por vitorcunha
Ela ia todas as quintas-feiras para a sessão de zumba com aquelas calças de yoga que, caso tivesse adquirido identidade de género masculino, lhe apertariam os testículos imaginários ao ponto da castração virtual. Ele vinha, naquela quinta específica, do hospital onde visitou o amigo vítima de maleita decorrente das alterações climáticas. Ela estava grávida de feto em pensão completa em útero alheio e emanava aquele ar de quem solicitaria amamentação de substituição para não estragar as mamas de debate semanal sobre a desigualdade de género da siderurgia. Ele tinha comido um croquete no bar do hospital enquanto leu Zizek sobre a temática do momento, o papel das redes sociais na educação pura-raça de crianças clinicamente sobredotadas. Ela tirou uma selfie do autocarro, entre uma paragem e outra, de pernas escachadas com o indicador a apontar para a costura entre-pernas com hashtag #myVaginaMyChoice; ele olhou, com os joelhos bem juntos, como as senhoras eram ensinadas a sentar no velho mundo, naquele preciso momento, para o activismo de Instagram dela, violando-a com o olho direito.
Não fosse o oprimido muçulmano suicida ter rebentado com o autocarro, ambos chegariam a casa com risco de assistir inadvertidamente ao debate entre Rui Rio e Pedro Santana Lopes. Ainda há quem critique o terrorismo de rosto humano.
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