Opinião
Hoje às 00:01
Estamos sempre a falar de um sofrimento inatacável. Que não se combate, não se desloca para sinais intermitentes ou zonas de maior conforto. Está para além da bondade caridosa ou da complacência. Estamos a falar de amor. Direito em vida para terminar com ela perante um sofrimento atroz. A dignidade não pode estar na mão de ditames de fé ou de má-fé, nem de ímpios da consciência alheia que sistematicamente agitam a bandeira da liberalização da morte para diabolizar a eutanásia. Evitar a agonia é propriedade íntima, intransmissível, exaltação maior do mais fundamental princípio da democracia: decidir em liberdade, nomeadamente quando só nós estamos em causa. Falhamos com estrondo a nossa vocação primordial se não nos derem o direito de sobreviver a nós mesmos.
Como, quando e onde queremos morrer em caso de sofrimento inútil. "A quem pertence a minha vida?", pergunta o "Movimento cívico para a despenalização da morte assistida". Compete a cada parlamentar, com ou sem liberdade de voto, rotinar intimamente a questão, decidir pela amplitude e acordar sem o mandato para se substituir à liberdade na vida dos outros mesmo quando a liberdade rondar a hora da morte. Não despenalizar a eutanásia com a ajuda de um profissional de saúde, não permitir libertar quem sofre em calvário indigno ou no inferno em vida, seria um crime em democracia que só uma casa sem espíritos poderia perpetrar.
O autor escreve segundo a antiga ortografia
MÚSICO E JURISTA
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