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quarta-feira, 28 de março de 2018

Os bancos são uma parceria público-privada

Publicado por António Fernando Nabais

Segundo parece, existe um arco da governação. Por vezes, chamam-lhe bloco central, que é uma maneira de dizer que a direita parece descaída, mesmo que nunca saia do sítio em que sempre esteve, um sítio em que se defendem privilégios e se atacam direitos. Com a interrupção dos primeiros tempos da revolução, aproveitando maiorias absolutas para dominar a democracia, a direita esteve muito pouco tempo fora do poder, mesmo que continue a fingir um complexo de calimero, queixando-se, por exemplo, de uma inexistente hegemonia da esquerda numa imprensa cujos donos têm nomes como Balsemão ou Luís Delgado.

O chamado arco da governação, desde que Mário Soares meteu o socialismo na gaveta, tem-se dedicado, graças a uma alternância que só o é na distribuição de tachos, a meter a mão nos cofres públicos para ajudar os amigos e/ou os patrões, numa parceria público-privada que, mesmo sem o ser na letra, sempre o foi no espírito. Basta ver que o discurso dos governos sempre pôs à frente de tudo as empresas, os empresários, o empreendedorismo, deixando os cidadãos ou a administração pública para os discursos dos feriados e nunca para o exercício governativo.

Sá-Carneiro, Mário Soares, Cavaco Silva, Guterres, Durão Barroso, Santana Lopes, Sócrates, Passos Coelho e António Costa, entre outros, com mais ou menos cosmética, pegam nas receitas do Estado e entregam-nas, servilmente, aos interesses privados, entre os quais se incluem os banqueiros. Sempre que o dinheiro acaba, culpam o peso da administração pública e chegam a bolçar mentiras sobre os que vivem da ajuda do Estado. Sempre que o dinheiro acaba, falam na necessidade de fazer “reformas estruturais”, um dos eufemismos que esconde o despedimento de trabalhadores ou a diminuição de salários ou o aumento de impostos.

Ao contrário do funcionário público ou do pensionista, parasitas ameaçados pelas “reformas estruturais”, o banqueiro é apresentado como um ser superior, pronto a ensinar tudo a todos, praticante do espírito empresarial, cume da evolução humana.

Pelos vistos, vai ser necessário dar dinheiro ao Novo Banco, que era a parte boa do Banco Espírito Santo. Descobriram por lá um prejuízo que, em princípio, e de acordo com a selecção natural defendida pelos liberalóides da governação, deveria conduzir, no mínimo, à ruína dos responsáveis. Em vez disso, servirá para aprofundar a ruína dos que não têm responsabilidade.

Na minha qualidade de professor congelado há vários anos, devido a estes e a muitos outros desmandos e depois de andar a contribuir para o pagamento de dívidas privadas assumidas por sucessivos governos, gostaria de deixar aqui um sentido “bardamerda”, que é das expressões mais suaves de que me consigo lembrar. Ai que horror, um professor a dizer palavrões em vez de dar o exemplo, como é que este país há-de ir para a frente! Pois: bardamerda!

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