RICARDO COSTA
DIRETOR DE INFORMAÇÃO DA SIC
8 de Janeiro de 2018
São dias de discurso agressivo e de frases que ficam na memória. Ontem, parte do dia de Pedro Santana Lopes e de Rui Rio andou de volta de metáforas sobre Kompensan, Alka-Seltzer e Rennie... Não porque haja alguma proposta política para farmacêuticos ou doentes, mas porque o azedume que despontou no primeiro debate televisvo dos dois candidatos à liderança do PSD alastrou à campanha que os faz percorrer o país.
A poucos dias de irem a votos - a eleição é sábado -, os militantes do PSD, bem como todos os portugueses que seguem a política com atenção, não devem esperar uma mudança significativa nos discursos da campanha. A agressividade é mútua, as metaforas são mais duras, as frases mais cortantes. É melhor deixarmos o Kompensan nos bolsos até ao dia do voto.
Hoje, Rui Rio dá uma entrevista a Clara de Sousa no Jornal da Noite da SIC. Amanhã é a vez de Pedro Santana Lopes. Na quarta, os dois candidatos encontram-se na TVI para o segundo debate e na quinta há novo, e último, confronto num debate radiofónico. Rio e Santana vão estar por todo o lado, para convencerem os militantes de que são a melhor escolha para liderar o PSD a caminho das próximas legislativas.
A manhã desta segunda-feira está a ser marcada por declarações políticas de Rui Rio. Numa entrevista ao Público e à Rádio Renascença, o candidato admite apoiar um futuro governo minoritário do PS. Mas a frase precisa precisa de ser lida para ser - facilmente, digo eu - compreendida. Rio admite isso, exatamente porque defende que o PS devia ter apoiado um governo minoritário PSD/CDS nas últimas eleições.
O melhor é transcrever a pergunta e a resposta, de uma entrevista que vai marcar o dia:
P- Imaginemos um cenário de eleições em 2019 em que o PS ganha, mas sem maioria. Já nos disse que quer é ser primeiro-ministro, mas num cenário em que o PS se pode aliar à esquerda ou ao PSD, o que prefere?
R- Está a dizer que, de certa forma, trocamos de posição. A legitimidade que hoje o dr. António Costa não tem passaria a ter porque ganhou por poucos. Aquilo que me parece mais razoável é nós estarmos dispostos para, a nível parlamentar, suportar um Governo minoritário, seja ele qual for, neste caso o do PS. Que é aquilo que o PS deveria ter feito, suportar de forma crítica naturalmente, mas deixar passar e governar o partido mais votado.
O que aconteceu é democraticamente legítimo, constitucionalmente perfeito e legítimo, mas era mais saudável dizermos: a coligação PSD/CDSD ganhou as eleições; tal como no passado, vamos permitir que quem ganhou possa governar. Parece-me muito mais sensato do que qualquer outra situação. E o contrário também. Se, por acaso, eu ganhar as eleições, como o CDS, que é o aliado mais natural, não conseguirmos constituir uma maioria absoluta, conseguir que o Governo minoritário tenha apoio parlamentar - tal como sempre foi desde o pós-25 de Abril - para governar.
Com os ânimos aquecidos, as declarações de Rio serão esmiuçadas e terão resposta de Pedro Santana Lopes, que tem colado sistematicamente Rio a uma aproximação ao PS e a um Bloco Central, ideia que Santana recusa desde os anos 80. Faltam seis dias de campanha.
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