Posted: 15 Jan 2018 02:19 AM PST
Enquanto privatiza o que há para privatizar e aplica o resto do pacote austeritário da troika, Euclid Tsakalotos, formalmente Ministro das Finanças grego, tem obviamente tempo para participar no chamado debate, desta feita no Financial Times, sobre a arquitectura da Zona Euro, tomando de forma sempre ideologicamente reveladora os EUA como referência para “completar a zona euro e banir o espectro do populismo”. É claro que o modelo de transferências não impediu os populismos, sempre no plural, não se esqueçam, nos fracturados EUA.
Enfim, assim se confirma a total cooptação do que foi na Grécia a esquerda dita radical, uma lição, enquanto se espera por um não-lugar indesejável (a distopia dos Estados Unidos da Europa). Por estas e por outras, tenho insistido que o europeísmo é um dos principais mecanismos de destruição da esquerda social-democrata no continente. É um mecanismo eficaz, como se vê também no centro que na realidade comanda qualquer processo europeu, a Alemanha, onde o processo de resto já tem décadas e onde as duas alas do cada vez menos dominante partido exportador chegaram a mais um acordo de governo.
Entretanto, cereja em cima do bolo da elite do poder, a que tornou a social-democracia num apêndice inofensivo e a que por cá também se imagina no centro a mandar, o euro-liberal Centeno lá foi chamado a presidir ao chamado Eurogrupo, com sininho e tudo. Uma decisão sábia, realmente, como disse de forma reveladora o inenarrável Juncker. Tudo na ordem, aparentemente. Cuidado com as aparências.
Posted: 14 Jan 2018 10:55 AM PST
As minhas desculpas ao repórter Nuno André Ferreira da Lusa, mas não consegui resistir.
Não sei porquê, acho que interpretei o que lhe ia na alma. Mas se não for o caso, inteiramente disponível para apagar este post...
Posted: 14 Jan 2018 04:05 AM PST
1. A capa do Público da passada segunda-feira e o Expresso de ontem dão conta de um aumento do desemprego jovem (15 a 24 anos) de 24,6 para 25,6% entre setembro e outubro, ao arrepio do que estaria a verificar-se na generalidade dos países europeus (chegando o Público a afirmar que Portugal é o país da UE28 em que o desemprego jovem mais aumenta).
2. O aumento de 1 ponto percentual noticiado pelo Público e pelo Expresso resulta da comparação entre o valor definitivo registado em setembro e o valor provisório de outubro (ambos divulgados em dezembro). Contudo, sabendo que o INE tem revisto em baixa as estatísticas mensais de desemprego e caso tivesse sido considerado o valor definitivo de outubro - divulgado no dia a seguir à notícia do Público e quatro dias antes da notícia do Expresso - o alegado aumento do desemprego jovem passaria a ser dez vezes menor: +0,1 pontos percentuais, que resultam da diferença entre uma taxa de 24,5% em setembro e 24,6% em outubro (surgindo novembro já com um valor provisório mais baixo, a cair para os 23,7%).
3. Deve acrescidamente sublinhar-se que existe uma tendência para que o desemprego jovem aumente entre setembro e outubro, refletindo a situação de muitos jovens que terminam ciclos de estudo e formação e que, nessa altura, se encontram disponíveis para ingressar no mercado de trabalho. Deste ponto de vista, aliás, o aumento do desemprego jovem de 2017 é um dos dois mais baixos registados nos últimos dez anos, em que o peso relativo dos jovens desempregados desceu em apenas três deles (2010, 2013 e 2016), como mostra o gráfico seguinte:
4. Numa escala temporal mais ampla (que recorre à comparação da média dos onze primeiros meses de cada ano), refira-se aliás que a tendência tem sido a de um ritmo de diminuição do desemprego jovem superior ao do desemprego: -6 pontos percentuais entre 2013 e 2015 (neste caso certamente inflacionado pelo volume da, então, criação artificial de emprego) e -8 pontos percentuais entre 2015 e 2017. Isto quando a taxa de desemprego apenas cai -4 pontos percentuais em cada um dos períodos. Em termos europeus, a mesma tendência: tendo disparado entre 2011 e 2013, o desemprego jovem tem descido a um ritmo mais expressivo em Portugal que na Europa, ao contrário do que sugerem as recentes e circunstanciais notícias do Público e do Expresso.
5. Quer isto dizer que não há problemas com o desemprego jovem em Portugal? Seguramente que não. Desde logo, porque continuamos a registar, apesar da recuperação, taxas de desemprego neste grupo etário que são das mais elevadas da Europa (apenas superadas por países como a Espanha ou a Itália), persistindo igualmente problemas de precariedade e baixos salários (acentuados pelo facto de uma parte considerável da criação de emprego se verificar em setores onde essas questões têm maior relevo). O que não é possível é sugerir, a partir daí, que estamos em processo de divergência com a Europa, em termos de emprego jovem.
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