(Por Estátua de Sal, 23/02/2017)
A direita portuguesa anda histérica. Depois do diabo ter metido férias, o déficit ter atingido o valor mais baixo de sempre, a economia estar a ganhar fôlego, os rendimentos de muitos portugueses terem aumentado e as cassandras internacionais, FMI, Comissão Europeia, OCDE, terem engolido em seco perante os resultados económicos de 2016, a direita coleccionou derrotas em toda a linha e ficou com a agenda reduzida a um programa político de 160 caracteres ao nível nos SMS do Domingues.
Com tanta irritação e falta de comprimidos para o mau humor, resolveram atacar tudo e todos. Atacam o Centeno porque dizem que mentiu, atacam o Costa porque o protegeu, atacam o Marcelo porque protegeu o Costa, e atacam agora o Presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, porque não os deixa atacar, como eles querem, o Centeno, o governo, e especialmente a CGD.
Falam já de "asfixia democrática e parlamentar", coitados, eles que tem toda a comunicação social a conspirar a seu favor, e onde o espaço de análise e comentário lhes é escandalosamente favorável, e por isso altamente enviesado. Basta ver as parangonas dadas à polémica dos SMS do Domingues em contraponto com o relevo que está a ser dado à recente notícia da saída dos dez mil milhões de euros para offshores no tempo do governo anterior, sem que a Autoridade Tributária os tenha controlado cabalmente. É uma desproporção de tal calibre, a qual é inversamente proporcional à gravidade e ao impacto financeiro dos dois assuntos, que é de bradar aos céus.Mas eles é que estão asfixiados. Ria-se até ao choro.
Assim, a Dona Cristas vai amanhã ao Marcelo apresentar queixa, pelo facto de as esquerdas, como ela gosta de dizer, lhe estarem a apertar o gasganete. Como se o Marcelo pudesse fazer fosse o que fosse e meter-se no assunto, tendo em conta a independência dos orgãos de soberania, constitucionalmente consagrada. Mas, claro que para a Dona Cristas, a Constituição é como uma revista de moda chique que se pode ler de pernas para o ar porque, o que verdadeiramente interessa, são as gravuras. Já estou a imaginar a Dona Cristas a dizer ao Marcelo: - Ó sr. Presidente, estou com uma falta de ar enorme. E o Marcelo, que é hipocondríaco e de remédios sabe tudo, a responder na passada: - Ai sim? Olhe, tome lá um frasco de Onsudil que é excelente para a dispneia. Não me diga que não conhecia e que nunca tomou?!
O deputado do PSD Marques Guedes fala mesmo de totalitarismo, perigosas derivas e atropelos aos regulamentos da Assembleia da República, tudo com a conivência activa do seu presidente. ( Ver aqui). Tudo porque insistem em querer colocar a coscuvilhice ao serviço da sua política ressabiada já que nada mais tem para oferecer ao país que não a sua quezilência de personagens menores.
Mas o mais acutilante ponta de lança da direita é mesmo o deputado Montenegro que vem à baila com mais uma doença do foro mental: a claustrofobia democrática (Ver aqui). Ora, diz o dicionário Priberam que a claustrofobia é o "Medo patológico da clausura ou dos pequenos espaços" (Ver aqui). O que quererá o Montenegro dizer? Que tem medo do Parlamento? Que o Parlamento encolheu e ficou reduzido a um T0? Que o PSD já não cabe no Parlamento? Foi então por já não caber na sala que o deputado do PSD Matos Correia abandonou a presidência da Comissão Parlamentar de Inquérito à CGD? Ria-se de novo.
Mas, a prova máxima da histeria, e o mais grave ainda, foi ver hoje o Montenegro a chamar "soez" ao primeiro-ministro, em declaração às televisões. Anda a usar palavras caras, o Montenegro. Lá tive que ir de novo ao Priberam para ver o que era, ainda que intuísse que não devia ser coisa boa. Soez é o mesmo que "Vil, torpe, reles", adjectivos nada bonitos para designar um primeiro ministro.
Para quem anda tão asfixiado, não está nada mal a liberdade com que praticas o insulto ó Montenegro. E se eu te disser que não passas de um peão de brega, um bandarilheiro falhado desse teu incompetente e quadrilheiro chefe que é o Passos Coelho? Gostas do troco?
Em suma. A corja está em pânico. Sempre valeu tudo mas agora vale o mais que tudo e já nem sequer se esforçam por manter o verniz da civilidade e da boa educação. A verdade, como diz o povo, é como o azeite e vem sempre ao cima. E quem é troglodita nunca deixa de o ser. Por muita fazenda e água de colónia que ponha em cima da sua pele de cavernícola.
Ovar, 26 de fevereiro de 2017
Álvaro Teixeira
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