por Sérgio Barreto Costa
Um destes dias, depois de rever o filme Os Homens do Presidente, fiquei algum tempo a reflectir sobre a importância do jornalismo. Não foi uma reflexão muito profunda, teve início durante os créditos finais e terminou três ou quatro minutos depois, quando a minha mulher, já cansada da cara de lorpa com que fico sempre que estou a pensar, me trouxe de volta à sala de estar. Felizmente, tal como em outros aspectos da vida, o que conta é a qualidade e não o tamanho da meditação.
Relembremos a história: Richard Nixon é eleito para um segundo mandato na Casa Branca com uma vitória absolutamente esmagadora e, dois anos depois, perante a total estupefacção dos americanos, é obrigado a resignar ao cargo por causa do escândalo Watergate. Bob Woodward e Carl Bernstein, jornalistas do Washington Post, ficam para a história como os corajosos profissionais que desenvencilham a tramóia e resgatam os eleitores do mundo de inocência em que viviam.
Em Portugal, no passado fim-de-semana, passámos por uma experiência semelhante. Todo um povo, até essa altura mergulhado numa doce ilusão, ficou de boca aberta e em estado de choque quando olhou para a capa do Jornal Sol. Pelos vistos, e contrariamente ao que julgávamos, os órgãos da administração da pátria estão repletos de boys dos partidos políticos; e alguns deles são tão bem remunerados que podemos considerar terem sido presenteados não com aquilo que vulgarmente se designa como um “tacho”, mas com um trem de cozinha completo. Como se isto já não fosse surpresa suficiente, ficamos também a saber que este esquema de distribuição de chicha tenrinha foi inventado por António Costa para exercer com mais facilidade o poder; e que todos os partidos, por serem bem-educados e saberem que não se fala enquanto se mastiga, se mantiveram calados.
Algumas pessoas, para se distraírem, dedicam-se a construir castelos de cartas com os amigos. O nosso primeiro-ministro, por não ser distraído, prefere construir pontes de notas com a oposição.
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