por Sérgio Barreto Costa
O preço da electricidade vai subir e, de acordo com a imprensa, Marcelo Rebelo de Sousa quer estudar esse aumento. Aconselho desde já o Presidente da República a fazer esse estudo durante o dia, aproveitando a luminosidade e o calor proporcionados pelo sol. É que se o fizer de acordo com os seus conhecidos hábitos nocturnos vai precisar de acender as luzes e ligar os aquecedores, e isso fica bastante dispendioso.
Nada tenho contra os estudos em geral e contra os estudos eléctricos em particular. No entanto, quer-me parecer que chegam um bocado atrasados. É como se os alunos do Prof. Marcelo pegassem pela primeira vez no Manual de Direito Constitucional à tarde, depois de terem feito o exame durante a manhã: aprendiam na mesma a matéria mas já não iam a tempo de fazer a cadeira.
Se o estudo tivesse sido feito nos seus tempos de comentador televisivo, quando o país se atirava de cabeça às renováveis, talvez tivesse sido mais útil. Dessa forma, usando a sua grande influência, Marcelo podia ter lançado ao povo português a pergunta decisiva: os meus caros compatriotas querem uma energia limpinha a um preço muito alto ou acham preferível pagar substancialmente menos por uma energia ligeiramente mais badalhoca? E logo veríamos as preferências higiénicas da nação.
Note-se que eu nem sequer me dei ao trabalho de verificar se o Prof. Rebelo de Sousa alguma vez levantou a voz contra aqueles que colocaram Portugal no pelotão da frente da electricidade asseada. Isso faria de mim uma espécie de jornalista de investigação com preocupações deontológicas, quando, na realidade, sou apenas um chato. De qualquer forma, o risco que corro de estar a praticar uma injustiça é quase nulo: durante os anos em que enchemos as nossas serras com ventoinhas, só duas ou três personalidades conhecidas alertaram que aquele investimento era precoce e muito pesado para a carteira dos consumidores; todos os outros bateram palmas e acharam a ideia fantástica. A probabilidade de Marcelo Rebelo de Sousa ter feito parte desse minúsculo e corajoso grupo que, remando contra a corrente, defendeu que era melhor aquecer a casa com electricidade suja do que morrer de frio num ambiente imaculado, é tão grande como a probabilidade de vermos a nossa factura da luz diminuir por causa dos estudos eléctricos da Presidência da República.
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