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sábado, 22 de setembro de 2018

Não matem a melga

ET CETERAOPINIÃO

Hemp Lastru 22 Setembro 2018, 00:05

Porque é que alguém resolve fazer dinheiro a roubar insetos? Bem, olhando para o nosso País, roubar um banco não vale a pena, com sorte o cofre ainda tem alguns insetos, mas nunca a valerem 50 mil euros senão o dono do banco já os tinha vendido.

Nos EUA, mais propriamente em Philadelphia, ladrões assaltaram o Philadelphedia Insectarium e roubaram cerca de 7.000 insetos, entre aranhas, gafanhotos, percevejos e outros animais, mas não foi para fazer a vida negra a ninguém, nem a nenhum ministro, foi para vender. E se estão a pensar quem é que compra insetos, fiquem a saber que há tarados para tudo e por tudo, pois estima-se que o roubo tenha valido entre 40 e 50 mil dólares. O museu, esse, está inconsolável pois perdeu quase 90% do seu stock (o que terão os ladrões deixado para trás? O Brazilian Treehopper, que nem dá para acreditar o que parece?). E, pior ainda, tem agora pouco tempo para os repor e preparar-se para a Odditties Exibition, que realiza em Novembro todos os anos. Sim, este roubo não é nenhuma fake news, é mesmo verdade, não algo que só sai no jornal de uma cidade do Missouri, cujo nome (do jornal) os habitantes do lugar querem fazer mudar, pois não é nada menos que Uranus Examiner. Pois, não sei o que é pior, se o roubo dos insetos, se este notável nome de jornal.
Porque é que alguém resolve fazer dinheiro a roubar insetos? Bem, olhando para o nosso País, roubar um banco não vale a pena, com sorte o cofre ainda tem alguns insetos, mas nunca a valerem 50 mil euros senão o dono do banco já os tinha vendido. E tentar fazer como todos, ir buscar dinheiro ao Estado, não dá quando o estado ainda está mais endividado que os contribuintes, e onde os insetos só têm duas pernas. Para comer? Isto pode ter sido uma manobra dos chineses, que aliciaram os ladrões e tratam da comidinha ao mesmo tempo que irritam o Trump, furando embargos e tarifas. No fim de contas, até o Ikea já vende hambúrgueres de insetos, chamando-lhe a comida do futuro.
Claro que podem ter roubado os insetos para os soltar num ministério. Se fosse cá, seria no das finanças: fazer aquela malta toda coçar-se é uma boa vingança pelo inferno que nos fazem passar. Aliás, um dos animais roubados é uma aranha venenosa, que poderia ficar guardada para aquele cujo nome não deve ser pronunciado mas que vocês sabem quem é e preside ao Eurogrupo, embora seja mais provável que a aranha tivesse uma morte lenta e dolorosa, o que irritaria o PAN e seria o fim da coligação, nem com DDT o Dr. Costa salvava a coisa. Assim sendo, termino com a minha recomendação aos senhores ministros e ao PS: façam um bom stock de papel pega-mosca, para o caso de alguém querer cá fazer-lhes a vida negra com “bugs”; cada um tem que viver com as melgas que chamou. Mesmo que não venham a precisar, podem usar o papel para manter colada a geringonça.

Passos Coelho tem razão

22/09/2018 by João Mendes

Fotografia: ZAP

Fazei soar os sinos! Pedro Passos Coelho apareceu às ovelhinhas, a pairar sobre a torre de observação da direita oprimida, para cantar hossanas a Joana Marques Vidal, que tão gentilmente viu o seu Ministério Público arquivar o processo Tecnoforma, apesar das dúvidas dos deuses de Bruxelas.

Temendo pela saúde dos seus, ex-primeiro desceu à Terra, não sem antes espreitar se o Diabo estaria à espreita, e disparou chumbo grosso contra a decisão de Costa e Marcelo, como compete a um ex-primeiro no exílio. Denunciou a ausência da “decência de assumir com transparência os motivos que conduziram à sua substituição”, indo ainda mais longe ao afirmar que “sobra claro que a vontade de a substituir resulta de outros motivos que ficaram escondidos”.

