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sábado, 3 de março de 2018

Como Sobrinho terá desfalcado o BESA em quase 500 milhões de euros

BESA

3/3/2018, 12:23374

Investigação em que participa o "Expresso" mostra que o empresário terá enviado para (pelo menos) três empresas angolanas a que estaria, na realidade, ligado. Vários movimentos eram em dinheiro vivo.

Autor

edgarcaetano

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O antigo presidente do Banco Espírito Santo Angola (BESA), Álvaro Sobrinho, terá desfalcado o banco num equivalente a pelo menos 433 milhões de dólares (350 milhões de euros), através de um esquema de empréstimos a empresas de quem não se conheciam sócios — e que, suspeitam as autoridades, estariam ligadas ao próprio Sobrinho. Juntando a esse valor os 182 milhões de dólares (que, segundo noticiou o Expresso em junho), Sobrinho recebeu das offshores Grunberg e Pineview (e, também, em nome próprio), ascendem a cerca de 500 milhões de euros os fundos que o empresário angolano terá desviado do BESA naqueles anos.

Estes são os principais números que nascem de uma investigação em que participa o jornal Expresso, com o consórcio EIC (European Investigative Collaborations), a partir de uma fuga de informação com documentos e e-mails que chegaram às mãos da revista alemã Der Spiegel.

Os documentos explicam em detalhe como Sobrinho terá beneficiado de uma rede de empresas a quem foram feitos empréstimos volumosos, dinheiro que flui para fora do BESA (que tinha no BES o seu maior acionista). No total, no que se conclui a partir da documentação, o BESA terá emprestado 1,6 mil milhões de dólares a cinco empresas-fantasma, a quem ninguém conhece donos e sobre as quais Sobrinho não deu explicações à gestão que lhe sucedeu, liderada por Rui Guerra.

Sobrinho terá ligações a pelo menos três das cinco empresas (Vaningo, Cross Fund, Saimo, Govest e Socidesa). Houve transferências e depósitos em numerário (dinheiro vivo na ordem de dezenas de milhões de dólares) para empresas em que o beneficiário real era Álvaro Sobrinho e a família direta. O DCIAP e o Ministério Público suíço estão a investigar este caso de burla qualificada, abuso de confiança e branqueamento de capitais. A documentação inclui vários e-mails trocados entre Álvaro Sobrinho e o cunhado, Manuel Afonso-Dias, que lhe geria a fortuna privada, onde fica claro que Álvaro Sobrinho fez os levantamentos suspeitos e transferências/depósitos para as empresas suspeitas.

Em várias ocasiões, nesses e-mails, Manuel Afonso-Dias aparece a queixar-se do “caos” contabilístico que era gerado por estes movimentos. Perante a preocupação do cunhado quanto ao que se chamavam de “suprimentos”, Álvaro Sobrinho disse-lhe, por exemplo, que “no banco não tens de dizer nada. Se, por acaso, te perguntarem, só tens de dizer que são dívidas entre empresas”.

Ocean Private, Anjog e Marina Baía eram os nomes das três empresas que receberam um total de 433 milhões de dólares vindos do BESA, pela mão de Sobrinho. Estes recursos permitiram a Álvaro Sobrinho ir além do que era a sua remuneração normal, no BESA, e acumular uma fortuna que lhe permitiu, por exemplo, comprar os jornais Sol e i (através de uma offshore), e tornar-se acionista da SAD do Sporting com quase 30% do capital (segundo dados de dezembro de 2016 da CMVM).

Na Comissão Parlamentar de Inquérito, Álvaro Sobrinho garantiu que era “impossível” que se tenha dado crédito (no BESA) a empresas ligadas a si — e considerou “absurdo” falar-se em levantamentos e depósitos de várias centenas de milhões de dólares em dinheiro vivo.

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