2/4/2018, 19:25
PSD ruma ao Porto para o primeiro Conselho Nacional da era Rio. O líder do partido não tem maioria. Dois dos nomes de listas opostas não vão. Conselho Estratégico tem luz verde para ser anunciado.
JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR
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Quando, na reunião da última quarta-feira com os representantes das várias distritais do partido, Rui Rio foi questionado sobre a estratégia política que estava a seguir na oposição, foi curto e tranquilizador: limitou-se a dizer que “sabia o que estava a fazer” e qual “o caminho a seguir”. Segundo relatos feitos nessa altura ao Observador por membros das distritais presentes na reunião, a hora já ia avançada e, depois de quase quatro horas a explicar o modelo de funcionamento do Conselho Estratégico Nacional, Rio preferiu não abrir uma nova discussão. Caso contrário, a noite não acabaria tão cedo — e já era 1h da manhã. “Havendo um Conselho Nacional daqui a dois ou três dias não está tudo perdido, se no Conselho Nacional não houver discussão da estratégia política é que é mais problemático”, dizia ao Observador um dos presidentes distritais, que põe as fichas todas na reunião desta terça-feira à noite num hotel do Porto. É desta que se vai discutir a estratégia do PSD?
É que, um mês e meio depois do congresso, o Conselho Nacional desta terça-feira à noite vai ser o primeiro momento de “análise da situação política” desde que os órgãos nacionais do partido foram eleitos. E, sem maioria naquele organismo, já que a lista de Rio encabeçada por Santana Lopes elegeu 34 dos 70 membros, a expectativa é de que haja finalmente discussão política sobre a estratégia a seguir para o ano eleitoral de 2019. Ao que o Observador apurou, contudo, dois dos nomes que estavam nos primeiros lugares de listas alternativas à lista de Rio ao Conselho Nacional não vão sequer estar presentes na reunião — em parte por ser no Porto.
É o caso de Sérgio Azevedo, que fazia parte da lista de Carlos Reis que elegeu 13 conselheiros, que não vai ao Porto por causa das “comissões parlamentares de quarta-feira de manhã”, ou o caso de Bruno Vitorino, cuja lista elegeu 9 conselheiros, e que também não deverá conseguir marcar presença por causa do trabalho parlamentar: vai substituir o coordenador do PSD na comissão de Defesa que reúne no Parlamento na terça-feira ao final da tarde, explicou ao Observador. Já o ex-deputado Luís Rodrigues, que apresenta habitualmente uma lista ao Conselho Nacional de forma a ser eleito, vai estar na reunião e espera “ouvir primeiro”, antes de falar, sobretudo para perceber “o que é que se entende por aproximação ao PS”.
“As coisas não estão aparentemente a correr bem, e o PS tem conseguido gerir bem as questões políticas, por isso o PSD tem tido mais dificuldade em afirmar-se”, diz Luís Rodrigues ao Observador, sublinhando que a expectativa para o Conselho Nacional é de que o presidente do partido “explique” qual a estratégia a seguir e esclareça algumas questões, como “o porquê de o PSD ter aprovado da forma como aprovou a polémica lei do financiamento dos partidos” e a questão da “suposta aproximação ao PS”. “É preciso ver o que se entende por aproximação ao PS”, diz. Além dos 70 conselheiros eleitos no congresso, têm também assento no Conselho Nacional, por inerência mas sem direito de voto, os deputados à Assembleia da República — onde Rui Rio tem um dos maiores braços de oposição interna. Hugo Soares, o ex-líder parlamentar que Rui Rio substituiu por Fernando Negrão, vai estar presente na reunião, mas não adiantou ao Observador o que vai dizer aos conselheiros e à direção do partido.
De acordo com a convocatória, o primeiro ponto da agenda é a eleição do secretário-geral do partido, José Silvano, na sequência da demissão de Feliciano Barreiras Duarte, e o segundo ponto é “análise da situação política”. Segundo várias fontes contactadas pelo Observador, a eleição de José Silvano, cujo nome já foi ratificado pela Comissão Política Nacional na passada quarta-feira, tem tudo para ser pacífica, não devendo repetir-se o que aconteceu com Fernando Negrão, que foi eleito líder da bancada parlamentar com apenas 39% dos votos. Dizem os estatutos que a votação vai ser por voto secreto, mas, havendo apenas um candidato, o boletim não permitirá votos contra, apenas brancos ou nulos. Foi o que aconteceu com Negrão, que acabaria por justificar a “vitória” com o argumento de que os votos brancos são de “benefício da dúvida”, pelo que devem ser contabilizados como sendo a favor. Desta vez, contudo, todos concordam que o cenário não se vai repetir: “José Silvano não tem anti-corpos”, pelo que não terá problemas em ser eleito.
