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terça-feira, 2 de janeiro de 2018

Quero um Portugal ‘in’

Diogo Agostinho

DIOGO AGOSTINHO

01.01.2018 às 18h5

Entrámos em 2018. Novo ano, esperanças redobradas. Já sabemos dos problemas antigos e dos de sempre. Estão em todos os diagnósticos, prognósticos, relatórios dentro das gavetas e dossiers cheios de pó. Produtividade, demografia e eficiência do Estado. São apenas três as áreas que indico, mas poderia ir por muito mais. Estes três problemas só se combatem com um ambiente, regras e maneiras de fazer diferentes. É, também por isso, que vemos portugueses, por essa diáspora fora, a vencer. Sim, as condições do país contam, não apenas os impostos, mas também o nível de concorrência e abertura dos diferentes sectores da economia. Por isso, é urgente criar um Portugal in.

São cinco os pilares que podem fazer a diferença. Falo de metas, objectivos e ambições. Falo de clima e condições favoráveis.

Inovação - a aposta do país na inovação deveria ser um desígnio nacional. Dos bancos de escola às empresas, mais ou menos industriais. Os nossos números, em inovação, colocam-nos como um país cigarra ou apenas moderadamente inovador. Falo dos rankings europeus e do Barómetro de Inovação. É pouco. Devemos criar condições para que exista uma envolvente que catalise a inovação em todas as actividades. A inovação não nasce apenas da inspiração, de uma ideia fantástica e disruptiva. Está mais do que provado que a inovação vem do trabalho, da persistente e incessante tentativa e erro. Sim, até o Estado precisa de inovação nas suas funções. Todas. Nos procedimentos e processos internos, nos serviços que presta e na forma como lida com os contribuintes. Nem todos se lembram, mas antes do Portal das Finanças a vida do contribuinte era ainda mais complicada, morosa e desesperante nas intermináveis filas de repartição. E também as empresas devem ser incentivadas a apostar na inovação. Benefícios no IRC? Pois não seria, de todo, desajustado.

Investigação - a cultura de estar, permanentemente, a pesquisar, a questionar e a investigar é estar um passo à frente de todos. A capacidade da produção científica é uma condição necessária à maior competitividade do país. Somos um país pequeno, sem grande abundância de recursos naturais, mas a investigação, sobretudo científica deve ser apoiada e incentivada. Cada euro gasto em investigação é um euro gasto no futuro. Tanto mais que, de que nos valerá a extensão da plataforma continental, se não tivermos a capacidade endógena de a estudar e avaliar? Ficaríamos novamente dependentes da “boa vontade” de terceiros para explorar um recurso nacional de grande potencial.

Interdisciplinaridade - este país ainda vive muito de quintas e quintinhas. Determinado tema é ali naquele serviço e as guerras, pela manutenção ou multiplicação de zonas privativas, dentro do Estado são permanentes. Não há espaço para uma visão tão fechada e tacanha num mundo global interligado. Hoje, todos os temas, todas as disciplinas, todas as temáticas acabam por se tocar. No Estado então, cada organismo deve ter a noção de que faz parte do Estado. Não podemos viver presos numa gigantesca repartição pública que pouco contacta ou conhece do que se passa para lá do guichet. Lá está, não há recursos suficientes para tantos serviços ensimesmados. Falo em choques de cultura, mas também ganhos de eficiência e eficácia. Um Estado que vive a pensar que é rico, cujas finanças públicas já deram três resgates, deve ter a noção de que, se calhar, o problema está na forma como se organiza e gere os recursos da comunidade.

Integração - o mundo globalizado que hoje existe, obriga a que todos os países tenham a consciência de que só avançam se se conseguirem integrar no mercado global. Não, o futuro não é o que Trump inventa com America First. O futuro está na capacidade de todos se abrirem ao mundo e respeitarem ideologias, crenças e religiões, aproveitando as diferentes oportunidades que se abrem. A palavra-chave é respeito. E integrar é criar um mundo global, onde os capitais, os bens, os serviços e obviamente as pessoas possam circular. Sem fronteiras e restrições, mas com respeito pelas diferenças. E, sim, também o nosso país deve ser um país de integração de pessoas. Portugueses e imigrantes, porém sempre próximos e atentos aos nossos emigrantes.

Intergeracionalidade - este país não pode ser só para os novos, nem só para os velhos. Não há espaço para colocar de lado gerações. Identifiquei em cima a questão da demografia, logo o desafio da baixa natalidade. Ora, num país como o nosso, é fundamental não desperdiçar a nossa maior riqueza: as pessoas. E a idade não pode, nem deve ser razão de favorecimento ou exclusão. E sim, jovens e velhos, nas empresas, no Estado ou no dia-a-dia juntos só têm a ganham ao partilhar conhecimento e experiências de vida.

Gostava de ter um Portugal in. Saíamos todos a ganhar. Que 2018 seja um ano de progresso, sem deixar ninguém para trás.

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