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segunda-feira, 30 de abril de 2018

A “MINHA” VERDADE (Sobre o Suicídio Voluntário)!

por estatuadesal

(Joaquim Vassalo Abreu, 30/04/2018)

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No passado fim de semana, mais propriamente de quinta a domingo, tive o prazer de estar em Paredes de Coura e assistir ao REALIZAR POESIA, evento que há três anos vem acontecendo nessa Vila Minhota à qual estou muitíssimo ligado (a minha Esposa era de lá e lá casei e vivi quase toda a época de oitenta).

É um fantástico evento dedicado às artes Poéticas, com Poesia nas ruas e nas Escolas, lançamento de livros, entrevistas, leituras e performances. Lá têm estado os nomes maiores da Poesia em Portugal, os melhores “diseurs” e figuras relevantes da nossa Cultura, sob o alto patrocínio do seu incontornável Presidente, o meu mui Amigo VITOR PAULO PEREIRA, e com a competente organização e programação do também meu mui Amigo ISAQUE FERREIRA, a quem eu apelido do “Sr. Poesia”!

E este ano, para além dos Escritores, dos Poetas e também de alguns “performers”, à semelhança dos anos anteriores, também houve espaço para a intervenção de personalidades ligadas a outras áreas mas, como a Poesia é Vida, ligados a essa mesma Vida! Foi o caso de Miguel Newton, dos Mata Ratos, de António Castro Caeiro e de David Pontes, falando da Poesia no Punk (Rui Reininho à última da hora não conseguiu comparecer), de Camané falando da Poesia no Fado, cantando mesmo e do Prof. EDUARDO PINTO DA COSTA, reconhecido Médico Legista, para falar da Poesia na Morte!

E falou, conversando com Francisco José Viegas, dando uma autêntica Aula, com uma clareza, uma simplicidade, uma sabedoria e uma ironia tais que conseguiu deixar toda a gente, para além de boca aberta, completamente extasiada! O Homem é mesmo um comunicador e um Cientista estratosférico!

A sua conferência, porque entrevista pouco foi, pois o Viegas quase se limitou a ouvir (acho que só lá foi ver o ambiente e a bola!), foi sobre um tema de sempre mas agora na agenda política: a apelidada de “Morte Clinicamente Assistida” ou, como ele prefere dizer, o “Suicídio Autorizado” ou “Suicídio Voluntário”. A chamada “Eutanásia”!

Lá do meio da assistência, depois dele ter afirmado ter apenas por uma vez participado num debate na TV, num Prós e Contras penso, e que não mais foi chamado porque a “Sua Verdade” era incómoda, eu perguntei-lhe : Qual é a “Sua” Verdade?

Ele não deve ter ouvido bem e terá percebido apenas “Qual é a Verdade”? E discorreu sobre o tema e, depois de explanar sobre diversas teorias, concentrou-se no tal “Suicídio Voluntário”.

O Suicídio Voluntário existe e, todos o sabemos, é um facto. Mas, ao contrário do que acontecia antigamente, em que o suicida não tinha direito a enterro e era entregue às aves e outros animais necrófilos para ser esfacelado e comido e via todos os seus bens confiscados pelo Estado, hoje é socialmente aceite. Isto é, não sendo o seu corpo profanado nem os seus bens extorquidos, permanece apenas como resultante de uma decisão individual e voluntária. E a Lei aceita-a assim mesmo: uma decisão voluntária e individual. E eu acrescento, com o meu maior respeito.

Mais tarde, já fora e no fim da sua explanação, abeirei-me dele e disse-lhe: Sr. Professor, eu perguntei-lhe não pela Verdade mas pela “Sua” Verdade. Ele respondeu-me muito solicitamente: Mas a “Minha” Verdade é aquela de que falei e assumi como minha! Agradeci, despedi-me e calei-me!

E fiquei a pensar: Mas, afinal quem manda na minha Vida? É um voto de um Deputado, como afirmou o Prof? Mas, afinal, se eu até já posso acabar com a minha Vida, porque razão não o poderei fazer em circunstâncias de sofrimento extremo e sem vontade de mais viver de um modo mais, direi, nobre? Porque deverei eu morrer abandonado num Hospital e não no seio da minha Família e do modo que eu definir? Porque deverei eu penalizar, sobrecarregar e fazer sofrer ainda mais a minha Família, e mesmo o erário público, quando já cá nada estou a fazer senão adiar o inevitável fim que, como também disse o Prof. Eduardo Pinto da Costa, faz parte da nossa mesma Vida? Porquê adiar esse fim sofrendo?

Estas são apenas algumas das perguntas essenciais que nenhuma qualquer comissão de Ética pode subvalorizar porque o que nisto deve prevalecer é a LIBERDADE INDIVIDUAL! O direito de fazer da minha vida o que eu entender desde que não prejudique ninguém! E não julgar a Liberdade dos outros…

O que se deve legislar é sim, e apenas, a Liberdade de inscrever a nossa vontade no Testamento Vital! Esta é a “minha” verdade!

Mas, não vou ser hipócrita, pode-nos ser muito difícil, pelos mais diversos motivos, fazer cumprir a decisão de um Familiar. Vai fazer no próximo dia onze de Maio um ano que a minha esposa Graciete partiu, depois de anos e anos de um processo doloroso e irreversível em que foi paulatinamente perdendo todos as suas capacidades normais e vitais. Mas, felizmente, manteve até quase ao fim o dom de, mesmo que a partir de certo momento de modos mais periclitantes, comunicar e expressar os seus sentimentos, sentimentos esses que davam para bem perceber o quanto agarrada à Vida estava, apesar do seu sofrimento, mitigado pelo acesso à Morfina , à Lidocaína e a todos os cuidados continuados sempre no nosso domicílio.

E foi para mim um enorme alívio, apesar dela ainda consciente da sua situação várias vezes me ter dito que não queria sofrer, não ter sido colocado nunca perante esse enorme dilema que era o de me perguntar “Que Faço”? Mas sempre disse que era em casa que queria estar e nunca num Hospital…

O mesmo também pensa outra figura ilustre da nossa Cultura e da nossa cidadania, o Dr. Francisco George, actual Presidente da Cruz Vermelha Portuguesa e anterior Director Nacional da Saúde Pública que, numa entrevista que há pouco tempo dele ouvi no Porto Canal dada ao Júlio Magalhães, tudo o que eu disse ele afirmou.

Entendo assim que, ao invés de uns quantos legislarem colocando um “sim” contra um “não” numa simples representação numérica, se deve perseguir um amplo consenso que, no fundo, apenas servirá para ratificar uma situação há muito existente e aceite: a do “SUICÍDIO VOLUNTÁRIO”!

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