Ladrões de Bicicletas
Posted: 12 Dec 2017 05:24 PM PST
Já começou o trabalho de contenção de danos ideológicos que a excelente reportagem da TVI sobre a instituição Raríssimas gerou no tão incensado quanto raramente escrutinado sector das IPSS e instituições conexas (a jornalista Ana Leal já tinha exposto o capitalismo educativo engordando com os contratos de associação, com o caso do grupo GPS). Este sector deve em certa medida ser encarado como parte da quinta-coluna para a destruição, discreta e silenciosa, do Estado social, parceria público-privada a parceria público-privada em versão social.
Nesta contenção de danos tem, por exemplo, a palavra David Dinis: “o Estado não chega a todo o lado (nem deve estar em todo o lado)”. É este o programa que conduziu na área da provisão social à naturalização da engenharia opaca da separação entre provisão, particular, e financiamento, público. O Estado pode e deve estar e chegar onde é necessário, mas deve fazê-lo por via da provisão pública, numa lógica de serviço público e de correspondente emprego público. Investigue-se, de resto, a precariedade laboral no chamado terceiro sector, aparente repositório de virtudes.
A contenção de danos do que não é tantas vezes mais do que parasitagem institucionalizada passa agora por valorizar os “empreendedores sociais”, a “inovação social” e o respectivo financiamento, adivinhem, social, também à boleia de fundos de uma UE apostada em expandir este programa ideológico de esvaziamento dos Estados agora com novas roupagens. Mais uma vez a esquerda dita moderna, o PS, anda nisto, tal como andou, a par das direitas, a insuflar as IPSS pelo menos desde os anos noventa. O resultado estará à vista em breve.
E as perguntas repetem-se sob variadas formas perante as múltiplas engenharias neoliberais: como se destrói e como se reconstrói o velho e tão necessário Estado?
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