por estatuadesal |
(Nicolau Santos, in Expresso Diário, 09/10/2017)
(Permita-me discordar do último parágrafo, caro Nicolau Santos. É que lembrei-me logo do Evaristo. No filme "O Pátio das Cantigas" quando o Sr. Evaristo (António Silva) vai para "termas" no Cartaxo o Narciso Fino, (Vasco Santana) atira-lhe a seguinte "pérola":
«Boa viagem. Vai e quando lá chegares manda saudades que é coisa que cá não deixas.»
É o mesmo que eu diria a Schäuble.
Estátua de Sal, 09/10/2017)
O ministro alemão das Finanças participou esta segunda-feira, pela última vez, num encontro do Eurogrupo, de que foi figura tutelar, e o alfa e ómega, durante o período em que ali esteve. E sai a dizer que Portugal é um caso de sucesso das políticas de austeridade que sempre defendeu. Pois lá teremos que discordar.
"Portugal é uma vez mais a prova de que a nossa política de estabilização do euro foi um sucesso, e de que, contra algumas dúvidas, conseguimos, com êxito, manter o euro estável após oito anos de crise", disse Schäuble no início da reunião.
Bom, para quem disse em 2016 que Portugal estava a ir bem até mudar de Governo e que, não uma mas duas vezes no ano passado e já neste, sugeriu que o país poderia ser obrigado a pedir um novo resgate internacional, é seguramente curioso ouvir agora estas palavras de Schäuble.
É verdade que a partir de maio, com a saída de Portugal do Procedimento por Défice Excessivo, o ministro alemão tem mudado de discurso em relação ao Governo de António Costa e à gestão de Mário Centeno, deixando para trás os duros avisos e as fortes críticas iniciais sobre a política de reversão de medidas de austeridade do atual executivo.
A mudança chegou ao ponto de, com ironia ou sem ela, o homem forte do Eurogrupo ter apelidado o ministro português das Finanças de Ronaldo do Ecofin.
Mas não nos iludamos. Schäuble não mudou de opinião em relação às políticas de austeridade que defendeu para combater a crise. O modo como tratou a Grécia e o ministro helénico das Finanças, Yannis Varoufakis, demonstra bem que Schäuble nunca aceitou que houvesse alternativa às políticas que preconizava.
O seu lema sempre foi There Is No Alternative (TINA). Daí o seu desconforto com a mudança de políticas preconizada por António Costa e Mário Centeno, que apesar da devolução de salários e outros rendimentos, têm permitido reduzir o défice, aumentar o crescimento, o investimento e as exportações e diminuir o desemprego.
Por isso, tem deixado sempre claro que os programas de austeridade e de resgate foram necessários e são também responsáveis pelas histórias de sucesso, passando por cima das mudanças de política económica que existiram em Portugal e que comprovam que existia alternativa.
Uma coisa, contudo, se deve reconhecer: Schäuble foi muito duro em matéria de programas de austeridade, mas apoiou, como contrapartida, a solidariedade financeira dos Estados-membros para com os países sob resgate, quando havia vozes no norte da Europa que se manifestavam contra e mesma parte importante da opinião pública do seu país estava igualmente muito reticente.
Ora no Governo de coligação que a sra. Merkel está a organizar, os liberais já fizeram saber que gostavam de ficar com a pasta das Finanças. O pequeno problema é que, durante a campanha eleitoral, o FDP endureceu o seu discurso contra a política de acolhimento de imigrantes e contra o apoio ao resgate de países do sul da Europa.
Por isso, não é nada seguro que esta troca de partidos e de pessoas no Ministério alemão das Finanças venha a ser favorável a todos os que defendem novas regras económicas e financeiras, mais flexíveis e mais solidárias, na União Europeia, nomeadamente no que toca à titularização da dívida europeia e à conclusão da União Bancária, em particular a criação de um mecanismo comunitário de apoio a bancos em dificuldades.
Ou seja, um dia destes acordamos e descobrimos que temos saudades de Herr Schäuble. Seria irónico mas tudo é possível.
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