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quinta-feira, 17 de outubro de 2019

O Nobel para uma pobre economia do desenvolvimento

por estatuadesal

(Alexandre Abreu, in Expresso Diário, 17/10/2019)

Alexandre Abreu

Todos os anos por esta altura são anunciados os vencedores do Prémio do Banco da Suécia para as Ciências Económicas em Memória de Alfred Nobel e todos os anos alguns comentadores assinalam que não se trata de um verdadeiro Prémio Nobel, pois não estava previsto no testamento original de Alfred Nobel e só foi atribuído pela primeira vez em 1969. Esta chamada de atenção tem principalmente um propósito de humildade: recordar que a Economia é uma ciência social e não uma ciência natural como a Física, a Química e a Medicina, o que tem consequências ao nível das abordagens e da validade das inferências – algo que este ano vem a propósito recordar.

Este ano os galardoados foram Abhijit Banerjee e Esther Duflo (ambos do MIT) e Michael Kremer (de Harvard) por, segundo afirma o press release, terem desenvolvido ‘uma nova abordagem para obter respostas fiáveis sobre as melhores formas de combater a pobreza’. Sendo a economia do desenvolvimento a minha própria área, fico naturalmente satisfeito com esta chamada de atenção para os problemas da pobreza e do desenvolvimento, 21 anos depois de Amartya Sen e quatro anos depois de Angus Deaton. Seguramente, este galardão premeia este ano trabalhos socialmente mais relevantes e menos nocivos do que, por exemplo, as teorias sobre a capacidade autoregulatória dos mercados financeiros de um Eugene Fama, premiado em 2013.

Em todo o caso, a comparação com Amartya Sen e Angus Deaton, autores de trabalhos de enorme fôlego em termos teóricos e empíricos, é ela própria ilustrativa do estreitamento que a economia do desenvolvimento dominante tem vindo a sofrer, muito por culpa da crescente dominação dos Randomised Controlled Trials (RCTs), que poderemos traduzir por algo como ‘ensaios clínicos randomizados’ e que são precisamente a abordagem que valeu a Benerjee, Duflo e Kremer o prémio agora atribuído. Em boa parte das instituições de investigação em economia do desenvolvimento, os RCTs são uma enorme porção do que se faz hoje em dia, em detrimento da atenção às muito mais importantes questões estruturais, como a industrialização, as políticas macroeconómicas, a estrutura e dinâmicas dos mercados ou as relações de propriedade, que anteriormente dominavam este campo e que, como argumento mais à frente, são as que realmente importam para as questões do desenvolvimento e da redução da pobreza.

Entretanto, claro que os RCTs não são uma abordagem nova, nem foram introduzidos por estes investigadores; os ensaios clínicos randomizados, com o estabelecimento aleatório de um grupo de tratamento e um grupo de controlo para testar a eficácia de um tratamento, são há muito a abordagem consagrada para os ensaios clínicos em medicina. O que é novo e muito deve a estes três economistas é a sua generalização na microeconomia do desenvolvimento, isto é, a sua aplicação ao estudo das escolhas individuais e à análise da eficácia de diferentes intervenções em contextos caracterizados pela pobreza em países em desenvolvimento.

Será preferível distribuir redes mosquiteiras de graça ou mediante um preço reduzido? Quais as melhores formas de incentivar a assiduidade e prestação dos professores primários? É melhor que certos apoios sociais sejam condicionais à adoção de determinados comportamentos ou incondicionais? Este é o tipo de perguntas a que procuram responder os RCTs no domínio do desenvolvimento, estabelecendo aldeias ou grupos de pessoas a quem o ‘tratamento’ é aplicado e os seus resultados comparados com os do grupo de controlo. Se a amostra for suficientemente grande e (condição crítica mas muitas vezes ignorada) se a resposta ao tratamento por parte da população for relativamente estável e determinística, então o próprio processo aleatório seguido no estabelecimento da amostra permite inferências estatísticas bastante poderosas e rigorosas quanto à eficácia da intervenção. É precisamente por isso, aliás, que em geral confiamos nos medicamentos que foram sujeitos a ensaios clínicos.

O problema, porém, é que ao contrário das respostas biológicas humanas, que são relativamente invariantes de organismo para organismo, os comportamentos e respostas sociais são muito mais complexos e dependentes do contexto. A ‘melhor’ intervenção num determinado contexto (questão que aliás nunca é apenas técnica mas tem sempre uma dimensão politica) pode produzir resultados muito distintos noutro contexto por uma infinidade de razões.