Passos Coelho tem razão. A substituição da procuradora, sem motivo aparente, apesar do bom trabalho que, não sendo perfeito, teve momentos inéditos, levanta dúvidas. Mas só a quem não está minimamente atento. Na Procuradoria-Geral da República, como na Segurança Social ou noutras dependências do poder executivo, que nomeia a bel-prazer, as escolhas são, regra geral, condicionadas por critérios que visam o reforço e a manutenção do poder. É assim com Costa, foi assim com Passos e com todos os que o antecederam. E é natural que Passos, tal como outros altos oficiais do antigo regime, se sintam incomodados com isso. Afinal, aquela que eles escolheram para liderar o Ministério Público já não ocupa o cargo de PGR. Querem ver que é desta que o caso Webrand vem à tona? Ou que desarquivam esse ícone maior da transparência, no que a fundos europeus para a formação diz respeito, de seu nome Tecnoforma? Será que é desta que o Sócrates se safa, com uma avultada indemnização e boas perspectivas de chegar ao Palácio de Belém? Ou que Marcelo regressa ao iate de um absolvido Ricardo Salgado, para umas merecidas férias sem selfies? Ninguém sabe o que aí vem. Mas uma coisa parece certa: ao contrário do que afirma Passos, a acção penal continuou a tratar de forma diferenciada “alguns privilegiados”. Ou será que já nos esquecemos que a cúpula da trafulhice que assolou este país durante décadas continua cá fora, a viver “razoavelmente” bem?

Ladrões de Bicicletas


Da forma técnica na defesa de Passos Coelho a Joana Marques Vidal

Posted: 21 Sep 2018 04:17 AM PDT

Pedro Passos Coelho defende que a actual PGR desempenhou o mandato com "total independência", frisando que ninguém pode "lançar a suspeição de que tenha feito por agradar a quem pode para poder ser reconduzida".
Parece-me uma excelente forma técnica de pôr a coisa.


Atente-se, por favor, que Passos Coelho não afirma que ninguém pode lançar a suspeição de que a atual procuradora tenha feito por agradar a quem a indicou para a função.

Entre as brumas da memória


O julgamento dos polícias de Alfragide

Posted: 21 Sep 2018 02:01 PM PDT

Racismo na PSP: vítima de agressões chora convulsivamente em tribunal.

«Foi quando descrevia ao coletivo de juízes que se tinha passado dentro da esquadra da PSP de Alfragide, depois da detenção, que Flávio Almada começou a fraquejar. As palavras saíram-lhe já engasgadas quando contava que tinham sido atirados para o chão (ele e os outros três jovens que a polícia alega que tentaram invadir a esquadra) ao som de insultos racistas.»

Seguir o que se passa neste julgamento é absolutamente indispensável.

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Dica (813)

Posted: 21 Sep 2018 12:13 PM PDT

L’Italie, terre d’émigration massive aujourd’hui farouchement anti-migrante (Charlotte Boitiaux)

«Depuis l’arrivée au pouvoir de l’extrême-droite italienne, la politique migratoire s'est considérablement durcie. Pourtant, les Italiens ont eux-mêmes migré au XXe siècle en quête d'une vie meilleure. Certains ont fui les difficultés économiques, d'autres le régime autoritaire de Mussolini.»

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Rui Ramos

Posted: 21 Sep 2018 09:00 AM PDT

A direita, bem à direita, está desesperada e o exagero é tal que dá que pensar. Um dos seus grandes pensadores diz que a PGR foi «SANEADA». Os cogumelos andam marados.

(N.B. – Pessoalmente, não me chocaria nada se Joana Marques Vidal tivesse sido reconduzida.)

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«Cabesse», dr. Telmo Correia?

Posted: 21 Sep 2018 06:36 AM PDT

«Embora não nos CABESSE a nós», disse um senhor deputado do CDS, Telmo Correia de seu nome, a propósito da nomeação da nova Procuradora Geral da República.

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Dez anos de neoliberalismo mórbido

Posted: 21 Sep 2018 03:40 AM PDT

«O colapso do banco Lehman Brothers há precisamente dez anos simbolizou a eclosão da crise financeira que viria a dar origem à maior recessão mundial desde a Grande Depressão. Esta ficaria conhecida como a crise do sub-prime, em virtude da sua origem próxima nos incumprimentos ao nível dos empréstimos para habitação por parte de alguns dos segmentos relativamente mais pobres da população norte-americana. Com efeito, este segmento do mercado de crédito cedeu em primeiro lugar devido à sua especial vulnerabilidade. No período que antecedeu a crise, era comum nos Estados Unidos a concessão de empréstimos a mutuários de baixos rendimentos, com elevado risco de incumprimento e sem garantias reais (nalguns casos extremos conhecidos como empréstimos ninja: “no income, no job, no assets”) com vista à sua posterior titularização em combinação com empréstimos de menor risco. A ideia seria que o risco menor de uns compensasse o risco maior de outros, mas o processo de titularização e revenda sistemáticos fez com que o risco sistémico se tornasse cada vez maior e a vigilância fiduciária por parte das instituições de crédito cada vez menor.

