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quinta-feira, 5 de abril de 2018

da rua dos fanqueiros

Novo artigo em BLASFÉMIAS


por rui a.

mw-86022

A transformação do regime político espanhol numa monarquia foi, há quarenta e três anos, o que salvou a Espanha de uma guerra civil e o que permitiu que ela se transformasse numa democracia, mantendo a integridade do seu território e a convivência (quase) pacífica dos espanhóis. Franco, que de tolo nada tinha, percebeu que o país só sobreviveria à sua ditadura se se transformasse profundamente, e que isso só se faria se algo completamente diferente sobreviesse à sua morte. O velho ditador sabia muito bem que nenhum poder meramente humano poderia suceder-lhe sem convulsões e, por isso, inventou um poder simbólico e neutro - o rei -, tendo sido em torno desse símbolo que se conseguiu conter os sectores mais radicais da sociedade espanhola e fazer abortar o golpe do 23-F.

Hoje, perante as ameaças que a Espanha atravessa, que não são mais fáceis do que as de há quarenta anos, substituído o velho e astuto Juan Carlos por uma espécie de manequim de uma loja de roupa da Rua dos Fanqueiros casado com uma «Conchita» da «Hola!», só algo de muito diferente daquilo a que estamos a assistir poderá salvar, uma vez mais, a Espanha. Por mim, não tenho dúvidas: mandar os Bourbons de volta à vida civil e implantar a república. Uma república federal que redefina o sistema político e as relações entre as partes com Madrid, e que seja capaz de harmonizar as muitas divergências daquela gente, procurando mantê-la unida nas próximas décadas. Com uma monarquia que se tem vindo a gastar a si mesma e a destruir o seu património simbólico, que é o que torna úteis as monarquias democráticas, as coisas não correrão bem.

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