Parece que sim. Veja-se o seguinte comentário, incluso na página 47 da edição de hoje, sobre Manuel Maria Carrilho e a juíza do tribunal que ontem o absolveu:
«Manuel Maria Carrilho é um pequeno pedaço de homem que agrediu e insultou repetidamente a ex-mulher em frente dos filhos. O facto de ter sido absolvido, pela forma ridícula que o foi, só confirma a sua pequenez moral. Parece que a juíza Joana Ferrer Antunes, que agora o ilibou, tem fascínio pelo período nazi - faria então bem estudar a forma como este regime desumanizou as vítimas, pois talvez encontre paralelismos na sua própria decisão de ontem.»
Mas que raio é isto? Donde retira o (a?) jornalista - note-se que não se trata de uma passagem de um artigo de opinião, mas da redacção do jornal - a conclusão de que Carrilho «agrediu e insultou repetidamente a ex-mulher em frente dos filhos»? Onde foi buscar as provas que o tribunal não viu, quando, no que respeita aos filhos, é do domínio público a óptima relação que eles mantêm com o pai? Será razoável imaginar que crianças, por pequenas que sejam, que vêem reiteradamente um pai a bater e a insultar a mãe mantenham uma boa relação com ele? E o que legitima o jornalista a dizer que a decisão da juíza «só confirma a pequenez moral» de Carrilho? Qual é a conexão existente entre a sentença e a «moral» de Carrilho? Por acaso foi ele quem a redigiu? E, pior ainda, como é possível que o jornal não seja instigado a explicar o paralelismo que estabeleceu entre um tribunal e um juiz da República e as perseguições e os crimes do III Reich? Que espécie de ódio levou o jornalista a uma tal comparação de tão mau gosto?
Como muito bem disse a juíza na sua sentença, um tribunal democrático não pode ser como os antigos tribunais plenários, onde um acusado entrava já condenado. O Estado de direito, que o autor da peça certamente ignora o que seja, tem outras regras. Nos tempos que correm, as condenações na praça pública costumam fazer-se nos jornais e na comunicação social. Talvez tenha sido o facto da juíza ter resistido a essa conversa que verdadeiramente tenha originado a diatribe do pasquim.
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