médio Oriente – o estabelecimento da dissuasão iraniana que afeta Israel e os Estados Unidos. Embora as emoções em Telavive, especialmente entre os conservadores mais radicais do governo israelita, estejam em alta, e a ameaça de uma retaliação contra o Irão não possa ser completamente descartada, o facto é que o objetivo político subjacente de Benjamin Netanyahu ao longo dos últimos mais de 30 anos, ou seja, arrastar os EUA para uma guerra com o Irão, foi colocado em xeque-mate pela ação do Irão.

Além disso, o Irão conseguiu fazer isso sem interromper seu movimento estratégico para leste e sem minar a causa do Estado palestino. A "Operação Verdadeira Promessa", como o Irão batizou seu ataque retaliatório a Israel, entrará para a história como uma das vitórias militares mais importantes da história do Irão moderno, tendo em mente que a guerra é apenas uma extensão da política por outros meios. O facto de o Irão ter estabelecido uma postura de dissuasão credível sem perturbar os seus principais objetivos e metas políticas é a própria definição de vitória.

 

Os EUA recusam o convite de Israel para iniciar a 3ª Guerra Mundial (por enquanto)

estatuadesal

14 de Abril de

(Caitlin Johnstone, 14/04/2024, Trad. Estátua de Sal)

O Irão realizou a sua há muito prometida retaliação ao ataque de Israel ao prédio de seu consulado em Damasco, lançando uma enorme enxurrada de drones e mísseis que, segundo os iranianos, atingiram e destruíram alvos militares israelitas, enquanto Israel diz que eles causaram apenas danos superficiais e alguns feridos. Os EUA e seus aliados teriam ajudado a abater vários projéteis iranianos.

Assim, como discutimos no período que antecedeu o ataque, a classe político-mediática ocidental está a agir como se este fosse um ataque completamente não-provocado, lançado contra a Israel, a vitima inocente de olhos de Bambi. 

Os comentários das autoridades e dos especialistas ocidentais e das manchetes dos meios de comunicação social estão a omitir que Israel instigou tais hostilidades, tanto quanto possível, com o seu ato extremo de agressão na Síria. Na Austrália, o Sydney Morning Herald escreveu sobre o ataque e não chegou a informar os leitores sobre o ataque ao consulado iraniano até ao décimo parágrafo do artigo, e disse apenas que o Irão havia "acusado" Israel de lançar o ataque porque Israel nunca o confirmou oficialmente.

De qualquer forma, o Irão diz que o ataque já acabou. Dado que não estamos vendo sinais de danos maciços, a alegação relatada pelo Irão de que a retaliação seria calibrada para evitar uma escalada para uma guerra regional em grande escala, parece ter sido precisa, assim como a alegação relatada por Washington de que não esperava que o ataque fosse grande o suficiente para atrair os EUA para a guerra.

Um novo relatório do Axios diz que Biden disse pessoalmente a Netanyahu que os EUA não apoiarão nenhuma resposta militar israelita ao ataque iraniano. Um alto funcionário anónimo da Casa Branca disse ao Axios que Biden disse a Netanyahu: "Você tem uma vitória. Tome a vitória", em referência ao número de armas iranianas que foram retiradas do céu pela coligação internacional em defesa de Israel. Aparentemente, ajudar a mitigar os danos do ataque iraniano, é todo o compromisso militar que a Casa Branca está disposta a fazer contra o Irão, neste momento.

E agradeçamos a todos os santos por isso. Uma guerra entre a aliança dos EUA e o Irão e os seus aliados seria um pesadelo, fazendo com que os horrores que temos visto em Gaza nos últimos seis meses parecessem um episódio de Peppa Pig.

Mas, Washington simplesmente recusar a envolver-se, está longe de ser suficiente. Como brincou Trita Parsi, do Instituto Quincy , no Twitter, "Biden precisa de EVITAR uma nova escalada, não apenas declarar a sua intenção de ficar de fora".

Na verdade, Israel já deixou claro que vai avançar com uma escalada contra o Irão. O Canal 12 de Israel cita um alto funcionário não identificado dizendo que o contra-ataque iraniano receberá uma "resposta sem precedentes".

"Israel já informou os americanos e os governos da região que uma resposta é inevitável", relata a The Economist. "Suas opções militares incluem o lançamento de drones contra o Irão e ataques aéreos de longo alcance contra o Irão, possivelmente contra bases militares ou instalações nucleares."

Não está claro, neste momento, o quanto a última mensagem do governo Biden afetará os cálculos dessa posição, mas os meios de comunicação social estão relatando que funcionários da Casa Branca estão preocupados com a possibilidade de Israel estar a preparar-se para fazer algo extremamente imprudente, que pode levar os EUA para uma guerra que preferem evitar.

A NBC News relata o seguinte::

“Alguns altos funcionários dos EUA estão preocupados com a possibilidade de Israel possa fazer rapidamente algo em resposta aos ataques do Irão sem pensar nas possíveis consequências posteriores, isto de acordo com um alto funcionário do governo e um alto funcionário da defesa.”

"Essas preocupações decorrem, em parte, das opiniões do governo sobre a abordagem que Israel adotou na sua guerra contra o Hamas, bem como o ataque em Damasco.

O presidente Joe Biden expressou, em particular, preocupação sobre a eventualidade de o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, estar a tentar arrastar os EUA mais profundamente para um conflito mais amplo, de acordo com três pessoas familiarizadas com seus comentários.”

As pessoas vêm levantando essa preocupação há algum tempo. No início deste mês, Paul Pillar desenvolveu um sólido argumento de que Netanyahu tem muito a ganhar pessoalmente ao atrair os EUA para uma guerra com o Irão, para o ajudar nos seus problemas legais e políticos e desviar o foco do genocídio de Israel em Gaza.

Seja como for, é bastante absurdo que o governo Biden fique sentado passivamente esperando que isso não aconteça, como se não tivesse uma palavra a dizer sobre o assunto, e como se não houvesse nada que pudesse fazer para evitar tal ocorrência. Biden tem a capacidade de encerrar esse ciclo insano de escalada no Médio Oriente desde que começou, há seis meses, exigindo um cessar-fogo em Gaza e exigindo que Israel controle a sua máquina de assassinatos, tal como outros presidentes dos EUA fizeram com sucesso no passado.

Biden poderia acabar com tudo isso com um telefonema. O facto de ele não o fazer significa que é um monstro, e não serão as reportagens da comunicação social, sobre o quão "preocupado" e "frustrado" ele está em relação às ações de Israel – por muitas que se façam -, que irão mudar isso.