Por isso mesmo, a presunção de retirar conclusões gerais sobre as ‘melhores’ intervenções num qualquer domínio a partir de uma amostra particular numa região particular do Quénia ou da Bolívia (ou de Portugal...) assenta numa visão mecanicista e sofre de enormes problemas em termos daquilo a que chamamos ‘validade externa’: a aplicabilidade das conclusões a outros contextos. E é precisamente por causa disso que mesmo ao nível do estudo dos microcomportamentos individuais a economia da pobreza não pode limitar-se a uma análise estatística mecanicista de quais as intervenções que ‘funcionam’ e deve procurar compreendero porquê dessas intervenções funcionarem (ou não funcionarem), nomeadamente com recurso a uma bateria muito mais ampla de métodos, incluindo métodos qualitativos.

Em todo o caso, o maior problema da dominação da economia do desenvolvimento por parte desta abordagem é mesmo o facto de, em última instância, ela ter muito pouca relevância para dar respostas ‘sobre as melhores formas de combater a pobreza’ nos países em desenvolvimento. O exemplo da China, onde 850 milhões de pessoas saíram da pobreza extrema entre 1981 e 2015, é esclarecedor, já que esta redução da pobreza sem precedentes na história da humanidade não aconteceu por via de micro-intervenções em torno das escolhas dos indivíduos mas da transformação estrutural da sociedade e de políticas de grande amplitude. Para quem queira realmente responder aos problemas da pobreza e do desenvolvimento, é por isso indispensável estudar as transformações estruturais e as políticas que com elas estão relacionadas (bem como, no caso da China e outros, os problemas e consequências sociais, ambientais e políticos que lhe estão associados), recusando o estreitamento da disciplina de que os RCTs são uma causa e um símbolo maior.

É claro que a aplicação dos RCTs nestes contextos, e o trabalho destes três investigadores em particular, têm muitos méritos. O problema está no facto de terem sido alcandorados à condição de metodologia-rainha para o estudo da pobreza e do desenvolvimento, ignorando que a validade externa é fundamental, que as sociedades humanas são complexas e não determinísticas, que a compreensão é muitas vezes mais importante do que a avaliação da eficácia e que as questões mais importantes da pobreza e do desenvolvimento são estruturais e não individuais.

Terceiro dia de protestos na Catalunha

De  Nara Madeira  • Últimas notícias: 17/10/2019 - 09:21

Terceiro dia de protestos na Catalunha

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A Catalunha voltou a ser palco de violentos distúrbios. A terceira jornada de protestos contra a decisão do Supremo Tribunal espanhol de condenar a penas pesadas de prisão nove líderes independentistas. Pelo menos 20 pessoas foram detidas e meia centena acabou por receber tratamento médico.

As chamadas "marchas pela liberdade", convocadas para esta quarta-feira, voltaram a reunir milhares de independentistas e a cortar as principais artérias da Catalunha. Em Barcelona, cerca de 22.000 pessoas concentraram-se frente à subsecretaria do Ministério do Interior.

Os confrontos com a polícia começaram ao final da tarde, com manifestantes a usarem coquetéis molotov, entre outras coisas, contra as forças da ordem. Dezenas de carros foram incendiados.

O chefe interino do governo reuniu-se com os principais líderes da oposição para avaliar a crise catalã. O líder dos Ciudadanos, Albert Rivera, pediu a Pedro Sánchez para aplicar o artigo 155 da Constituição, que permite a Madrid intervir no governo regional catalão, como aconteceu em 2017. Para já, Sánchez deixa um aviso:

"O governo reitera que não vai aceitar, de forma alguma, que a violência se imponha à convivência. O governo de Espanha atua, e continuará a atuar, com todos os mecanismos do Estado para garantir que os direitos fundamentais continuem em vigor e que se mantenha a ordem na Catalunha", afirmou Sánchez.

Foi já depois da meia-noite, e após dois dias de silêncio, que o presidente da Generalitat, Quim Torra, veio condenar a violência e apelar à calma:

"Peço calma e serenidade. O movimento pela independência não é, e nunca foi, violento. Condenámos sempre, e condenamos hoje, a violência. Não podemos permitir que continuem os incidentes que estão a acontecer nas ruas do nosso país. Repito, serenidade, determinação, civismo e não-violência", pediu o líder catalão.

Trump escreveu carta a Erdogan

De  Nara Madeira  • Últimas notícias: 17/10/2019 - 11:37

Trump escreveu carta a Erdogan

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رويترز

No dia em que foi divulgado que o vice-presidente dos EUA e o chefe da Diplomacia do país, Mike Pence e Mike Pompeo, se encontrarão com o presidente turco em Ancara, para debater a Síria, foi divulgada uma carta de Donald Trump a Recep Tayyip Erdoğan, enviada quando o país iniciou a ofensiva no norte da Síria.

