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sexta-feira, 6 de outubro de 2017

O Ventura ainda fica com o PSD


Estátua de Sal

por estatuadesal

(Nicolau Santos, in Expresso Diário, 06/10/2017)

nicolau

A procissão ainda não saiu do adro e já há dois desistentes ao cargo de presidente do PSD: o ex-líder parlamentar Luís Montenegro e o eurodeputado Paulo Rangel. As opções parecem resultar de cálculos políticos. Acontece é que, em matéria de cálculos políticos para a liderança do PSD, já vimos várias previsões saírem furadas. Vamos ver se, com tanta desistência, o único candidato ao cargo será …André Ventura.

Dois putativos candidatos à liderança da nação laranja abandonaram o campo antes da batalha se iniciar, embora batendo no peito e, por meias palavras, deixando no ar que “contem comigo”, “para a próxima é que é”. Em comunicado, Luís Montenegro afirma: “Após a reflexão que fiz, entendo que, por razões pessoais e políticas, não estão reunidas as condições para, neste momento, exercer esse direito [de ser candidato]”. Depois dá conselhos: “É determinante que PSD não fulanize o debate interno e que seja capaz de discutir as ideias e os projetos” que apresentará aos portugueses.

Finalmente, garante que irá participar “ativamente” no debate interno, mas, ao mesmo tempo, manterá “total equidistância face às candidaturas que vão surgir”, embora sem se furtar a “dar contributos e a partilhar reflexões que os candidatos aproveitarão, se assim o entenderem”.

Também Paulo Rangel divulgou hoje um comunicado a revelar que não será candidato. Numa nota enviada à Lusa, Rangel diz que, “infelizmente, e independentemente das condições políticas subsistentes, por razões de ordem familiar, que tentei solucionar ao longo dos últimos dois dias, nas atuais circunstâncias, afigura-se inviável a apresentação dessa candidatura", assegurando que manterá "uma neutralidade relativamente a essas eventuais candidaturas".

Temos, portanto, que dois putativos candidatos à presidência do PSD não o podem fazer por motivos pessoais. É sempre de respeitar decisões com base em motivos pessoais, porque todos temos os nossos problemas de intendência.

Se todos os putativos candidatos começam a fazer cálculos, assentes na premissa que o próximo líder será de transição, corre-se o risco do PSD cair nas mãos do truculento candidato dos sociais-democratas à Câmara de Loures

Restam, pois, Rui Rio, que parece que desta é que avança, e André Ventura, que já mostrou disponibilidade para ser alternativa a Rio, se mais ninguém avançar. Pedro Santana Lopes é assim a esperança para evitar que tenhamos um confronto Rio-Ventura. E confrontos deste tipo nunca se sabem como acabam, como se viu com o embate Hillary-Trump, logo o melhor é não experimentar. Infelizmente, o presidente da Misericórdia disse que estava a ponderar a questão mas não garantiu que avançava. E o bom trabalho que tem feito à frente da Santa Casa, acompanhado pela tranquilidade e segurança que o cargo lhe dá, vão provavelmente levá-lo a ficar em casa.

Verdadeiramente, a questão é esta: o PSD saiu tão fragilizado das eleições autárquicas que provavelmente o novo líder não só passa os próximos dois anos na oposição, como passará os outros quatro da legislatura seguinte. É claro que em política tudo muda e um grave problema económico levará as pessoas a mudar o sentido de voto. Mas não é esse, para já, o cenário mais provável.

Temos pois que, eventualmente, Luís Montenegro não se candidata já porque está muito ligado ao passismo – e porque o próximo líder, nas circunstâncias atuais, será para queimar. Paulo Rangel tem constrangimentos pessoais mas, no plano político, pensará o mesmo – o próximo líder vai ser cozido em lume brando. E haverá um tempo, mais tarde, para lhe roubar o poder.

Acontece que no PSD já vimos este filme. Com Luís Filipe Menezes. Com o próprio Durão Barroso, que foi um péssimo líder de oposição e nunca seria primeiro-ministro. Foi, na sequência de umas eleições autárquicas em que António Guterres se demitiu, esteve dois anos em São Bento e depois mudou-se armas e bagagens para Bruxelas, onde durante dez anos exerceu o cargo de presidente da Comissão Europeia.

Por isso, convém não facilitar. Se todos os putativos candidatos começam a fazer cálculos, assentes na premissa que o próximo líder será de transição, corre-se o risco do PSD cair nas mãos do truculento candidato dos sociais-democratas à Câmara de Loures. E se chegar a esse posto, não só será muito difícil tirá-lo de lá, como fica em posição de colocar os pés em São Bento. Esperemos nunca chegar a este cenário de choque e horror.

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