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quarta-feira, 11 de abril de 2018

Ladrões de Bicicletas


E não há medo de continuar no euro?

Posted: 10 Apr 2018 06:46 PM PDT

"Passaram 11 anos desde o começo da última crise e é apenas uma questão de tempo para que tenhamos uma nova crise - como tem sido a regra nas modernas economias capitalistas pelo menos desde 1825. Quando isso acontecer, teremos a margem de manobra monetária e orçamental para a enfrentar, impedindo uma queda do produto por um longo período? O actual ambiente político não inspira grande esperança."
Quem diz isto é um muito respeitado professor de economia convencional com alguma inclinação keynesiana. Um 'liberal' americano. Se está pessimista quanto aos EUA, um país com moeda soberana que paga as importações com a própria moeda, governado por alucinados, é certo, então como será na UE?
A resposta é simples: muito pior que nos EUA.
A zona euro já esgotou a margem de manobra da política monetária e continua aquém do nível anterior à crise, pelo menos na periferia. As ideias ordoliberais impedem o BCE de fazer algo que os EUA e muitos outros países fazem, financiar os défices contracíclicos do orçamento do estado. Por isso, não há política orçamental na zona euro. O Tratado Orçamental não dá margem de manobra para uma política orçamental digna desse nome.
O "projecto europeu" é este: atar os governos de pés e mãos para que as escolhas democráticas, designadamente quanto ao orçamento, não sejam possíveis, ao mesmo tempo que uma política orçamental supra-nacional também é impossível porque não há um povo e um estado europeu que validem politicamente a existência de transferências correntes e de investimento como as que fazemos em Portugal para o interior do país e para as regiões autónomas.
Em suma, se agora há crianças a fazer quimioterapia nos corredores, e saem do bloco operatório para se cruzarem com o caixote do lixo no elevador, ... o que mais irão pedir os especuladores financeiros, na crise que aí vem, para manter a "confiança" na nossa economia?
Os que têm medo de sair do euro deviam ter muito mais medo de continuar no euro.

Centeno já cá não está

Posted: 11 Apr 2018 01:59 AM PDT

Centeno vai amanhã ao Parlamento ser fustigado por causa da situação do Serviço Nacional de Saúde, mas na verdade já cá não está.

"Podemos querer procurar mais indicadores para o trabalho que tem vindo a ser feito, mas nada é mais positivo para os portugueses do que a colossal redução do pagamento de juros."

Esta frase não foi dita por qualquer porta-voz da Comissão Europeia ou do FMI, mas vem inserta no mais recente artigo de Mário Centeno. O artigo gerou polémica pela alteração do quadro orçamental para 2018 acordado com o Bloco e o PCP, mas não pelo que ele representa. 
Primeiro, a completa ausência de hierarquização de políticas públicas. O que importa é ter Finanças sãs, os objectivos gerais da vida da sociedade ficam adiados. E pior: são vítimas de degradação acumulada ao longo de anos e anos de subfinanciamento, como se vê no SNS. Escusado será lembrar os efeitos que teve uma lógica assim, quando aplicada por Salazar.
Segundo, e mais politicamente, trata-se de um discurso de autonomização de Centeno face ao Governo, quase uma provocação vaidosa, uma intenção de romper acordos parlamentares e de arranjar - por sua conta e risco - uma agenda eleitoral à pressa. Mote: a consolidação orçamental é tudo (e é como eu a faço), o resto vem por arrasto e logo se vê.
É verdade que Centeno não está sozinho: o Governo tem tentado mostrar que é possível respeitar o Tratado Orçamental - e o enquadramento legal herdado da direita - e ter uma política de esquerda. Nomeadamente no emprego. Mas isso leva-o a ter discursos contraditórios. O Governo já oscila estranhamente entre valorizar a necessidade de um combate à precariedade do emprego e afirmar que o novo emprego é um emprego de qualidade, com 75% de contratos permanentes. Ao abordar en passant aquilo que o BE e o PCP vêm alertando, Centeno dá-lhes razão, embora rematando que nada disso interessa.
Aliás, Centeno sempre foi um defensor do contrato único de trabalho (fim da distinção entre contratos a prazo e sem prazo), o que, apesar de omitido, representaria uma harmonização por baixo de todos os contratos de trabalho. Algo que não está muito longe do que se vive actualmente.
Terceiro, as palavras definem um pensamento. E Centeno diferencia-se de Passos Coelho porque é mais bem preparado, mais conhecedor e mais inteligente. Mas a trama de leitura é semelhante: a estabilidade das contas orçamentais - ou seja, o Estado - está no cerne dos problemas do país (e não das soluções). Ora, todo este quadro de pensamento encerra um programa: é possível ter melhor Estado com menos Estado, omitindo que menos Estado acabará, por força do colapso, por representar pior Estado. Ou aquilo que Marcelo e o CDS insistem em mostrar: "O Estado falhou" (e não "as políticas de austeridade falharam"). Ou seja, é mais uma vez, embora numa dosagem diferente, a velha ideia fenixiana de António Borges que do colapso virá a luz. Um orçamento equilibrado produzirá necessariamente uma economia sã. Porque o Estado faz mal à economia.
Claro que as finanças públicas devem ser sustentáveis. Mas nunca poderão ser um objectivo por si apenas.
Por tudo isto, parece que Centeno já está a discursar para fora. Centeno está a mostrar aquilo que Varoufakis mostrou ser a lógica do actual sistema: ele quer ser um político insider - aqueles que estão no centro da definição das políticas e que têm um trato para nunca denunciar os seus colegas insiders. E ele quer ser um insider, não porque seja um outsider que quer convencer os insiders (como Varoufakis), mas porque ele já pensa como um insider. E quer dizer-lo a quem de direito, aos outros insiders. No fundo, Centeno já cá não está.
E - como era previsível desde que se tornou Ronaldo - está a avisar-nos que vai ser preciso amochar e tornar Portugal num estranho país na costa da Europa onde as pessoas vêm a banhos. 

Futebol

Posted: 11 Apr 2018 01:47 AM PDT

Para todos vocês, que estão submergidos num noticiário monolítico que acompanha mais a crise do Sporting do que a crise no Brasil ou a crise da moeda única que nos arrasta para o esgoto da opacidade da decisão política (vidé livro de Varoufakis "Comportem-se como adultos") ou a crise da democracia na Europa, aqui deixo uma música e a polémica. Como foi que o jogador Fio Maravilha (João Batista Sales) achou que o Jorge Ben tinha querido abusar da sua figura - quando compôs uma música sobre o golo que ele marcou pelo Flamengo ao Benfica -, a ponto de o forçar a mudar o título da canção para "Filho Maravilha" ? O futebol tem destas coisas...
A todos os que gostariam de ser percorridos por um som vibrante que vos levasse às lágrimas.

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