No entanto, esta não é senão a primeira camada da explicação desta crise. Indo um pouco mais fundo, devemos recordar a evolução da política monetária norte-americana, que passou de muito acomodatícia nos primeiros anos deste século em resposta ao pessimismo decorrente da crise do dot.com e do 11 de Setembro a bastante contraccionista no período antes da crise. Entre 2004 e 2006, a taxa directora da Reserva Federal subiu de 1% para mais de 5%, o que terá desencadeado a catadupa de incumprimentos que levaria ao pânico generalizado e ao congelamento do crédito. Mas o Fed não esteve sozinho na adopção de uma orientação de política que, em retrospectiva, quase parece desenhada para provocar uma recessão: na zona euro, o BCE também subiu gradualmente a sua taxa directora de 2% para 4,25% entre 2005 e 2008.

Por outro lado, é também verdade que a crise financeira não teria tido as características ou a magnitude que teve sem a profunda desregulamentação do sistema financeiro que teve lugar nas décadas anteriores, cujo exemplo mais acabado terá sido provavelmente a revogação em 1999, pela administração Clinton, da Glass-Steagall Act, que datava do tempo da Grande Depressão e que impunha a separação entre as actividades de banca comercial e de investimento. Foi esta desregulamentação que permitiu a acumulação e ocultação de um risco sistémico cada vez maior a coberto de instrumentos financeiros cada vez mais bizantinos e opacos, sem contrapartidas adequadas ao nível da solidez das instituições financeiras.

Mais profundamente, porém, o enorme aumento do endividamento cuja insustentabilidade subitamente desvendada provocou a crise financeira não pode deixar de ser considerado uma consequência do projecto político de transferência de rendimento e restabelecimento do poder das elites cuja implementação remonta ao início da década de 1980 e a que damos o nome de neoliberalismo. Em grande medida, este endividamento sem precedentes correspondeu à reciclagem, sob a forma de concessão de crédito, da parte do rendimento crescentemente apropriada e acumulada pelas elites em resultado do aprofundamento da desigualdade. É nesse sentido que se pode afirmar que a crise financeira de 2007-2008 e a Grande Recessão que se lhe seguiu constituem a primeira grande crise do neoliberalismo: porque resultaram directamente da conjugação dos processos de desregulação, sobre-endividamento, financeirização e aumento da desigualdade que são característicos do neoliberalismo.

É a esta luz, mais do que com base na evolução conjuntural das taxas de crescimento, que faz sentido analisar até que ponto é que a economia global superou a crise. Se tomarmos como critério a alteração ou manutenção destes factores mais profundos, somos forçados a concluir que esta não foi ultrapassada. Embora a regulação e supervisão financeiras tenham sido aprofundadas tanto nos Estados Unidos como na Europa, a tendência actual é novamente de desregulação (por exemplo, com o processo em curso nos EUA de revogação de parte substancial dos requisitos introduzidos em 2010 pela Dodd-Frank Act em resposta à crise). E mais fundamentalmente ainda, nem os níveis de desigualdade, nem os níveis globais de endividamento, nem o enorme poder da finança sofreram qualquer tipo de redução significativa desde a crise – antes pelo contrário. A crise demonstrou os limites e vulnerabilidades do neoliberalismo, mas ao contrário do que chegou a supor-se não o pôs verdadeiramente em causa. Entretanto, a nível político, as ondas de choque da Grande Recessão incluíram a chegada ao poder por parte de um conjunto diverso de líderes de perfil iliberal e autoritário, na maior parte dos casos cavalgando o descontentamento popular resultante da própria crise. Porém, independentemente do carácter frequentemente populista dos seus discursos, as agendas políticas destes líderes continuam a servir as elites, muitas vezes de forma especialmente agressiva, pelo que eles próprios não deixam de contribuir para acentuar os factores profundos da crise. São, no fundo, sintomas mórbidos de um regime velho que resiste enquanto o novo não consegue nascer.»

Alexandre Abeu

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Aliança?

