Fábrica
Foto: Global Imagens
ILÍDIA PINTO
Hoje às 00:58
Sem solução. O grupo Ricon "não é economicamente viável" e deve encerrar as suas operações e despedir os cerca de 600 trabalhadores.
Esta é a proposta que o administrador de insolvência nomeado pelo Tribunal de Famalicão, Pedro Pidwell, leva às assembleias de credores das várias empresas do grupo, representante em Portugal da marca Gant, que arrancam amanhã. Também a rede de retalho, constituída por cerca de 20 lojas, "terá que encerrar e despedir todos os trabalhadores", já que, com a cessação da parceria com a Gant, se torna "economicamente inviável e vazia de objeto".
Segundo o relatório do administrador, a que o JN/Dinheiro Vivo teve acesso, a multinacional sueca "declinou todos os "ângulos de entrada" que lhe foram apresentados", quer pela Administração do grupo Ricon quer pelo próprio administrador judicial, "recusando participar em qualquer solução que permitisse salvaguardar a continuidade da atividade da empresa e que permitisse a não liquidação do grupo". Pedro Pidwell especifica, mesmo, que a Gant foi "intransigente", rejeitando "liminarmente" todos os cenários de reestruturação que lhe foram apresentados, fosse por via da sua entrada direta na operação, fosse pela entrada de investidores terceiros ou mediante a reestruturação da dívida existente.
Assim, terão de ser despedidos os trabalhadores - 580, no total, segundo as contas de Pedro Pidwell, sendo 200 da rede de retalho e 380 da vertente industrial -, e será proposta a "liquidação do acervo patrimonial". Que irá a hasta pública. O documento inclui, ainda, a lista provisória de credores, bem como o inventário do património das empresas insolventes. São oito no total e todas se apresentaram à insolvência no início de dezembro, tendo o tribunal decidido juntá-los todos no processo da casa-mãe, a Nevag SGPS. A primeira assembleia de credores está marcada para amanhã. Só num dos processos são reclamados créditos superiores a 32 milhões de euros.
Contactada a Gant AB, a multinacional sueca recusou comentar a situação da Ricon, sublinhando, apenas, que a loja de comércio eletrónico da marca em Portugal é operada pela sede "e não será afetada pelas dificuldades financeiras" do distribuidor português. A Gant AB recusou tecer, também, qualquer comentário sobre o seu eventual interesse em ficar com a rede de lojas em Portugal.
Da lista de credores, ainda provisória, ficamos a saber que o Grupo Gant reclama quase cinco milhões de euros. A Banca é o principal credor do Grupo, com mais de 16 milhões de euros em dívida. A Segurança Social reclama mais de 60 mil euros e o fundo de pensões do Banco de Portugal quase 63 mil euros.
"Esgotados psicologicamente"
"Estamos esgotados psicologicamente". Quem o diz é uma das trabalhadoras do grupo Ricon, explicando que a incerteza em que têm vivido desde dezembro, altura em que foi decretada a insolvência, está a deixar os colaboradores "ansiosos e preocupados".
"Trabalho não falta, mas o ambiente é pesado por causa da situação em que estamos", disse ao JN a colaboradora que pediu o anonimato. "Da forma que vejo as coisas na fábrica, as minhas colegas, se calhar já esperávamos o encerramento mas não é o que queremos", adiantou, frisando contudo que só deverão saber o futuro que os espera nos próximos dias quando começarem as assembleias de credores. Com dois filhos a cargo, assume que se ficar desempregada, "vai ser muito complicado". Com metade do subsídio de Natal em atraso, os trabalhadores da Ricon esperam que o salário de janeiro seja pago rapidamente. Alexandra lopes
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