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terça-feira, 10 de outubro de 2017

Santana e a arte de se fazer desejado…

Estátua de Sal


por estatuadesal

(Daniel Oliveira, in Expresso Diário, 09/10/2017)

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Luís Montenegro deixou que se especulasse durante um ou dois dias. Até perceber o óbvio: que não tem estatuto político para ser um verdadeiro candidato à liderança do PSD. Nem mesmo como candidato previamente derrotado em representação do legado passista. Paulo Rangel deixou passar mais um dia. Até ele mesmo perceber que o apoio tão encarniçado como pouco sincero que deu à liderança de Passos não se limpava em poucos meses. Que quem queira virar a página no PSD não pode ter mácula de passismo. Passos é passado. Para ele, sobram os agradecimentos do exército de colunistas militantes de uma direita que existe quase apenas nos jornais e na academia e que o País descobriu com a troika e quer esquecer rapidamente. A estes órfãos isso irei noutro texto.

Mas com Pedro Santana Lopes nunca poderia ser assim. E mais uma vez, a segunda neste ano, a enésima nos últimos anos, o mundo político e mediático – o restante está-se nas tintas –, espera pela sua reflexão e decisão. Em quase todas as eleições, sejam presidenciais, autárquicas ou internas, é assim. E, no entanto, Santana só ocupou cargos nacionais nomeado como sucessor que ninguém desejava. Também foi por causa de meses de espera por uma nega de Santana que Passos Coelho foi obrigado a uma solução de recurso e a sofrer, em Lisboa, uma humilhante derrota. Não deixaria de ser irónico que Pedro Santana Lopes fosse eleito presidente do PSD como resultado de uma crise interna de que ele é um dos principais responsáveis.

O valor de Santana não é ser invencível apesar de ter, sabe-se lá como, criado a ideia que é uma máquina em campanhas eleitorais. A única eleição relevante que venceu (Figueira da Foz não conta num currículo de primeira linha) foi a de Lisboa, em 2001. Quem acompanhou essa campanha sabe bem que foi mais João Soares que a perdeu do que o PSD que a ganhou.

Soares foi displicente e, quando percebeu o erro de cálculo, optou por uma estúpida campanha de apelo a um combate antifascista que decisivamente não estava em causa naquela eleição. Depois de cumprir parte do mandato, Pedro Santana Lopes não voltou a ir às urnas em Lisboa. Abandonou, como abandonara sempre, o lugar a meio para se tornar primeiro-ministro por procuração.

Quando se candidatou ao cargo de primeiro-ministro, em 2005, ofereceu ao PSD o pior resultado desde 1983, de que nem Passos Coelho, depois de terríveis quatro anos de autoridade, se conseguiu aproximar. A sua incompetência deixa mais mossa eleitoral do que qualquer crise. E também ofereceu ao país a mais vergonhosa das campanhas, onde o “menino guerreiro” até se dedicou a insinuações sobre a orientação sexual do seu opositor.

Nas corridas à liderança do PSD, foi esmagado por Marcelo Rebelo de Sousa em 1996, perdeu para Durão Barroso em 2000 e ficou, nas primárias de 2008, atrás de Manuela Ferreira Leite e de Passos Coelho. Perdeu, perdeu, perdeu. Apesar deste invejoso currículo de derrotas mantém uma fama enganosa de vencedor, graças à vitória contra João Soares e a um fascínio da imprensa por esta colorida personagem política. E por isso esperam. Porque Santana tem uma arte única: a de se fazer desejado mesmo quando ninguém sabe ao certo porque raio o há de desejar.

Não sei se esta espera dará em alguma coisa. António Costa arranjou uma poltrona para Santana Lopes, que lhe permite alguma estabilidade e um certo estatuto de que precisa, para que se arrede da política. De todos os defeitos que lhe posso encontrar – de que o pior é a sua total vacuidade intelectual e política –, a falta de coragem para se atirar um confronto não é uma delas. Como se vê pela sua história, Santana não tem medo da derrota, o que é bom. Mas não sei se largará a poltrona da Santa Casa para esta batalha. A não ser, claro, que Vieira da Silva lhe diga que o lugar fica à espera de mais esta aventura. Será que o governo o deseja tanto a ponto de permitir que o lugar de provedor seja apenas um resguardo para um político intermitente? Duvido.

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