No documento, o chefe de Estado ameaçava a Turquia dizendo que Erdogan não quer ser responsabilizado pelo massacre de milhares de pessoas ao mesmo tempo que ele, Trump, não quer ser responsável pela destruição da economia turca.

O presidente pedia ao seu homólogo para não ser "idiota" acrescentando que lhe cabe decidir se quer ficar para a história como um "diabo".

Há meios de comunicação que dizem, citando fonte da presidência turca, que Erdogan deitou a carta de Trump para o lixo.

O chefe de Estado tem mantido a postura de que - na sua cruzada pela criação de uma zona de segurança - não recuará, nem negociará com os curdos que apelida de terroristas.

Num esforço para bloquear o avanço das tropas turcas, as forças sírios, ladeadas pelas russas, entraram em Kobani, enquanto os militares turcos continuam a avançar no terreno.

Novo acordo para o Brexit entre UE e Reino Unido

De  Euronews • Últimas notícias: 17/10/2019 - 15:01

Anunciado novo acordo para a retirada do Reino Unido da União europeia

Anunciado novo acordo para a retirada do Reino Unido da União europeia -

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REUTERS/Francois Lenoir

A União Europeia (UE) estabeleceu um novo acordo para o Brexit com o governo britânico agora liderado por Boris Johnson.

Na Escócia, ganha força o grito pela independência, enquanto a oposição britânica pretende levar o novo acordo a referendo popular.

Reuters Top News

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· 6h

BREAKING: UK's Boris Johnson and EU's Jean-Claude Juncker say there is a #Brexit deal

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Reuters Top News

@Reuters

MORE: UK Prime Minister Boris Johnson says Britain and the EU have agreed a 'great' new #Brexit deal https://reut.rs/2MNsLyf

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11:05 AM - Oct 17, 2019

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A Comissão Europeia recomendou ao Conselho Europeu, composto pelos restantes 27 líderes europeus, a validação este novo acordo expresso num texto "justo para a União Europeia e para o Reino Unido", considerou Jean-Claude Juncker.

De recordar que o novo acordo tem de ser ainda aprovado por unanimidade pelos restantes 27 líderes europeus e depois terá de passar ainda pelo crivo do Parlamento britânico, onde o anterior acordo estabelecido com o executivo de Theresa May foi reprovado três vezes.

O negociador-chefe da UE para o Brexit, o francês Michel Barnier, explicou entretanto a revisão do acordo que dá à Irlanda do Norte um estatuto especial perante a República da Irlanda.

"Em termos de regulamentação, a Irlanda do Norte vai manter-se alinhada a um conjunto limitado de regras afetas ao mercado comum da UE de forma a evitar uma 'fronteira burocrática' ('hard border')", lê-se no comunicado entretanto divulgado pela Comissão Europeia.

Barnier sublinhou ser este um acordo que "compromete totalmente a UE e o Reino Unido na proteção da paz e estabilidade na ilha da Irlanda."

Oposição em Belfast

O Partido Unionista Democrático, da Irlanda do Norte, já tinha anunciado em comunicado, esta quinta-feira de manhã, que não poderia apoiar o atual plano de Boris Johnson e após as últimas notícias fez saber que a oposição se mantinha.

Em causa está a aplicação proposta de impostos aduaneiros e "a falta de clareza" sobre o Imposto de Valor Acrescentado (IVA), após o Brexit.

"Vamos continuar a trabalhar com o Governo para tentarmos um acordo razoável que funcione para a Irlanda do Norte e proteja a integridade económica e constitucional do Reino Unido", lê-se no comunicado do DUP.

DUP

@duponline

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6:46 AM - Oct 17, 2019

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O Partido Conservador, de Boris Johnson, defendeu que o novo acordo permite ao Reino Unido "concluir o Brexit e deixar a União Europeia daqui a duas semanas".

"Depois podemos focar-nos nas prioridades das pessoas, o país pode unir-se e avançar", lê-se na publicação do partido no Governo.

Conservatives

@Conservatives

Our new deal allows us to get Brexit done and leave the EU in two weeks’ time, so we can then focus on the people’s priorities and the country can come together and move on.#GetBrexitDone #TakeBackControl

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346

11:22 AM - Oct 17, 2019

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Do lado da oposição, o Partido Trabalhista anunciou a campanha para um referendo ao novo acordo de Boris Johnson para o Brexit.

"Do que sabemos, Johnson negociou um acordo pior que Theresa May, que foi esmagadoramente rejeitado", sublinhou o líder trabalhista, pelas redes sociais, classificando o novo acordo com Bruxelas como "um negócio de liquidação" que não irá unir o país e que "deve ser rejeitado".

