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sábado, 11 de março de 2017

OS RESSABIADOS (estatuadesal)

 

(Joaquim Vassalo Abreu, 09/03/2017)
ressabiados1

“Ressabiado” é um dos tais adjectivos que não se chama a ninguém. Eu até o acho um dos mais feios que a língua portuguesa contem. É como chamar “sonso” ou “sonsa” a alguém, e se for no feminino aí até o caldo de certeza que entorna. Porque o “ressabiamento” releva para o melindre, para o agastamento, para o ressentimento. Tudo coisas a que não devemos apelar das profundezas de qualquer ser, assim de mal com a vida ou descontente com o rumo que leva…E torna-se mesmo perigoso, pois apela à “revanche”.
Assim como no futebol, onde assistimos a gente insuspeita lançar impropérios intraduzíveis contra os árbitros e tudo o que se movimente e não sirva os superiores desígnios da sua equipa e nós, não fanáticos, olhamos de soslaio e nos perguntamos “Este? Como pode ser?”, também no caso de ontem da Assembleia, para quê Costa chamar Passos, Montenegro & Ca Lda de “ressabiados”, só porque no último debate estes lhe chamaram de vil, de ordinário, de soez, de reles, de mal educado, e outras coisas mais?
Tu devias fazer como os árbitros no futebol, Costa. Querem lá eles saber para onde os mandam, o que e onde devem tomar, se até as suas mães, esposas ou namoradas disso se alheiam e a isso tapam os ouvidos? Aquilo, Costa, aquilo são “claques”, apenas “claques”, apesar de oficiais, Costa! Agora, meu caro e dileto Costa, chamares-lhes “ressabiados”? Depois não queres que ele diga, como eu disse num texto de há uns dias, “deslarguem-me, que eu vou-me a ele”…
Portanto Costa, tens que ser mais compreensivo e bondoso, deixá-los viver lá no mundo deles, utilizar o seu dicionário, até ele se esgotar e não terem mais adjectivos livres para te invectivarem, Costa. Releva, meu. Faz como o Jerónimo, pá. Viste o que há dias ele fez, quando começava a falar, perante aquela gritaria toda, lá está, como se estivessem num estádio? O Jerónimo soergueu as sobrancelhas, fez uma daquelas caras que até o susto arrepiam e disse-lhes, com aquela calma e classe que se lhe reconhece: “ Eu já ando aqui há muitos anos e nunca vi a direita tão barulhenta. É sinal que estão derrotados, mas assim não vão lá, assim não vão lá…”.
Vá lá Costa, sê humilde e pede-lhes desculpa! Mas não faças como aqueles que se viram para alguém e dizem : “Peço desculpa, mas V.Exª é uma “granda” besta! Nada disso.
Mas eu percebo a tua pungente pergunta, aquela pergunta que te faz exasperar e tanto pensar e para a qual não encontras qualquer razão, e isto é só um aparte- e eu também não!, e que é a de não saberes o que desculpar. Pedir desculpa de quê, perguntas-te tu e muito bem?
Complicado, não é? Mas olha António: eu sei que não és crente, mas sabes certamente, como todos sabemos, o que dizem os Evangelhos, a Bíblia ou lá o que é, que eu nisso sou como tu. Mas qual é o dito? É o seguinte: “Bem aventurados os pobres de espírito que deles é o reino dos céus”.
E depois tens que saber medir bem as temperaturas! Hoje, por exemplo, esteve um calor dos diabos! Mas o que é certo é que ele já ontem foi anunciado com aquela súbita e inexplicável subida de temperatura no Parlamento! E tu sabes bem, meu caro António, que esta temperatura desmesuradamente quente não é própria da época! Porquê, então, contribuíres para este aquecimento?
Deixa-os falar, António! Responde ao que eles querem que respondas porque, no resto, quer dizer, do passado, todos nos lembramos. Deixa-os falar, António. Deixa-os culparem-se, a seguir desculparem-se e, de imediato, te culparem. Que se há-de fazer, António? C,est la vie, non?
Já agora olha-me também, não digo com tanta atenção como deves olhar para o Jerónimo, para a Catarina, que de tão tonta estava de tão inusitada subida de temperatura, já a suar por todos os poros, uma transpiração também ela incomum de incompreensão feita, quando ela disse: “Mas vocês estão a falar de quê? Que se passa?”, perguntava ela, cheia de calores.
Já o Jerónimo, afundado na sua cadeira, já moldada a tantos anos de ali sentado, olhava com uma bonomia alheia a quaisquer aumentos de calor, e sem precisar sequer de ar condicionado, para tudo aquilo e devia pensar, como aqui penso que já referi, tal como o nosso Pai fazia, quando nós, em Família, tudo discutíamos como se dessa discussão, ou da putativa razão de cada um, resultasse o futuro da humanidade e ele pensava (e dizia): “Que tolinhos…”!
Portanto António, dou-te um conselho amigo, e tu sabes que o é: Tu mede-me as palavras António, tu mede-me as palavras…
E deixa-os levar a bicicleta, António! É que eles nem se dão conta que tem os pneus furados, António!
Vai por mim…
 
Ovar, 11 de Março de 2017
Álvaro Teixeira

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