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segunda-feira, 5 de março de 2018

Aprende-se muito entre ruínas

Ladrões de Bicicletas


Aprende-se muito entre ruínas

Posted: 04 Mar 2018 03:47 AM PST

Em dia de eleições legislativas italianas é absolutamente deprimente, mas bastante esclarecedor, observar a total ruína política da esquerda italiana, reduzida a pouco mais de 5% nas últimas sondagens (Renzi é, como Macron ou Alberto Rivera, um político do neoliberalismo maquilhado, um político de direita, na realidade, que nada tem a ver com qualquer tradição das esquerdas).
Note-se que estamos a falar do país ocidental com a mais importante e sofisticada tradição comunista no pós-guerra. A esquerda italiana, na sombra de 1989, talvez mais do que qualquer outra, aderiu a moda intelectuais perversas ou inconsequentes, deixando um vasto cemitério de siglas, um vazio ocupado por outros, como tem sido recentemente o caso do movimento cinco estrelas ou a própria liga. O que pode explicar isto do ponto de vista político-ideológico, elemento que não esgota a explicação, claro?
Em primeiro lugar, é preciso lembrar a passagem da maioria do Partido Comunista Italiano a Partido Democrático da Esquerda e deste a Partido Democrático, aderindo à social-democracia de terceira via, culminando num partido liderado por esse bufão autoritário, oriundo dos restos da democracia-cristã, chamado Renzi. Recentemente, os artífices de tal involução, incluindo Massimo D'Alema, com os restos de outras experiências, formaram a enésima coligação social-democrata, abandonando um Renzi que chegou a ser a esperança para muitos euro-iludidos.
Em segundo lugar, é preciso não esquecer que a Itália é o país onde o europeísmo mais insano colonizou praticamente toda a esquerda, do apoio à UEM, que condenou o país à estagnação e à crise prolongadas, à luta inconsequente “por uma outra Europa”, entre os que aparentemente não desistiram e que culminou nas últimas eleições europeias na pindérica lista “com Tsipras”, associada à farsa da eleição do Presidente da Comissão Europeia; como se a política nacional pudesse ser feita a partir de fora.
Em terceiro lugar, é preciso relembrar a participação, quase sem condições, num governo sem alternativas, uma aventura que esvaziou a promissora Refundação Comunista.
Em quarto lugar, e isto vale também para a Refundação Comunista, é preciso avaliar criticamente a abertura excessiva à ultrapassada moda movimentista do alter-globalismo, de que alter-europeísmo, foi uma declinação.
Sim, a esquerda pode por vezes acabar. Recomeçará também quando se livrar de muita da tralha ideológica criada nestas últimas décadas.
A partir de uma base de apoio muito reduzida, pode ser que  o Poder para o Povo seja a prazo a solução populista de esquerda para dar voz a uma base social causticada, forjando um programa soberanista e democrático consequente, elemento que tem primado pela ausência. Ou pode ser que seja apenas mais uma sigla.
Aprende-se muito entre ruínas estrangeiras, incluindo sobre nós próprios, sobre os nossos erros e acertos políticos.

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