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terça-feira, 6 de março de 2018

Da podridão do futebol

Novo artigo em Aventar


por João Mendes

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Quero começar por dizer que sou portista desde pequenino, que apoio os atletas do meu clube incondicionalmente e que tenho um grande orgulho por aquilo que o meu clube representa como um dos bastiões da luta contra o centralismo putrefacto que corrói este país. Tal não significa que seja cego ao ponto de negar o óbvio: que dirigentes do meu FC Porto incorreram em práticas condenáveis no passado e que não pagaram por isso, porque a justiça portuguesa ainda não tem a força suficiente para lidar com os poderosos, sejam eles dirigentes de futebol, políticos, banqueiros ou empresários.

Feita a minha declaração de interesses, e quem me conhece sabe que ela é honesta, e aproveitando o momento para sublinhar que o futebol está podre, fruto de uma impunidade generalizada que permite as mais variadas irregularidades, aqui como em qualquer outro país, para não falar no compadrio político-partidário, que promove borlas e sistemas panamianos de não-pagamento de impostos, quero aqui dedicar umas linhas ao caso do dia, sabendo de antemão o que me espera na caixa de comentários. É para o lado que durmo melhor.

Paulo Gonçalves, advogado, director do departamento jurídico do SL Benfica e um dos homens mais próximos de Luís Filipe Vieira na estrutura vermelha e branca, foi hoje detido pela Polícia Judiciária, no âmbito da Operação e-toupeira, após uma série de buscas e apreensão de elementos probatórios. Paulo Gonçalves é suspeito da prática dos crimes de corrupção activa e passiva, acesso ilegítimo, violação do segredo de justiça, falsidade informática e favorecimento pessoal. O dirigente encarnado é ainda suspeito de ter subornado dois funcionários judiciais e um técnico informático, que lhe terão vendido informações que estavam em segredo de justiça sobre as investigações dos casos dos vouchers e dos e-mails.

Foi preciso chegarmos a este ponto para que a justiça conseguisse enfrentar/afrontar o poderoso Benfica. O Benfica das claques ilegais que contam com o apoio da estrutura, o Benfica que presenteia árbitros com vouchers e camisolas do clube, o Benfica que tem um presidente caloteiro que nos deve a todos qualquer coisa como 400 milhões de euros. Sim, eu sei que há muito quem esteja indignado com os métodos utilizados para acertar no porta-aviões. Mas serão eles mais graves ou condenáveis que aqueles que permitiram que as escutas do Apito Dourado saíssem da sala de provas da Polícia Judiciária?

O futebol, caras senhoras e senhores, está podre até ao tutano. Podre. E não tenho dúvidas que tudo o que sabemos, do Apito Dourado aos milhões desviados do BES por Álvaro Sobrinho, que injectou uma pipa de massa no Sporting, passando pelo caso do dia, são apenas a ponta de um gigantesco icebergue capaz de corar de vergonha alguns mafiosos profissionais. Precisamos de uma justiça forte e corajosa, capaz de limpar o entulho que se acumula fora das quatro linhas. E que nos deixem ver o futebol em paz.

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