HÁ 2 HORAS
Fernando Negrão começa semana a reunir-se com Rio, mas com descentralização à mesa. Debate quinzenal, debate sobre justiça e financiamento dos partidos são os temas urgentes. Deputados aguardam.
LUSA
Autor
- DinisRit
Depois de almoçar com o Presidente da República, Rui Rio recebeu esta tarde, pelas 17h, na sede do PSD, o líder parlamentar Fernando Negrão, assim como o vice da bancada António Costa da Silva e Álvaro Amaro, coordenador do PSD para a descentralização. Segundo confirmou Fernando Negrão ao Observador, em cima da mesa esteve sobretudo o tema da descentralização. “Vimos os projetos de lei que estão válidos, o que está em cima da mesa, o que queremos”, disse ao Observador Fernando Negrão, sublinhando que a reunião se centrou apenas nesse tema — “e que tema, há muito para fazer”.
E o resto? O resto “ainda há tempo”, sublinhou Negrão, garantindo que o debate quinzenal vai ser “certamente articulado” com o presidente do partido, não confirmando, no entanto, se haverá outras reuniões entre os dois ou se os contactos vão ser feitos maioritariamente “por telefone”.
Certo é que esta “vai ser uma semana de provas”, como ouviu o Observador de um deputado, que lembrou que na agenda do Parlamento está, não só o debate quinzenal, como a discussão de um pacote legislativo do CDS sobre o sistema judiciário, que é um tema caro a Rui Rio e que já ficou implicitamente marcado pela polémica escolha da ex-bastonária da Ordem dos Advogados Elina Fraga para o núcleo duro da direção do partido. Assim como haverá, na sexta-feira, o debate sobre o veto do Presidente da República à lei do financiamento dos partidos — que esteve em banho-maria à espera que Rui Rio assumisse plenas funções. “Vamos ver isso com pormenor, mas é certo que mantenho o que disse na campanha, nomeadamente sobre a parte do IVA”, disse Rui Rio esta segunda-feira à saída de um almoço com Marcelo Rebelo de Sousa, em Belém, lembrando que sempre foi contra a devolução de IVA aos partidos por atividades que não digam respeito à atividade política do partido.
No rescaldo da polémica eleição de Fernando Negrão para líder parlamentar, com apenas 39,7% dos votos dos deputados, a bancada ficou dividida e com uma forte oposição: 32 dos 89 deputados votaram em branco e 21 votaram “nulo”, num claro murro na mesa contra a imposição de Rui Rio por uma mudança na direção da bancada. Esta semana será também decisiva para serenar os ânimos parlamentares, com os deputados a aguardarem a reunião do grupo parlamentar que deverá acontecer esta quinta-feira. “Ainda não é certo que vai haver reunião da bancada”, dizia ao Observador um vice-presidente esta manhã de segunda-feira, explicando que tudo está dependente das indicações do líder parlamentar. Para já, nada é certo. Aguardam-se instruções.
Rio não vai à reunião da bancada, mas está disposto a “colaborar com os 89 deputados”
O que muitos deputados se interrogavam no final da semana passada era sobre se Rui Rio iria, ou não, reunir com o grupo parlamentar para acalmar as hostes depois de uma eleição atribulada. “Normalmente seria de esperar que o presidente do partido viesse à primeira reunião da bancada depois de ser eleito, mas não sei se irá”, comentava um parlamentar esta segunda-feira, sublinhando que os deputados se mantêm ainda às cegas, não sabendo o que fazer — ou dizer — sobre os temas que vão estar em discussão esta semana no Parlamento.
Mas a semana de Rui Rio começou com um almoço com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, em Belém, e foi aí que desfez o tabu: não irá à reunião desta quinta-feira, se houver, porque quer deixar “estabilizar” o grupo parlamentar. “O grupo parlamentar não tem a direção toda eleita ainda, deixe eleger a direção toda, deixe estabilizar”, disse aos jornalistas, referindo-se à eleição dos coordenadores e dos vice-coordenadores da bancada, que ainda não ocorreu — apesar de Fernando Negrão já ter feito os convites.
Essa é outra questão que preocupa alguns deputados, uma vez que a eleição dos coordenadores ainda não está marcada. É que Fernando Negrão fez os convites — orais — aos deputados para virem a ser coordenadores ou vice-coordenadores de pastas específicas antes de a direção ser eleita, o que foi visto como um “truque” para fidelizar soldados. A ideia era que, tendo esses deputados aceitado ser coordenadores daquela direção não teriam tendência para votar contra essa mesma direção. Mas, feitas as contas, não terá sido bem assim. Agora, resta saber se esses coordenadores (24 no total) vão ser mesmo eleitos. “Das últimas vezes a eleição dos coordenadores foi feita coordenador a coordenador, um a um, em voto secreto”, explicou ao Observador um deputado, sublinhando que a eleição não está ainda marcada.
Certo é que Rui Rio quer paz na casa. “Os deputados são 89, à partida contamos com 89. Aqueles que não quiserem colaborar assumem essa responsabilidade de não colaborar, mas eu vou trabalhar com todos aqueles que quiserem trabalhar”, disse aos jornalistas no final do almoço com Marcelo Rebelo de Sousa, onde terá falado sobre os dois dossiês onde PSD e PS se preparam para chegar a consensos, a descentralização e os fundos comunitários (as reuniões arrancam já esta terça-feira). Não levou “uma pasta com projetos de lei”, porque as reformas estruturais não se põem “numa pasta”, mas o encontro desta segunda-feira a sós com o Presidente terá servido para Rio apresentar ideias mais específicas sobre aquilo que tem em mente.
Para quinta-feira está ainda previsto um almoço com a presidente do CDS, Assunção Cristas, que acontece mais de uma semana depois de Rio ter sido entronizado líder do PSD, ter reunido a sua comissão política para alinhavar a estratégia para os próximos tempos, e ter, inclusive, reunido com o primeiro-ministro para dar o pontapé de saída para alguns acordos de regime.
O CDS, de resto, parece uma peça secundária no xadrez de Rio, e até no xadrez político da própria Assunção Cristas, que assina uma moção ao congresso do CDS (que decorre a 10 e 11 de março) onde ignora totalmente o ex-parceiro de coligação e onde se define como “o partido da alternativa ao governo das esquerdas unidas”.
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