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segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Raríssima impunidade

por Bruno Santos

Quando o jornal Público deu conta de que as principais IPSS de Vila Nova de Gaia eram totalmente controladas por assessores, familiares e amigos de autarcas da cidade, destacando o facto de a própria mulher do presidente da Câmara ser vice-presidente de uma das principais instituições de solidariedade social do concelho e ter visto o seu salário aumentado 390% em apenas cinco anos, Vítor Rodrigues , actual presidente do Conselho Metropolitano do Porto, veio clamar contra a “cabala” e a “campanha negra”, pedindo aos santinhos, jurando inocência e assegurando absoluta transparência nas relações entre o Município e as IPSS em causa. Dias depois o jornal publicava os documentos que desmentiam o autarca e dava notícia de que uma auditoria tinha sido pedida ao Ministério tutelado pelo Dr. Vieira da Silva. Até hoje.

A impunidade, juntamente com os impostos, é uma das poucas certezas que os cidadãos da República podem ter sobre o governo do seu país. Tudo parece acabar em gavetas sem fundo, onde o tempo cumpre a tarefa de fazer esquecer uma realidade já impossível, contudo, de disfarçar - Portugal é um país com índices de corrupção apenas comparáveis aos de impunidade, e uma parte significativa dos seus recursos são sorvidos pelo poço sem fundo deste tipo de crime, cada vez mais descarado.

Agora é uma reportagem da TVI que traz ao conhecimento público mais um caso grotesto, passado com outra IPSS que se dedica, alegadamente, ao apoio a crianças com doenças raras. O assunto envolve, segundo a TVI, o uso ilegítimo de recursos públicos para fins pessoais, com deslocações fictícias, compra de vestidos de alta costura, carros topo de gama, gastos pessoais em supermercados e, mais uma vez, salários chorudos. Mais uma vez também a IPSS vem defender-se publicamente invocando a tese da “cabala” e da “campanha negra”, os “interesses obscuros” e o “jornalismo de emboscada”, argumentos que se tornaram arma de arremesso sempre que é necessário erguer cortinas de fumo e justificar o injustificável, tentando escapar à responsabilidade civil, política e criminal. Pelos vistos, há até um secretário de Estado envolvido no assunto, que terá andado a receber um ordenado pago com subsídios públicos que se destinavam ao apoio de crianças doentes. Tudo isto é indigesto, indigno e, obviamente, inaceitável. E é também cada vez mais ténue a diferença entre a negligência e a cumplicidade do Ministério que tutela a Economia Social, perante tão evidentes indícios de degradação.

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