Posted: 20 Sep 2018 02:43 PM PDT

Obrigado, Marcelo

  por estatuadesal

(Daniel Oliveira, in Expresso, 22/09/2018)

Daniel

Daniel Oliveira

(Muito bom texto, ó Daniel. Só o título é que destoa. Passo a explicar.

A campanha frenética da direita político-mediática foi demasiado febril, pelo que deixou Marcelo sem margem de manobra para pleitar pela recondução da Vidal. Passaria a poder ser acusado de ser um Presidente de facção, carimbo de que ele foge desde a sua campanha para a presidência. Se não se deve partidarizar a Justiça. por idênticas razões, Marcelo não poderia nunca deixar partidarizar a Presidência.

Logo, Marcelo não merece agradecimentos. Fez o que está certo e deveria fazer. Por coincidência - ou talvez não -, o que está certo contribui, de passagem, para a manutenção da imagem que Marcelo quer dar de si e do seu pontificado: popular, abrangente e ecuménico.

Estátua de Sal, 22/09/2018)


A não recondução da procuradora-geral da República tem vários derrotados, e nenhum deles é Joana Marques Vidal. Antes de tudo, os que em vez de confiarem que a verdade da Justiça repousa no processo e na lei sonham com um Sérgio Moro à portuguesa, papel que esta PGR nunca quis ter. Os que, à esquerda e à direita, quiseram fazer desta nomeação uma questão partidária. E os que, na comunicação social, nos garantiram que o Presidente estava determinado em reconduzir Joana Marques Vidal. Participaram, voluntária ou involuntariamente, numa campanha política baseada numa falsidade. Se foram enganos, o código deontológico permite-lhes divulgar as fontes. Se não foram, devem-nos uma explicação. Até porque Marcelo os desmentiu, garantindo que nunca tinha dito em público ou em privado qual era a sua posição. E só ele a podia conhecer.

Como escrevi antes, as razões pelas quais me opunha à recondução de Joana Marques Vidal são as mesmas porque me oporei à recondução de Lucília Gago e me teria oposto à recondução de Souto Moura ou Pinto Monteiro. E elas ficam bem claras no festival partidário e mediático a que assistimos nos últimos meses. Pôr o poder político a avaliar um mandato de um PGR, chumbando-o ou aprovando-o, é um convite à politização da Justiça. Um mandato único e longo, era esta a posição conhecida da própria Joana Marques Vidal, que Marcelo Rebelo de Sousa acompanha. Minutos depois da nomeação da nova PGR, Passos Coelho considerou esta posição uma “falácia” e acusou o Presidente da República de participar numa perseguição política. “Um agradecimento a Joana Marques Vidal”, titulou, recordando que foi ele que a nomeou. Esta tentativa de instrumentalizar a Justiça, de que a atual procuradora-geral não tem qualquer responsabilidade, é o melhor argumento para não ter cometido o erro de pela primeira vez reconduzir um PGR. De cada vez que o mandato chegasse ao fim era a este espetáculo que assistiríamos, transformando o Ministério Público num palco da guerrilha partidária, com políticos a patrocinar recandidaturas.

Estava num concerto na noite em que se soube que, tal como os seus antecessores, Joana Marques Vidal não seria reconduzida. Ouvi atrás de mim: “O Sócrates e o Salgado já se safaram.”

A demagogia reinante instalou no país a ideia absurda de que a condenação de duas pessoas já acusadas pelo Ministério Público depende de quem seja o PGR. Quem pensa assim não acredita que vive num Estado de direito. E se assim é, tanto faz quem seja o PGR. Porque fora do Estado de direito as condenações valem o mesmo que as suas absolvições: nada.

A oposição sabia que o PS estava embaraçado com o caso Sócrates e tentou cavalgar o incómodo no debate sobre a recondução da PGR, sem cuidar do dano que este aproveitamento causava à Justiça. O único homem que podia travar a irresponsabilidade era o Presidente da República, sem qualquer interesse político no tema. Felizmente, pôs a defesa das instituições à frente do confronto entre partidos.

Não terá sido fácil, não é seguramente popular. Mas a democracia fica-lhe em dívida. Há quem julgue que a crise das instituições democráticas se resolve na barra do tribunal, com heróis judiciais. O Brasil, com um fascista à porta do Planalto, já deixou bem claro que esse é o caminho para a tragédia. Felizmente há, no lugar certo, quem não o queira trilhar.