Ao Observador, o conselheiro nacional Telmo Faria, que entrou na lista de Rio na quota de Santana Lopes (foi o coordenador do seu programa nas diretas), dizia que a eleição de José Silvano irá ser apenas uma “ratificação”, já que o nome do secretário-geral é uma escolha do presidente do partido, a quem o Conselho Nacional deve dar “o benefício da dúvida e um voto de confiança”. Mais do que uma questão ad hominem, Telmo Faria dizia que o foco do Conselho Nacional devia ser outro: a situação política em geral e a estratégica que o PSD está a levar a cabo neste primeiro mês de Rui Rio à frente do partido.
Nomes escolhidos. Conselho Estratégico Nacional vai ter “leque qualificado de gente nova”
Nos últimos dias, vários têm sido os nomes anunciados pela comunicação social como os próximos coordenadores do Conselho Estratégico Nacional (CEN) — organismo reativado pela direção de Rui Rio que terá coordenadores e porta-vozes para 16 áreas sectoriais com o objetivo de construir o programa eleitoral do PSD. Ao Observador, David Justino, que vai presidir ao CEN, afirma que os nomes estão fechados e que deverão ser anunciados “numa apresentação pública” fora do Conselho Nacional — para não serem ofuscados por outros temas.
“É um leque qualificado de gente nova, por isso merece que seja dado algum relevo à divulgação dos nomes”, diz, não desmentindo os nomes que foram saindo para a imprensa, como Álvaro Almeida para as Finanças Públicas, Álvaro Amaro para a Reforma do Estado, Arlindo Cunha para a Agricultura, Luís Filipe Pereira para a Saúde, Silva Peneda para a Solidariedade e bem-estar, ou Matos Correia para a Administração Interna. Segundo David Justino, “depois de ter sido aprovado o modelo, na comissão política nacional e na reunião com as distritais na quarta-feira, o dossiê dos nomes está nas mãos do presidente do partido”. Logo, cabe a Rui Rio fazer a divulgação. “A ideia é não haver uma abordagem diferenciada, em que uns parecem mais importantes do que outros, por isso devem ser todos anunciados de uma vez”, disse.
Ou seja, está tudo pronto para ser oficializado. Uma fonte ouvida pelo Observador adianta que o Conselho Nacional seria o momento certo para Rio anunciar os nomes ao partido (16 coordenadores mais os respetivos porta-vozes), uma vez que já foram “cumpridas todas as formalidades”, depois de Rio ter explicado o funcionamento do CEN à comissão política nacional e aos presidentes das distritais do partido, na semana passada. “Para não se perder tempo, e não se perder o barco, faz sentido que anuncie a equipa toda já amanhã”, diz. O momento do anúncio, contudo, deverá ficar para depois do Conselho Nacional, para, segundo David Justino, ter mais relevo mediático.
De acordo com o vice-presidente do PSD que vai coordenar aquele organismo, a escolha dos nomes “não foi difícil”. “Difícil foi escolher a pessoa certa para o lugar certo”, diz ao Observador, explicando que a ideia era aliar uma pessoa com mais “experiência governativa e de coordenação de equipas”, que será o coordenador, com outra com “vontade e conhecimento na área, mas menos peso”, que será o porta-voz. Nem todas as áreas sectoriais, contudo, terão uma dupla, sendo que algumas vão funcionar apenas com um coordenador (que faz as vezes de porta-voz). “Se calhar não conseguimos em todas as áreas, mas na maior parte conseguimos lançar gente nova”, explica Justino.
O trabalho do CEN vai ser articulado com o grupo parlamentar através do líder parlamentar e do vice António Leitão Amaro, que vão trabalhar diretamente com David Justino. Além desta articulação de topo, haverá ainda “um ou dois deputados” a coordenar cada área temática — que vão trabalhar em articulação com os coordenadores nacionais. David Justino explica ainda ao Observador que outro dos objetivos de Rui Rio é “descentralizar”, pelo que “várias secções nacionais vão funcionar fora de Lisboa”. O Conselho Nacional desta terça-feira à noite será também o momento de explicar ao partido o funcionamento do novo organismo que vai ter a tarefa de preparar o programa eleitoral do PSD para 2019.
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