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domingo, 25 de fevereiro de 2018

MAKE IT RIGHT, JOE

por estatuadesal

(Por José Gabriel, in Facebook, 25/02/2018)

magnum
Joe Right, professor numa próspera, embora pequena, cidade do Sul dos EUA, dirigiu-se à sua escola onde iniciaria mais um feliz dia de trabalho. Estava uma manhã quente, pelo que Joe estacionou o seu carro - um híbrido, claro, era preciso dar o exemplo - junto à pastelaria que havia ali, frente à entrada da escola.

Saiu do carro, resistiu a acender um cigarro - estavam por lá alunos e alunas e o exemplo, não é... - e entrou. Pediu uma Coca Cola - diet, claro, o exemplo... - que acompanhou com umas bolacha sem glutém, sem açúcar, sem lactose - o exemplo... -, cujo gosto, suspeitava Joe, não seria muito melhor que o do cartão em que vinham embaladas.

Dirigiu-se à sua sala de aula. Os alunos e alunas - nunca esquecer de enumerar os dois géneros, pelo menos, lembrou, de si para si, Joe - enchiam a sala. Joe gostava deles e da sua profissão. Ultimamente sentia, porém, algum embaraço. Tinha-se preparado para abordar algumas obras literárias de que gostava, mas parece que, agora, não seriam admitidas por conterem elementos politicamente incorrectos.

Olhou para as suas notas: The Adventures of Huckleberry Finn; The Adventures of Tom Sawyer, de Mark Twain, To Kill a Mockingbird, de Harper Lee, estavam entre os novos livros malditos. Parece que falavam de racismo e alguns personagens tinham falas inconvenientes. Além da sua convicção sobre o mérito literário das obras, Joe sabia bem que nenhum dos autores era racista, pelo contrário. Eram conhecidas as posições ardentemente anti-esclavagistas e igualitaristas de Mark Twain. De Harper Lee nem valia a pena falar.

Mas, por razões ponderosas, eram ambos considerados... maus exemplos. Depois de muito pensar, optou por falar aos alunos em Melville e no magnífico Moby-Dick. Por ora ainda não tinha sido questionado, mas o facto de se especificar que a baleia era branca não augurava nada de bom. Assim, tirou o livro da pasta e abriu-o sobre a secretária.

Retirou ainda da pasta a sua a sua Magnum 44 - "a arma mais poderosa do mundo", garantia Dirty Harry - e depositou-a ao alcance da sua mão direita - nunca se é demasiado cauteloso. Então, garantidas a segurança e a democracia - sempre o tal exemplo! -, começou:

- "Call me Ishmael..."

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