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terça-feira, 20 de março de 2018

A luta no PSD interessa ao país?

por estatuadesal

(Pedro Tadeu, in Diário de Notícias, 20/03/2018)tadeu1

A luta política dentro do PSD é pertinente? Do meu ponto de vista, seja qual for o líder, as diferenças para o país nunca são muitas. Qualquer governo com o PSD, sozinho, coligado com o PS ou com o CDS, resume-se à aplicação cega de uma política seguidista de tendências conjunturalmente dominantes, conforme os anos, na Comissão Europeia.

A política do PSD, no seu corpo central, resume-se a uma doutrina explicada em 1985, de forma simples, pelo então neófito primeiro-ministro, Cavaco Silva: Portugal tem de ser um "bom aluno" das lições dadas pelas instituições europeias. O resto são detalhes de execução desse projeto.

Foi assim com Cavaco Silva, foi assim com Durão Barroso: até lhe valeu a presidência da Comissão.

Não foi assim com Santana Lopes, por falta de tempo de permanência no poder, mas foi também assim com Passos Coelho, aderente fervoroso da teoria da austeridade virtuosa com que a Europa tentou, antes de desistir e meter o Banco Central Europeu a dar a volta ao texto, resolver a crise financeira e económica de 2008.

É verdade que os governos PS de António Guterres e de José Sócrates reproduziram, no essencial, exatamente o mesmo comportamento político esquematizado por Cavaco Silva. Mas isso não espanta, pois o percurso europeu fora anteriormente delineado por Mário Soares.

Aliás, a política despesista e de apoio a negócios improdutivos de dimensão incomensurável dos governos Sócrates, que levaram o Estado à beira da falência, foram, em boa parte, réplica de políticas semelhantes de muitos outros países da União Europeia.

O único projeto político que governou Portugal desde a década de 80 do século passado foi, portanto, este: aceitar ordens, seguir instruções, aplicar modelos, garantir benesses dos poderosos da Europa.

Foi este modelo político que sustentou, durante décadas, o chamado "bloco central dos interesses", onde também se colocou o CDS. Foi esse "bloco central dos interesses" que levou o país à falsa expansão dos anos 1990 e, depois, à terrível depressão deste século.

A única hipótese de introduzir alguma moderação nesse alinhamento surgiu com os resultados eleitorais que levaram o PCP e o Bloco de Esquerda a apoiar, em 2015, a subida do PS de António Costa ao poder. Mas este manteve-se sempre fiel à linha anterior, felizmente um pouco mais flexível no sufoco económico a Portugal.

A geringonça não destruiu o "bloco central dos interesses" alinhado com Bruxelas. Ele esteve recolhido para lamber as feridas, recompôs-se e agora prepara-se para voltar à liderança de Portugal.

Acontece, porém, que a União Europeia de hoje já não é a mesma da era anterior a Passos Coelho. Há o brexit. Há cada vez mais governos e grandes partidos nacionalistas, racistas, xenófobos e protecionistas a dominar o discurso político em cada vez mais países europeus. Há independentistas na Catalunha. Há um euro aflito com as contas da gigante Itália e a esconder os problemas económicos da França. Há uma Alemanha com nazis no Parlamento e uma senhora Merkel desorientada...

O "bloco central dos interesses" pode voltar a dominar Portugal, mas será que sabe no que se vai meter com a sua velha doutrina do "bom aluno" na Europa?... Isto sim, isto é um problema político real. Quero lá saber do canudo do Feliciano Barreiras Duarte!


Nota: O Paulo Baldaia sai hoje da direção do Diário de Notícias. Quero agradecer-lhe publicamente por ter permitido que eu aqui escrevesse livremente, sem expressar uma queixa, até quando critiquei algumas das suas opções editoriais. Foi democraticamente exemplar e nunca me vou esquecer disso.

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