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quarta-feira, 28 de março de 2018

Putin, Skripal e os bravos do pelotão ocidental

Publicado por João Mendes

VPTM

O incorruptível e imaculado mundo ocidental protagonizou ontem uma grande demonstração de bravura, decidindo retaliar contra a alegada-mas-quase-certa execução do ex-espião russo Sergei Skripal, a mando do Kremlin, em território britânico e com recurso a uma sofisticada arma química.

E o que fizeram os corajosos Estados que se alinharam com a posição britânica? Terão eles cortado relações comerciais com a ditadura putinista? Terão dado instruções para que as suas multinacionais cessassem actividades em solo russo, fazendo com que as principais marcas de luxo americanas e europeias perdessem um dos seus principais mercados? Terão eles cancelado toda a qualquer parceria entre as petrolíferas ocidentais e as estatais russas, sempre imunes a sanções ou outros diferendos políticos e geoestratégicos?

Nada disso. O que os bravos do pelotão ocidental fizeram foi dar ordem de expulsão a diplomatas russos em funções nos seus países. A todos os diplomatas russos? Não, só a alguns. Aliás, em alguns casos, apenas um ou dois diplomatas russos foram expulsos, tendo a maioria ficado na exacta mesma situação em que se encontrava antes de Moscovo alegadamente-mas-quase-de-certeza ter dado instruções para eliminar Skripal.

Paremos por momentos para aplaudir a bravura do bloco de indignados liderado pelo governo do Reino Unido, país onde vários oligarcas russos, entre outros representantes de regimes ditatoriais como os Emirados Árabes Unidos ou a China, investem milhões corruptos e manchados de sangue em clubes de futebol, para gáudio dos britânicos e da sua economia, sem que ninguém se importe muito com isso.

Feito que está o merecido aplauso, é tempo de mandar esta gente toda para o raio que os parta. Que é para não os mandar para o caralho ou para a puta que os pariu. Se estão assim tão revoltados e indignados com a patifaria do regime putinista, tratem então de desenvolver um par de tomates e tomem uma posição de força. Uma posição de força a sério, não esta palermice simbólica. Isto, claro, se as provas de que Skripal foi efectivamente assassinado pelo Kremlin tiverem mais substância do que, por exemplo, aquelas que garantiam a existência de armas de destruição maciça no Iraque. Porque se é para começar outro conflito, apenas para que as petrolíferas e as grandes empresas de construção ocidentais possam prosperar com a miséria dos outros, mais vale estar quieto, que para infernos na terra já nos chegam o Iraque, o Afeganistão e a Síria.

Só um governo muito canalha e despótico, de criaturas macabras e sem respeito por ninguém, é capaz de ordenar um homicídio em solo de um outro Estado soberano, ainda por cima com recurso a armas químicas. Já Estados como o próprio Reino Unido, que participaram na invasão de Estados soberanos como o Iraque, ao arrepio das leis internacionais e com base em pretextos criados artificialmente, da qual resultaram muitos milhares de mortos, feridos, desalojados e deslocados, com ondas de choque até aos dias de hoje e que, entre outras coisas, providenciaram solo fértil para a ascensão de organizações terroristas como o Daesh, são exemplos a seguir. Para quem gosta de comer gelados com a testa.

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