por rui a.
Lembro-me de Rui Rio, ao longo de décadas, ser uma espécie de eterno candidato a candidato perdedor da Distrital do PSD do Porto contra Menezes - o seu ódio de estimação (devidamente retribuído, saliente-se) - em parceria com o também desenraizado Aguiar Branco. Durante esse tempo, Rio pertencia a uma espécie de ala esquerda-aristocrática da Foz do Douro do PSD, que tinha como referência moral e política Miguel Veiga, e como facto histórico fundador a ancestral zanga deste advogado com Francisco Sá Carneiro, logo nos primórdios da existência do partido laranja, que provocou uma «cisão» de que só o advogado da Foz se apercebeu. Para todos os efeitos, este «grupo» representava, dentro do PSD, uma tendência mais à esquerda do que o «populismo» de Sá Carneiro, e assim se manteve pelos anos seguintes contra os «populismos» de Menezes, Santana e Passos Coelho. Teve proximidades a Balsemão e ao grupo dos «Inadiáveis», mais tarde a Ramalho Eanes, flertou com a ASDI e com o «Soares a Presidente» e, muito recentemente, no Porto, mais por princípios geográficos e bairristas do que políticos, com a primeira candidatura de Rui Moreira, que para Miguel Veiga significava a conquista da Câmara pela «intelligentsia» política da Foz, que ele sempre cultivara, e, para Rio, um acerto de contas com o seu eterno rival.
Quando Fernando Gomes regressou de Lisboa para «retomar» a Câmara do Porto, era presidente da distrital do PSD Luís Filipe Menezes ou alguém, cujo nome não me recordo agora, em sua substituição. Como, para os estrategas locais do PSD, a Câmara estava perdida, o candidato do partido laranja seria sempre uma vítima sacrificial, como outras que, de resto, tinham já existido no passado recente. Menezes ofereceu em forma de «missão» da maior importância, esse presente envenenado a Rio e este não teve outra saída que não aceitá-lo: se o recusasse, seria visto como alguém que virava as costas ao partido nos momentos de dificuldade e o laranjal não aprecia esse tipo de atitude. Só lhe faltava ir a jogo e Rui Rio foi, mas sempre convencido que não tinha qualquer hipótese de vitória e que o que ali se discutia era a maioria absoluta do candidato socialista. Só que a cidade do Porto não paga a «traidores» e não perdoou a ida de Gomes para Lisboa. De um momento para o outro, Rui Rio viu-se presidente da Câmara da sua cidade.
Nas funções de autarca portuense, há que o dizer, apesar de erros, a acção de Rio foi muito mais positiva do que negativa. Pôs as contas em ordem e preparou a cidade para o desenvolvimento que ela hoje conhece. Mas, politicamente, Rui Rio foi sempre um zero à esquerda, e foi durante os seus três mandatos autárquicos que, pela ausência da liderança que necessariamente tem de caber ao edil portuense, o Porto e a Região Norte ficaram condenados à irrelevância política onde ainda hoje se encontram.
Não são, por isso, de estranhar as sucessivas argoladas do Rio candidato a líder do PSD, como esta de dizer, a menos de uma semana as eleições, que está disponível para suportar, no Parlamento, um governo minoritário de António Costa. É que, na verdade, Rui Rio não sabe o que é ganhar uma eleição por mérito próprio e, muito provavelmente, teimoso como é, irá perder esta. Não duvido que seria um primeiro-ministro mais competente que António Costa ou Santana Lopes. O que não acredito é que alguma vez lá chegue.
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