por Carla Romualdo
Ninguém diria, aqui, recostados ao sol como esse gato gordo que quase morreu de tantas sardaniscas que comia, mas agora passa os dias a dormir encostado ao muro. Ninguém diria que era daqui que saltavam para a linha, homens e mulheres, velhos e novos, gente daqui do bairro e doutras paragens, porque havia quem viesse de propósito para matar-se aqui. Desde que puseram este gradeamento alto, os suicidas desistiram da ideia ou buscaram outros lugares.
À mesa, sou a única forasteira. Os homens não dizem nada, fala a Maria, a mais velha.
- Nunca mais me esquece o dia em que vi muita gente debruçada no muro, fui espreitar e vi uma mulher caída, com a cabeça a deitar tanto sangue... Andei meses a pensar nisso, nem dormia em condições. Eu devia ter uns 14 anos e aquilo impressionou-me tanto…
O comboio está a passar debaixo dos nossos pés, estremece-nos.
A Maria puxa o xaile para os ombros. É o comboio que a arrepia. Ler mais deste artigo
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