Translate

domingo, 4 de março de 2018

Os subsídios

aventar_fb_header

Publicado por j. manuel cordeiro

A PAC é um gigantesco esquema para permitir que os agricultores vendam os produtos a preço inferior ao de produção.

Camomilas silvestres com campo de arroz ceifado ao fundo (c) JMC

Tomemos a produção de arroz como exemplo. Antes da chegada dos subsídios da então CEE, o Ti Manel vendia o arroz a 80 escudos. Sem contar com a inflação, seriam 40 cêntimos de euro agora. Entretanto, vieram “ajudas” à produção para compensar a baixa no preço a que o agricultor vendia o cereal e chegámos a um ponto em que o quilo de arroz se vende, à saída dos campos, entre 18 e 21 cêntimos. Nas proximidades da Figueira da Foz, onde vive o Ti Manel, os industriais do descasque compram o arroz aos agricultores e vendem-no sob marca própria nas grandes superfícies. Antes dos subsídios, estes empresários compravam o arroz a 40 cêntimos, o dobro de actualmente, sem que o preço ao consumidor tenha substancialmente mudado.O caminho do dinheiro começa com os contribuintes a pagarem impostos recolhidos pelo Estado e, depois, encaminhados para diversas causas nobres – e também para alimentar o lobby dos apoios, esse eufemismo para subsídios. A PAC, que só é possível com aos impostos dos estados membros, é, ao nível da União Europeia, um gigantesco esquema para permitir que os agricultores vendam os produtos a preço inferior ao de produção, mas ainda assim conseguindo manter-se à tona da água graças aos subsídios. Como o Ti Manel, que vendia arroz a 80 escudos, para agora apenas conseguir 20 cêntimos. A diferença acaba por ser distribuída pela cadeia que vai desde o industrial, que compra arroz mais barato,  até às cadeias de distribuição, que passam a ter acesso a um produto que podem vender com maior margem de lucro.

Ouve-se frequentemente que estes subsídios são apoios à agricultura, mas tal não corresponde à realidade. São uma transferência da riqueza de todos os cidadãos para uma pequena parte destes, que absorve os subsídios nas actividades de transformação e distribuição.

Sem comentários:

Enviar um comentário