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segunda-feira, 9 de abril de 2018

Vive la France insoumise!

Ladrões de Bicicletas


Posted: 08 Apr 2018 12:27 PM PDT

Do Financial Times – “uma vitória de Macron ressoará por toda a Europa” – à The Economist – “a reforma dos caminhos-de-ferro é só uma parte de um esforço maior para reformatar o Estado Providência” –, a persistente atenção da imprensa financeira britânica às lutas de classes do outro lado da Mancha ajuda a compreender bem a natureza do programa da grande esperança do europeísmo, incluindo de certa esquerda, a que já perdeu todas as referências e todas as razões de ser.
A história repete-se desde os anos oitenta: trata-se de estilhaçar os grandes focos de organização e resistência laboral para fazer avançar o programa de neoliberalização, de resto inscrito na lógica da integração europeia realmente existente. Os serviços públicos são sacrificados no altar da abertura de novos sectores ao capital, com os resultados negativos que se conhecem.
Uma parte maioritária da opinião pública francesa, que compreende o que está em causa, apesar da barragem mediática, apoia por isso a resistência dos ferroviários franceses e o seu movimento grevista, que pode bem estar a alastrar. Esconjurar o espectro de 1995, o recuo perante grandes mobilizações, está presente nas câmaras de eco dos interesses dominantes.
Entretanto, e como sublinha Jacques Sapir, as reformas de Macron para os caminhos-de-ferro não podem ser compreendidas sem as directivas europeias tendentes a liberalizar este sector, aprofundando a lógica perversa do mercado único. Por isso, tem razão quando diz que este movimento grevista é objectivamente também um movimento contra a União Europeia.
No fundo, as coisas estão ligadas: uma vitória de Macron é uma vitória da UE realmente existente, com impacto negativo fora de França; uma derrota de Macron é uma derrota da lógica neoliberal inerente à integração, com impacto positivo fora de França. É por estas e por muitas outras que as esquerdas que querem contar só podem ser tão anti-liberais quanto eurocépticas.
Como já aqui argumentei, precisamos sempre de uma França insubmissa.

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