"A melhor forma de resolver o Brexit é dar a última palavra ao povo num voto público", concluiu Jeremy Corbyn.

Jeremy Corbyn

@jeremycorbyn

From what we know, Johnson's negotiated a worse deal than Theresa May. This sell-out deal risks our rights, protections and NHS. It won’t bring the country together and should be rejected.

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11:30 AM - Oct 17, 2019

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Da Escócia, o Partido Nacional (SNP) deu força ao grito pela independência.

A líder, Nicola Sturgeon sublinhou que "a Escócia não votou pelo Brexit e os deputados do SNP não irão votar pela saída". "Em especial porque se torna claro que a Escócia, isolada nas nações do Reino Unido, está a ser tratada de forma injusta", acusou.

"Nas circunstâncias atuais, está claro mais do que nunca que o melhor futuro para a Escócia deve ser o de uma nação europeia igual e independente. Essa é uma escolha que estou determinada a dar ao povo da Escócia", prometeu Sturgeon.

Sentença na Catalunha: Europa, agora é convosco

Posted: 16 Oct 2019 02:56 AM PDT

«100 anos numa prisão. Este é o veredicto final do Supremo Tribunal espanhol no julgamento dos antigos membros do governo catalão, da presidente do parlamento e de dois líderes de base. 100 anos por realizar um referendo – que por sinal não é ilegal em Espanha segundo a Constituição espanhola, e que foi eliminado de forma explícita como crime do Código Penal espanhol em 2007. 100 anos por exercer direitos de uma forma cívica, pacífica e democrática. 100 anos por deixar as pessoas votarem, por realizar um debate no Parlamento e por defender ideias. Estas pessoas, meus colegas e amigos, foram julgadas e condenadas pelas suas opiniões políticas no século XXI; em pleno coração da União Europeia, uma união assente em direitos e liberdades fundamentais. Naturalmente, isto cria um diferendo grave sobre a própria natureza da democracia na Europa.

O resultado do julgamento, que condena 12 pessoas inocentes, é um erro histórico da Espanha. Um erro que não ajuda a melhorar nada, mas apenas piora a situação. O governo catalão e a sociedade catalã procuraram sempre uma solução democrática para esta questão política entre a Catalunha e a Espanha. A tentativa do Governo espanhol de resolver a crise através de tribunais e de celas de prisão nunca irá gerar uma resposta para este problema. Mandar opositores políticos para a prisão durante 13 anos não é uma solução.

O diálogo é a única saída; é neste sentido que temos trabalhado desde sempre e é aquilo que os parlamentos e as entidades internacionais em toda a Europa têm estado a pedir durante os últimos anos.

Ao contrário do governo catalão, [o primeiro-ministro espanhol] Pedro Sánchez nunca tentou sair deste impasse através do diálogo; algo que se tornou ainda mais evidente com as sentenças que o Procurador-Geral e o Ministério Público espanhóis, duas figuras ligadas ao Governo espanhol, pediram logo no início do julgamento, em fevereiro. Alguns acharam que a chefia do governo de Sánchez iria abrandar o conflito, mas infelizmente verificámos que Sánchez não tem vontade ou capacidade de avançar.

Este julgamento e esta sentença contra a democracia tornaram ainda mais difícil uma solução dentro do reino de Espanha. A judicialização da questão projeta inevitavelmente o conflito para a Europa, para as suas instituições e para os seus tribunais internacionais. A este respeito, é vital que a comunidade internacional assuma um papel ativo para ajudar a resolver o conflito entre a Catalunha e a Espanha. De facto, as consequências do julgamento provam que este deixou de ser um assunto interno da Espanha; é uma crise europeia e global. Ou o mundo intervém ou o conflito irá expandir-se e gerar mais problemas para aqueles que claramente pretendem evitar isso.

O governo da Catalunha acredita que há uma solução, que não passa pela força ou pelos tribunais, mas por conversações e votos. É viável e não deixaremos de a procurar porque é a única saída possível. Apelamos à comunidade internacional para fazer ouvir a sua voz e, de uma vez por todas, exigir ferramentas democráticas e negociadas. Estão em jogo direitos fundamentais na Europa, e os democratas europeus não podem ficar calados. Com estas sentenças, já não é possível ficar calado.

Estas 12 pessoas inocentes não devem estar na prisão. Criminalizar o voto nunca é a resposta, mas sim o seu oposto. Os cidadãos da Catalunha devem poder decidir o seu próprio futuro, votando sem recear a repressão. A democracia tem de prevalecer. O bem-estar das gerações futuras depende disto, e não apenas na Catalunha ou em Espanha. Europa, agora é convosco.»

Alfred Bosch

Conselheiro de Relações Exteriores da Catalunha