por estatuadesal
(In Blog O Jumento, 01/03/2018)
Grafitti numa parede de Lisboa no tempo em que Marcelo era líder do PSD
Todos sabemos que Marcelo foi presidente do PSD ainda que para a história tenha ficado uma liderança falhada, uma saída com os cofres do partido vazios e sem recursos para pagar às secretárias que terão sido aumentadas de forma generosa na hora da despedida. Mas isso não significa que o partido fosse dele, era Marcelo que era do partido e não o partido que era dele.
Em Portugal já foram criados vários partidos que eram propriedades pessoais, o mais conhecido foi mesmo de um Presidente da República e da esposa. Ramalho Eanes não resistiu à tentação de ver o seu poder presidencial prolongado num partido e fundou o PRD. Com este regime híbrido a que designam por semipresidencialista há a tentação de o Presidente ambicionar mais poderes, não resistindo à tentação que o prestígio e a confiança no cargo lhe proporcionam.
Por várias ocasiões Marcelo Rebelo de Sousa já esticou o lençol para além dos limites dos seus poderes e não esconde a tentação de ser um líder do país juntando aos poderes presidenciais a capacidade de orientar toda a ação governativa. Usando o populismo Marcelo tem imposto ao governo sucessivas prioridades, em função das circunstâncias anormais que vão ocorrendo. Num dia é o pagamento da dívida no outro as florestas, de vez em quando são os sem abrigo ou uma qualquer outra causa.
Da mesma forma que aparece a ver os bispos, a quem gosta de beijar os rubis, como líderes espirituais da sua igreja, pastores de um rebanho a que ele pertence, parece que como Presidente se sente na missão de líder espiritual da nação e todos somos ovelhas do seu próprio rebanho. Todos os dias comenta os acontecimentos que vão ocorrendo, aproveitando para dar lições, explicações e orientações. Legionella, boletins clínicos, fogos, acidentes de avionetas, de tudo Marcelo percebe, em tudo se envolve, tudo serve para dar orientações urgentes ao governo.
A tentação de transformar o PSD na sua marioneta, fazendo deste o seu partido é grande e as idas de Rui Rio a Belém sugerem que em vez de ser o Presidente a chamar o líder do partido para o ouvir, já é o líder do partido que vai a Belém ouvir o Presidente. Pela forma como Rui Rio comenta estas idas e pelo ar dócil de Negrão no parlamento fica-se com a sensação de que o líder do PSD vai a Belém ouvir orientações, conselhos e sugestões.
Ao mesmo tempo, alguém de Belém, as tais fontes anónimas do Palácio que Marcelo assegurou que não se iriam ouvir, vão pedindo aos jornalistas para que escrevam que o Presidente não quer uma maioria absoluta. O mesmo Marcelo que em 2017 escreveu no site para elogiar as maiorias absolutas de Cavaco Silva, parece agora dividir para reinar, e descobriu que um Presidente tem mais poderes num país em crise do que num país que não precisa de homilias diárias.
Há um grande risco de Marcelo não resistir à tentação de converter o PSD no seu próprio PRD, usando os “favores” da comunicação social para usar Rui Rio nesta estratégia. Quem torto nasce tarde ou nunca se endireita e Marcelo sempre esteve na política com muita intriga à mistura.
Sem comentários:
Enviar um comentário