(In Blog O Jumento, 28/12/2017)
A primeira página do Público de hoje merece ser vista e revista, lida e relida, pensada e repensada; os jornalistas do Público dizem num único título o estado a que a democracia portuguesa chegou, dizem-no de forma espontânea, como se alguém tivesse adotado um artigo 1.ºA da Constituição no rescaldo das imensas sessões de beijinhos, desde os beijinhos a crianças ao beijinho no anel do arcebispo à saída da missa. Um artigo a dizer que no país nada pode ser feito e decidido sem o conhecimento prévio de Marcelo.
“Partidos aprovaram bónus de milhões sem dizer nada a Marcelo”, ao que isto chegou! Quem poderia imaginar que um dia os partidos deste país tivessem a coragem de alguma vez fazerem a este Marcelo o que nem a ANP, nem mesmo os deputados da ala liberal, alguma vez ousaram fazer ao outro Marcelo, por coincidência o padrinho deste. Ao que isso chegou, os partidos andarem a decidir coisas no parlamento sem dizerem, isto é, sem pedirem autorização a Marcelo!
Ao que isto chegou! Será que estes borra-botas dos nossos deputados já pensam que são arcebispos e estão convencidos de que o Presidente vai começar a reproduzir as suas homilias à saída do parlamento como se fossem os seus guias espirituais? Já não há respeitinho, os deputados já se dão ao luxo de decidirem coisas no parlamento sem que Marcelo seja avisado com a devida antecedência.
Os partidos ainda parece não terem percebido que antes de decidirem qualquer coisa no parlamento devem pedir uma audiência em Belém e meterem-se na bicha como fazem todos os bons portugueses, as senhoras das Raríssimas - antes de caírem em desgraça -, o sindicato que nos tempos em que Marcelo ia ao Ténis com o Ricardo era patrocinado pelo BES, os provedores das santas casas, os mais variados representantes do clero, a seleção de futebol e todas as outras forças vivas da sociedade.
Um dia destes compramos o Público e vemos lá escarrapachado que a Junta Freguesia da Messejana decidiu mudar a torneira do fontanário sem primeiro fazer o devido aviso a Marcelo, para que o Presidente não fosse apanhado de surpresa por uma torneira nova. Ao que a pouca vergonha do nosso parlamento chegou, decidir coisas sem avisar primeiro Marcelo! Enfim, é como o compadre que apanhou a mulher com o amigo e exclamou com grande indignação “com estes modernismos ainda vais fumar para a cama!”.
Haja respeitinho, Marcelo quer saber de tudo e nada se deve fazer sem que Marcelo seja devidamente informado; a Marcelo cabe decidir semanalmente quais as prioridades do governo para os próximos anos, acompanhar as obras de Pedrógão, certificar-se de que os anéis dos bispos estão bem lavados, enfim, tudo o que de importante suceder no país tem de ter o seu visto prévio.
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