Publicado por Ricardo Ferreira Pinto
Não sei se houve ou não dinheiro envolvido naquilo que o árbitro Luís Godinho fez no Sábado durante os 90 minutos do Setúbal – Benfica. Suponho que não. Pelos mails, percebemos que esse não é o “modus operandi” do Benfica. Ou, pelo menos, não é o principal.
O esquema é tão simples que corre por si próprio sem que sejam necessários contactos entre as partes.
O Conselho de Arbitragem é apoiado pelo Benfica e dele depende para se manter no cargo – dele fazem parte José Fontelas Gomes, que pelos mails sabemos que tinha um camarote privativo no Estádio da Luz nos tempos da APAF; e João Ferreira, o tal que «pode ser» numa das escutas que a equipa do Apito Dourado decidiu ignorar – Luís Filipe Vieira negociava então, com Valentim Loureiro, a escolha do árbitro para um jogo do Benfica.
Sabendo que está nas mãos do Benfica, que por sua vez tem nas suas mãos um conjunto alargado de clubes, conseguidos através de diversas prebendas (do empréstimo de jogadores ao pagamento de verbas avultadas pelo direito de opção de um jogador «a escolher» e que nunca chega a ser exercida), o Conselho de Arbitragem faz as nomeações dos árbitros que mais interessam ao clube. Era assim no tempo de Vítor Pereira e nada mudou com Fontelas Gomes.
Neste processo, têm um papel fulcral os classificadores de árbitros e, entre eles, o seu responsável máximo. Até há dois anos, era Ferreira Nunes, aka Franck Vargas, a quem o Benfica pagou pareceres jurídicos, bilhetes e noites em hotéis. Hoje em dia, deve ser um outro Ferreira Nunes qualquer.
Os árbitros sabem que, se quiserem ter uma boa nota dos seus classificadores, têm de favorecer o Benfica. Melhores notas são o garante de nomeações para mais jogos, logo, mais dinheiro.
Não por acaso, Luís Godinho é o líder das nomeações nesta temporada. Um dos internacionais-proveta do tempo de Vítor Pereira, que na época passada foi contra um jogador do FC Porto, Danilo Pereira, e expulsou-o por causa disso, num episódio anedótico que correu toda a Europa. Aliás, nesse jogo em que era preciso arrumar o FC Porto da Taça da Liga, conseguiu-o: expulsou Danilo e Brahimi e roubou um penalty descarado.
A recompensa pelo bom trabalho que tem feito aí está. Na presente época, foi nomeado para mais jogos do que todos os seus colegas. Entre eles, três jogos do Benfica, dos quais os dois contra o Setúbal. Jornada de pré-clássico é jornada de Godinho – Fontelas Gomes sabe-a toda.
Nestas duas últimas semanas, foi o que se viu: arredou definitivamente o Sporting da corrida para o título e manteve o Benfica em primeiro lugar com a pouca-vergonha do Bonfim.
Luís Godinho chegou a Setúbal com a lição bem estudada. Sabia que Jardel e Fejsa não podiam ter cartão amarelo, caso contrário não jogariam contra o FC Porto. Nem que tirassem olhos, não iriam levar cartão amarelo. E não levaram, mesmo que tivesse havido razões mais do que suficientes. Da mesma forma que Rúben Dias não foi expulso como devia ter sido – até, pasme-se!, o sectário Duarte Gomes o disse.
O penalty inventado aos 90 minutos foi apenas a cereja no topo do bolo. Alguém acredita que ele marcaria aquela falta se fosse na grande área do Benfica? Ou numa grande área qualquer de um adversário do FC Porto? Em Outubro, por exemplo, no Benfica – Feirense, que acabou 1-0, não marcou um penalty contra o Benfica muito mais flagrante do que o de Setúbal.
Não marcou e nunca marcaria, porque conhece as regras do jogo. Da mesma forma que as conhece Rui Costa, aquele a quem «temos de dar cabo da nota», quando também aos 90 minutos não marcou um penalty escandaloso a favor do FC Porto na Vila das Aves. Um dos 15 penaltys roubados nete campeonato ao FC Porto, como confirmaram Rui Santos e José Manuel Freitas, que são tudo menos portistas.
Corrupção é isto. Marcar-se a favor de uns o que não se marca a favor de outros. Luís Godinho sabia que devia dar cartões, mas não o fez porque prejudicava os interesses do Benfica no próximo jogo. Sabia que não era penalty, mas marcou para dar a vitória ao Benfica. Não recebeu certamente dinheiro por isso, mas vai dar ao mesmo. Deu cabo da verdade desportiva, mas a sua carreira vai de vento em popa.
Aos 32 anos, é hoje o mais digno sucessor de Bruno Paixão. esse árbitro que tem espalhado magia pelos relvados portugueses desde os tempos de Campo Maior. Quanto a Luís Godinho, é o futuro da arbitragem portuguesa. Vão ser mais 13 anos disto…
Ao contrário do Fernando Nabais, tenho a certeza de que a corrupção existe e dá títulos. No final, muitas vezes, não ganha o que jogou melhor, ganha o que corrompeu mais. Os benfiquistas sabem disso e a prova de que sabem é que, mal são acusados de corrupção, vêm logo com a conversa do Apito Dourado.
Reparem: os mesmos que acham mal o FC Porto ter pago putas a árbitros são os mesmos que não vêem mal nenhum no facto de o Benfica ter pago vouchers, bilhetes, pareceres jurídicos e noites em hotéis ao chefe classificador dos árbitros.
Sei o que o FC Porto andou a fazer nos anos 90 e sei o que andou a fazer durante o Apito Dourado. Não só não me agrada como me incomoda – cheguei a ter vergonha da forma como alguns jogos foram ganhos nos anos 90. Mas também sei o que o Benfica tem andado a fazer desde 1935.
E ao contrário de mim, não vejo nenhum benfiquista incomodado com a forma como ganhou em Setúbal e como ganhou este campeonato (sim, impossível não ganhar, o sistema não permitiria um desfecho diferente). Nem vejo nenhum benfiquista incomodado pela forma como ganhou o campeonato da época 2014/2015. Para esses, existe o Apito Dourado e existem os anos 90. O resto é um mar de rosas e de gente impoluta. Os portistas são corruptos, os benfiquistas são sérios.
Nota: Peço desculpa por ter chamado corruptos aos 6 milhões de benfiquistas. Afinal, parece que são só 2,4 milhões.
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