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quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Cinco testes para domingo

Cinco testes para domingo

Miguel Guedes

Miguel Guedes


As eleições autárquicas do próximo domingo não serão apenas mais uma eleição relevante para o poder local. Mais do que em nenhuma outra eleição autárquica anterior, a leitura será nacional enquanto expressão de uma bateria de testes ao estado da democracia e aos microclimas que, em alguns casos, pairam como nuvens negras. Os testes de domingo serão uma radiografia ao estado deste sítio.

O primeiro grande teste será ao desaparecimento do PSD. Ou à sua sobrevivência estéril. Incapaz de gerar uma alternativa de oposição à geringonça montada, longe de conseguir sustentar um programa autárquico que possibilite uma aproximação à realidade do país do qual tem teimado em se distanciar, inábil para sustentar candidatos capazes e credíveis em muitas das principais cidades do país, o PSD de Passos atira-se para a expressão dos votos com a vontade de os ver antecipadamente pelas costas. Provavelmente, curvado, um peso que o partido terá de carregar até ao próximo Congresso. Em périplo pelo país, não consta que a máquina de Rui Rio se mobilize para outras eleições senão essas. Encostada a algumas das ideias da extrema-direita, a falência laranja poderá parir um Rio.

O outro teste evidente será ao funcionamento da geringonça com as peças soltas. Se o PS crescer à custa do fato de costura nacional, não impedindo o crescimento eleitoral do BE e permitindo a manutenção da força autárquica do PCP, a geringonça provará que o seu prazo de garantia é extensível às peças. E a máquina, oleada pela execução, terá todas as condições para funcionar sem sobressaltos. Um hipotético desequilíbrio relativo entre as forças será a primeira porção de desconforto a pulverizar veneno na engrenagem.

Se a independência tem um preço, veremos quanto vale em teste. Este é o desafio de muitos candidatos independentes que suam as estopinhas no aperto de um fato que não foi feito à sua medida. Indiscutivelmente, o Porto não faz turismo eleitoral e foi, tantas vezes pela sua liberdade, o melhor destino de quem anseia por surpresas na noite das eleições. Manuel Pizarro, suportado pela força nacional do PS, não claudicou pela cisão e Rui Moreira é apontado pelas sondagens à proximidade da derrota, à maioria relativa e à iminência da maioria absoluta. Estranhas casas de apostas, estas. As sondagens vão, também elas, a teste de aferição. Depois de contados os votos, e perante tantas disparidades, o país será pequeno para albergar tantas empresas de sondagens.

O quinto teste não cabe nos cinco dedos de uma mão. São mais que muitos. Dinossauros, arguidos ou sentenciados vão a votos. E um racista. A tendência para o esquecimento selectivo e para a perpetuação do jurássico não são uma originalidade portuguesa. À boleia dos mais recentes resultados nas eleições alemãs, oxalá não copiemos outros maus exemplos.

O autor escreve segundo a antiga ortografia

MÚSICO E JURISTA

Fonte: JN.PT (27/09/2017)

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