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quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Neoliberalismo maquilhado

ladroes de bicicletas

Posted: 04 Oct 2017 06:44 AM PDT

O europeísmo realmente existente está reduzido a uma espécie de neoliberalismo maquilhado. Macron, que investe literalmente muito em maquilhagem, é a melhor expressão disso mesmo. Não vale a pena perder tempo com os seus recentes discursos e propostas com escala europeia. O facto de, em conjunto com os de Juncker, ainda inspirarem de alguma forma Augusto Santos Silva diz tudo sobre o estado ideológico de uma certa social-democracia, a que recusa retirar qualquer ilação da relação entre a integração europeia depois de Maastricht e a crise desse movimento um pouco por todo o continente. O seu “precisamos da ambição francesa e da sageza alemã”, da ambição de Macron e da sageza de Merkel, isto é, indica que depois da tragédia que tem sido o euro a história do seguidismo nacional ainda se repetirá sob a forma de variadas farsas.
Vale a pena, isso sim, perder tempo com a solidariedade em relação aos que combatem as políticas públicas que Macron leva a cabo na escala nacional. Estas políticas são, na realidade, a melhor expressão da lógica da economia política da integração europeia: falo sobretudo da ambiciosa aposta na redução dos direitos e aumento das obrigações laborais, com as correspondentes diminuição das obrigações e aumento dos direitos patronais, aspecto que tem sido bem sublinhado por Manuel Carvalho da Silva, incluindo nas suas declinações europeias:
“Em França, país de importância histórica na conquista de direitos individuais e coletivos no trabalho, Macron, enquanto encena aparentes ideias inovadoras para o projeto europeu, desencadeia uma ofensiva anti laboral sem precedentes, apoiado pelos poderes dominantes da União Europeia (UE). Draghi expressou (...) a expectativa de tais reformas 'eliminarem o dualismo no mercado de trabalho', o que pelas experiências conhecidas significa generalizar a precarização e acentuar a desproteção dos trabalhadores. Muito do futuro do trabalho no continente europeu joga-se em França.”
Por cá, neste contexto estrutural, um governo com apoio da esquerda arrisca-se a não ser mais do que um compasso de espera no que às relações laborais diz respeito. E isto depois do histórico retrocesso do governo da troika, bem analisado neste livro. Como na economia política continua a não haver relação mais decisiva, é preciso enfrentar este risco. Se não agora, quando?

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